Carlos Marun: "Se existe respeito à Constituição Federal neste país, e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de março de 2018 às 19h59.
Última atualização em 29 de março de 2018 às 20h31.
Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, creditou a prisão de amigos próximos do presidente Michel Temer, em operação nesta quinta-feira, a uma tentativa de abalar o governo no momento em que Temer anuncia sua intenção de ser candidato, e afirmou que há um "complô" contra o governo, mas que não considera a hipótese de uma terceira denúncia.
"Nós entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de que venha a disputar a reeleição faz com que novamente se dirijam contra nós os canhões daconspiração", disse Marun. "Na ausência de cadáver se tenta recuar no tempo e desenterrar algum cadáver já sepultado, em umas situação absolutamente desconforme com o que estabelece a Constituição."
A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira o ex-assessor especial da Presidência José Yunes e o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, entre outras pessoas, aumentando a pressão sobre o presidente no âmbito do chamado inquérito dos portos.
Marun criticou a prisão temporária na véspera de um feriado e para ouvir depoimentos que, segundo ele, fazem parte do "enredo de um complô".
"Tenho absoluta desconfiança de prisões que acontecem na véspera de feriados", disse Marun. "E outra coisa: várias dessas prisões decretadas assim foram para que sejam prestados depoimentos. Isso também é uma burla à decisão do STF que proíbe condução coercitiva."
Apesar de alegar a existência de um "complô" e de "flechas envenenadas" contra o governo, Marun tenta excluir a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, das acusações --apesar de ser dela o pedido de prisões-- e culpa a Justiça pela ação contra o governo, mais especificamente o relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso.
"É o DNA do MP o viés acusatório. Por isso existe Justiça, por isso Judiciário e MP não podem andar mancomunados. O MP é parte acusatória. Ela atuou e não vejo na doutora Raquel aquele mesmo viés... de alguém de dentro do gabinete recebendo dinheiro para orientar gravações", disse, referindo a acusações que o governo faz ao ex-procurador Marcelo Muller, um dos principais nomes do grupo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot.
Marun chamou ainda de medidas "extralegais" a decretação das prisões, usadas para "constranger o governo" e prejudicar o "papel de comandante" que o presidente tem de ter neste momento.
Dentro do Palácio do Planalto causou perplexidade as prisões de Yunes e do coronel Lima, homens muito próximos a Temer, além do dono da Rodrimar, Celso Grecco, e do ex-ministro Wagner Rossi, também amigo de Temer mas não originalmente investigado no inquérito dos Portos.
Segundo uma fonte, a conclusão dos auxiliares mais próximos do presidente, que se reuniram durante a tarde --Marun chegou a interromper a viagem que fazia a Florianópolis e voltar a Brasília-- é que a investigação está indo além do decreto que supostamente teria beneficiado a empresa Rodrimar e buscando fatos mais antigos.
Marun nega, no entanto, que as investigações, mesmo chegando tão perto de Temer, possam comprometer uma eventual candidatura do presidente nas eleições de outubro.
"Não inviabiliza uma candidatura. Se houver imparcialidade, respeito à lei, o presidente será inocentado ao final dessas investigações", disse. "Isso pode até ser transformado em um ponto favorável no caso do presidente vir a ser realmente o nosso candidato."
Marun disse ainda que o governo não trabalha com a hipótese de uma terceira denúncia contra Temer, apesar do avanço das investigações.
"Não trabalhamos com a hipótese de uma terceira denúncia porque ela seria absolutamente inconstitucional", afirmou. "Se existe respeito à Constituição Federal neste país, e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado."