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Mello, da OIT: Mudança sobre escravidão precisava ser discutida

O governo federal alterou o conceito de trabalho escravo os critérios de divulgação da lista suja nesta semana

Mello: "O Brasil é referência no combate ao trabalho escravo desde 1995"
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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2017 às 15h50.

Última atualização em 20 de outubro de 2017 às 21h12.

O governo federal alterou, esta semana, o conceito de trabalho escravo . A mudança da Portaria n. 1129, de 13/10/2017 já era discutida há um ano, a portas fechadas, no Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, e não passou pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo antes de ser aprovada.

A forma de autuação e os critérios de divulgação da lista suja, em que as empresas que têm práticas de escravidão têm seus nomes divulgados, também sofreram modificações.

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As informações são de um memorando publicado na segunda-feira, assinado pelo secretário de Inspeção do Trabalho, João Paulo Ferreira Machado, que também afirma que a portaria tramitou apenas na Consultoria Jurídica e no gabinete do próprio ministro, que havia prometido abertura à apresentação de proposições de aprimoramento.

Após pressão de integrantes do governo e da sociedade civil, nesta sexta-feira, em entrevista ao portal Poder 360, o presidente Michel Temer afirmou que a portaria será discutida e possivelmente reajustada.

O Brasil é signatário de diversas convenções e tratados que definem e combatem o trabalho escravo, inclusive da Organização Internacional do Trabalho (OIT), além participar de ações de Cooperação na América do Sul desde 2012.

Para o coordenador do programa de combate ao trabalho forçado da OIT no Brasil, Antonio Carlos Mello, a falta de diálogo e a mudança repentina decepcionam.

A nova portaria já era prevista?

A discussão sobre o conceito de trabalho escravo é permanente. O artigo 149, que define o conceito de trabalho escravo, é objeto de discussão de diversos setores no Brasil, sejam OIT, ONU, órgãos públicos e privados e a sociedade civil. Esta é uma discussão que vem sendo feita de uma maneira aberta, democrática, criteriosa, com a participação de representantes de trabalhadores, do governo e de empregadores de diversos setores. Para a OIT, qualquer tipo de modificação deve ser feito dessa forma, com diálogo.

O que acontece daqui para frente?

A OIT vai continuar prestando assistência técnica para que o Brasil reforce a fiscalização contra o trabalho escravo. Porém, vale lembrar que o Brasil é signatário de normatizações específicas que dizem respeito ao tema. E, se essa alteração no conceito não condiz com as normas internacionais, o Comitê de Peritos poderá fazer uma observação sobre a ação do governo, podendo acarretar a uma série de outras consequências.

Então, o país não será punido em curto prazo…

Imediatamente, não vai acontecer nada com o país. Mas o Brasil é submetido a avaliações periódicas, e vivemos num mundo globalizado em que as informações chegam muito rápido. Ou seja, as notícias desta semana já estão impactando o comércio exterior brasileiro. Um exemplo recente foi o da JBS, que foi acusada de ter mão de obra escrava em uma de suas empresas. O governo britânico ficou sabendo, e estabeleceu que não compraria carne da JBS até que a informação fosse averiguada.

O Brasil perde o status de que era uma referência no combate ao trabalho escravo?

O Brasil é referência no combate ao trabalho escravo desde 1995. Se tivermos um enfraquecimento da luta e um consequente aumento no número de trabalhadores explorados, o país pode perder esse “posto”. Está não é uma consequência imediata e inevitável, mas pode acontecer.

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