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Mensagens apontam que advogado pode ser o 'anjo' que ocultava Queiroz

Segundo investigadores, a identidade por trás do codinome 'Anjo' é de Frederick Wassef, dono do imóvel em Atibaia onde Queiroz foi preso

 (Cristiano Mariz/Abril)

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FS

Fabiane Stefano

Publicado em 21 de junho de 2020 às 16h19.

Última atualização em 21 de junho de 2020 às 16h34.

Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha tentado minimizar a prisão de Fabrício Queiroz, declarando que o antigo funcionário de seu filho '01' não estava foragido e que a captura foi 'espetaculosa', os promotores do Ministério Público do Rio, que tocam as investigações, afirmam que paradeiro do ex-assessor era desconhecido das autoridades desde que ele recebeu alta após passar por uma cirurgia em São Paulo, no início de 2019.

Depois disso, Queiroz não compareceu aos depoimentos marcados e, obedecendo a alguém a quem os investigadores conhecem apenas como 'Anjo', se manteve escondido em Atibaia, no interior de São Paulo, em um imóvel do advogado criminalista Frederick Wassef, que defende Flávio no caso das 'rachadinhas' e se autodeclara 'consultor jurídico' do Planalto. O endereço é atribuído ao escritório de advocacia de Wassef, mas em nada parece uma unidade profissional. Para os investigadores, a casa era usada como 'refúgio' secreto de Queiroz.

Embora a identidade por trás do codinome 'Anjo' ainda não tenha sido revelada, as mensagens obtidas e a titularidade na propriedade do imóvel indicam que pode se tratar de Wassef, segundo os investigadores.

Sempre veemente na defesa do senador Flávio Bolsonaro, o advogado 'sumiu' desde a manhã de quinta-feira, 18, quando Queiroz foi capturado. A reportagem do Estadão o tem procurado insistentemente, sem sucesso. Wassef, que normalmente é receptivo com a imprensa e não se esquiva de indagações sobre o caso, não atendeu o celular nem emitiu nota de esclarecimento após a prisão do ex-PM.

A descrição de 'Anjo' feita pelos investigadores é de uma pessoa com 'notório poder de mando' que articulava a rotina de ocultação do paradeiro do ex-assessor e dava uma série de ordens a ele e a sua família. Entre elas, restrições de movimentação e comunicação.

Em troca, os promotores suspeitam que a família Queiroz tenha recebido pelo menos R$ 174 mil. Parte do pagamento de origem desconhecida (R$133,5 mil) foi usada pela mulher do ex-assessor, Márcia Aguiar, para cobrir as despesas médicas da cirurgia no Hospital Israelita Albert Einstein.

"Se por um lado Fabrício Queiroz podia contar com o auxílio de terceiros que lhe proporcionavam um confortável esconderijo e a entrega de valores em espécie, por outro lado teve de se submeter a restrições em sua movimentação e em suas comunicações tendo seu paradeiro monitorado por terceira pessoa, que se reportava a um superior hierárquico referido como Anjo", escreveram os promotores.

Em mensagens de Whatsapp obtidas pelo Ministério Público, a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar pede que a filha avise a uma mulher chamada Ana que o casal estava a caminho de São Paulo para que ela não comentasse com 'Anjo'. Ana responde: "pode ficar tranquila que não falo nada não". O filho de Queiroz também chegou a enviar áudio dizendo que Ana não teria comentado com Anjo acerca da viagem. Em seguida, ele diz: "se ele questionar alguma coisa, vocês falam que foi agora [depois que Ana viajou]".

Os investigadores afirmam ainda que Queiroz desligava os celulares antes de chegar à Atibaia a fim de evitar monitoramento das autoridades policiais. Em áudios de WhatsApp, Queiroz diz a uma amigo: "a gente vai ter que desligar o telefone, daqui a pouco a gente vai entrar na nossa área" e completa que "se tiver alguma coisa pra falar, fala por aqui [telefone da Márcia] ou por aquele telefone que tá com minha filha, tá bom? Quando eu entro na cidade em que eu tô, eu desligo os telefones".

Em novembro de 2019, ao supor que o julgamento do Supremo Tribunal Federal autorizaria o uso de relatórios do Coaf em processos criminais, 'Anjo' manifestou intenção de esconder toda a família de Queiroz em São Paulo temendo que as investigações sobre a suposta 'rachadinha' pudessem andar. Conversas do casal mostram que Márcia achou a hipótese 'exagerada'. Para ela, deixar o Rio de Janeiro só seria razoável se estivessem com a prisão decretada, o que ela disse ser 'impossível'. Na terça-feira, 16, a prisão do casal foi autorizada, mas Márcia está foragida.

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