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Meirelles muda de tática para obter apoio nas eleições e "cola" em Lula

Sob desgaste de ter sido ministro da Fazenda do governo Temer, campeão no quesito impopularidade, Meirelles vai engrossar o discurso

Meirelles: o ataque aos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) faz parte da estratégia (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Meirelles: o ataque aos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) faz parte da estratégia (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de junho de 2018 às 09h56.

Brasília - Estagnado nas pesquisas de intenção de voto, Henrique Meirelles fará uma aposta de risco para obter apoio e conseguir ser oficializado como candidato do MDB ao Palácio do Planalto.

Sob desgaste de ter sido ministro da Fazenda do governo de Michel Temer, campeão no quesito impopularidade, Meirelles vai engrossar o discurso e usar na campanha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, apesar de condenado e preso na Lava Jato, ainda lidera pesquisas de intenção de voto quando seu nome é testado.

A mudança de tom começou na quinta-feira, após a equipe de comunicação de Meirelles concluir que, para crescer nas pesquisas, onde tem 1%, ele precisa "surpreender", criar fatos políticos e chamar a atenção.

O ataque aos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) faz parte da estratégia. A etapa seguinte será explorar a "herança" de Lula.

A ideia é destacar que Meirelles foi presidente do Banco Central nos dois mandatos do petista (2003 a 2010). Enquanto a defesa do legado de Temer aparece nas pesquisas como um "fardo" difícil de carregar, a vinculação com Lula é vista como um "trunfo". O ex-ministro faz questão, porém, de separar Lula da ex-presidente Dilma Rousseff.

Na sexta à noite (29) à noite, em palestra para empresários do Distrito Federal, Meirelles culpou Dilma pelo agravamento da crise. Ao criticar Bolsonaro e Ciro, sob o argumento de que há candidatos que desejam acabar com o teto de gastos, ele deu uma estocada em Dilma. "Isso me lembra de uma reunião de 2006, na qual a então chefe da Casa Civil (do governo Lula) fez uma afirmação impressionante. Ela disse: �Despesa pública é vida�", afirmou Meirelles. Em seguida, deixou clara sua divergência com a petista. "Precisa ver para quem, não é?", provocou.

Na prática, a campanha quer mostrar que o ex-chefe da equipe econômica é um homem tão "preparado" para tirar o Brasil da crise que está acima de ideologias e partidos. Não será uma tarefa fácil, mesmo porque dirigentes do MDB não o liberaram da missão de defender o "legado" de Temer, reprovado por 79% dos eleitores, de acordo com pesquisa CNI/Ibope.

"O primeiro princípio de um candidato crível é ser fiel à sua biografia e o Meirelles está, cada vez mais, assumindo o que fez", afirmou o ministro Moreira Franco (Minas e Energia). "Ele foi chamado novamente para tirar o Brasil de uma situação de crise, assim como foi chamado pelo Lula quando a situação era gravíssima. E ele não fugiu do chamamento", completou.

Em carta de próprio punho divulgada nas redes sociais, Meirelles diz que nunca aceitou a divisão do País. "Atendi ao convite de Lula e tenho orgulho de ter comandado o Banco Central e a economia no período mais próspero da história recente. Tenho orgulho de que meu trabalho naquele período possibilitou que tantas pessoas saíssem da pobreza rumo à classe média", escreveu.

O figurino que o MDB quer vestir em Meirelles, a 99 dias da eleição, é o de candidato de centro com bom trânsito em várias alas, além de ter "equilíbrio" e "pulso firme" para apagar incêndios. Por isso a campanha é ancorada pelo mote #ChamaOMeirelles. O problema é que, ao contrário do que ele próprio previa, a economia não reagiu e o desemprego continua muito alto.

A manutenção do ex-ministro no páreo depende agora das circunstâncias políticas e do seu crescimento nas pesquisas. A portas fechadas, dirigentes do MDB afirmam que Meirelles somente será levado à convenção do partido - prevista para o fim de julho ou início de agosto - se houver uma avaliação interna de que ele tem potencial para se tornar competitivo.

Se o quadro não mudar, a tendência do MDB será a de não apresentar chapa própria e liberar arranjos regionais.

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