Presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, chega a sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de outubro de 2017 às 18h54.
Genebra - O Comitê Olímpico Internacional (COI) rejeita qualquer negociação neste momento para resgatar o Comitê Organizador dos Jogos do Rio-2016 que deixou dívidas avaliadas em R$ 132 milhões. A entidade com sede na Suíça suspendeu qualquer repasse e indicou que poderá suspender o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman. Mas, nos bastidores, o clima é de tensão. O temor é de que o brasileiro opte por cooperar com a Justiça do Brasil e da França, o que poderia complicar a situação de diversos membros da "família olímpica".
O Rio-2016 foi o primeira a deixar um déficit entre os organizadores, algo que nem Atenas em 2004 gerou. A esperança de Nuzman era a de convencer o COI a arcar com esse déficit e ajudar a pagar os fornecedores que estão há mais de um ano sem receber. Em junho, em Lausanne, o COI rejeitou as contas apresentadas pelo brasileiro e deixou claro que não iria fazer novos pagamentos.
Nuzman ainda tinha esperanças de reverter o quadro e reuniões tinham sido organizadas para o encontro do COI em Lima, no Peru. Mas o passaporte do brasileiro foi retido antes. Agora, sua prisão modifica de forma dramática a situação. Advogados consultados pelo Estado indicam que o COI não poderá repassar recursos neste momento para uma entidade presidida por alguém detido.
Procurado pelo Estado, o COI indicou que já "pagou muito" e que destinou ao Rio US$ 1,5 bilhão em ajuda. Questionada o que ocorreria com a dívida do evento depois da prisão do brasileiro, a entidade apenas respondeu: "isso é algo que terá de ser perguntando ao Comitê Rio-2016".
Mas a prisão de Nuzman cria um problema ao COI que vai muito além das contas. Desde o início do processo, há um mês, a entidade tem se mantido em silêncio sobre o caso e se recusou a suspender o brasileiro, alegando que precisa respeitar a "presunção de inocência".
Dick Pound, um dos mais antigos membros do COI, é um dos poucos a cobrar uma resposta da entidade. Entre os demais delegados, a ordem é a do silêncio. Mas, mesmo diante da prisão, a entidade apenas indicou que poderá tomar "medidas" contra o brasileiro e que investigações estavam em andamento.
A cautela, segundo o Estado apurou, é para saber até que ponto Nuzman poderia ir em uma delação explicar eventualmente quem recebeu dinheiro dentro do COI. Por anos, o presidente do COI, Thomas Bach, chamou Nuzman de "grande amigo" e fontes em Lausanne garantem que membros da entidade tem buscado informações sobre o destino do brasileiro.
A suspeita do MP do Brasil e da França é de que Nuzman tenha sido o intermediário na compra de votos para sediar a Olimpíada. Se ele, portanto, der os nomes de quem foi beneficiado, o COI poderia viver um novo terremoto político.
À reportagem, uma das testemunhas do processo, o brasileiro Eric Maleson, garante o esquema do Rio-2016 foi maior que o de Salt Lake City, Jogos de Inverno de 2002, e que foi marcado pela compra de votos.
Num comunicado emitido nesta quinta-feira, o COI apenas indicou que sua Comissão de Ética já iniciou investigações sobre o brasileiro. Entre as medidas sob consideração está sua suspensão, o que o minaria sua capacidade de também de manter seu cargo como presidente do COB.
"O COI toma nota da prisão de Carlos Nuzman, membro de honra do COI", disse a entidade. "O chefe de Ética e de Compliance do COI pediu às autoridades brasileiras por todas as informações para proceder com as investigações dentro do COI", indicou a instituição com sede na Suíça.O COI, oferecendo "toda sua cooperação", informou que "começou investigações imediatamente depois que alegações foram feitas" sobre Nuzman. "As investigações estão em curso", explicou a entidade.
"Dados os novos fatos, a Comissão de Ética do COI pode considerar medidas provisórias, enquanto respeita o direito de Nuzman de ser ouvido", disse. Reiterando a presunção de inocência do brasileiro, o COI indicou que não comentará mais sobre o assunto enquanto uma decisão não seja feita.