Meirelles propõe a Temer acordo para ser candidato
O ministro vai propor um pacto de risco ao presidente, na tentativa de tornar viável sua candidatura ao Palácio do Planalto
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de março de 2018 às 14h07.
Brasília - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles , vai propor um pacto de risco ao presidente Michel Temer, na tentativa de tornar viável sua candidatura ao Palácio do Planalto. Se Temer aceitar o acordo, Meirelles deixará o comando da economia na reforma ministerial, prevista para o início de abril, e até o começo de julho fará viagens pelo País, já filiado ao MDB, com o objetivo de se tornar conhecido.
A proposta a ser apresentada pelo ministro é que, se o seu nome não decolar nesse prazo de três meses, ou mesmo se Temer resolver disputar novo mandato, ele retirará a pré-candidatura para apoiar o presidente.
Meirelles quer ser candidato, mas avalia que precisa de tempo para expor sua plataforma ao País, "traduzir" a melhoria dos indicadores econômicos em metas sociais e aumentar a popularidade. Seu desejo de concorrer, no entanto, esbarra na possível pretensão de Temer de entrar no páreo.
Com receio de deixar o governo e depois ser "cristianizado" pelo Planalto, o ministro conversou recentemente com o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), e decidiu sugerir o acordo a Temer, nos próximos dias. A interlocutores, Meirelles tem dito que, caso não consiga respaldo popular e político, fará campanha para o presidente ou para o postulante que ele avalizar e não retornará à equipe.
As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que Meirelles tem no máximo 2% das preferências. Temer, por sua vez, nem chega a esse patamar. Na avaliação dos dois, porém, o que mais importa é o potencial de crescimento daqui para a frente. O ministro encomendou levantamentos qualitativos de opinião para saber o que eleitores esperam do próximo ocupante do Planalto e como as pessoas encaram sua possível candidatura.
Ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles é filiado ao PSD, mas o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, chefe do partido, fechou acordo para apoiar o prefeito João Doria (PSDB) ao governo paulista. Em troca, Kassab negocia a vaga de vice na chapa de Doria e, além disso, deve aderir à campanha do governador tucano Geraldo Alckmin à Presidência, rifando Meirelles.
Costura
As articulações do Planalto são para unir o centro político, mas até agora esse acerto está cada vez mais difícil de ser costurado com os aliados. Na semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), engrossou a fila dos candidatos com o discurso da "mudança" e assegurou não estar disposto a defender Temer.
"O convite para Meirelles se filiar ao MDB já foi feito e só estamos aguardando a resposta", disse o senador Jucá, líder do governo que se tornou o primeiro réu no Supremo Tribunal Federal em investigação aberta após delação da Odebrecht.
Ao ser questionado se as denúncias contra Temer dificultam o plano do MDB de pleitear mais quatro anos no poder, Jucá respondeu que o presidente já está exposto. "Ele sabe que vai sofrer, porque querem criminalizar o mundo político. Nós respeitaremos a decisão dele, seja qual for. E Meirelles será muito bem-vindo."
O favorito de Meirelles para ocupar sua cadeira é o secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia. Em reunião com Temer no domingo, no Palácio do Jaburu, o ministro sugeriu Guardia para substituí-lo, mas, ciente de que seu braço direito não conta com a simpatia do Planalto nem do Congresso, encaminhou também o nome do secretário de Acompanhamento Fiscal, Mansueto Almeida. Nos bastidores, Jucá se movimenta para que o titular do Planejamento, Dyogo Oliveira - seu afilhado político - seja transferido para a Fazenda.
Imagem
Embora esteja conversando há tempos sobre suas intenções eleitorais com Temer, Meirelles ainda não expôs a ele a ideia de acordo recíproco. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no dia 25, o ministro disse que vai defender o "legado" de Temer se entrar na corrida.
A estratégia para "humanizar" a imagem de Meirelles vem sendo desenhada por sua equipe de comunicação. Além de postar nesta terça-feira, 13, uma foto no Twitter com sua cadela Teresa Cristina, a Trica, da raça cavalier king charles spaniel, o chefe da economia já fala nas redes sociais como candidato.
Ao responder a questões com a hashtag #PergunteAoMeirelles, o ministro adiantou pontos de um futuro programa, dizendo que sua prioridade será garantir emprego aos brasileiros. "É necessário uma economia crescendo. (...) Em segundo lugar, uma inflação baixa para que o salário não seja corroído ao longo do tempo. Depois, o uso competente dos recursos públicos, garantindo melhor saúde, melhor educação e mais segurança", afirmou ele em vídeo no Twitter.