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Marielle Franco vira capa do Washington Post

Se a intenção era calar uma voz que denunciava a violência no Rio, o tiro saiu pela culatra, segundo o jornal americano

Stencil de Marielle Franco: de potência local para símbolo global, segundo o Washington Post (Reprodução/Reprodução)

Stencil de Marielle Franco: de potência local para símbolo global, segundo o Washington Post (Reprodução/Reprodução)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 20 de março de 2018 às 15h17.

Última atualização em 20 de março de 2018 às 18h37.

São Paulo – O jornal norte-americano The Washington Post destacou em sua primeira página nesta terça-feira (19) o assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro. A reportagem afirma que, depois de sua morte, ela se transformou em um “símbolo global da opressão racial”.

O texto, assinado por Anthony Faiola e Marina Lopes, destaca que os protestos em defesa de Marielle e exigindo providências tomaram não só as capitais brasileiras mas também metrópoles no exterior, como Nova York (Estados Unidos), Londres (Inglaterra), Paris (França), Munique (Alemanha), Estocolmo, Lisboa (Portugal) e Madri (Espanha).

Se a intenção era silenciar uma figura política cada vez mais notória que denunciava a corrupção policial, o efeito obtido foi o contrário, segundo a reportagem. O texto lembra que hashtags de conscientização tomaram as redes sociais pelo mundo, criando uma corrente de apoio entre pessoas de vários países. Até a top model Naomi Campbell postou em sua conta no Twitter: “Vamos, Brasil, levante-se”.

A publicação pondera que, no Brasil, no entanto, o assassinato de Marielle gerou reações divergentes, evidenciando as divisões raciais que muitos brasileiros negam existir. O texto destaca as manifestações de figuras públicas brancas que pediram para que a questão não fosse examinada do ponto de vista do racismo, para não “criar” uma divisão que não existe.

A reportagem continua dizendo que, para parte da militância e do movimento negro, esse tipo de atitude é parte do problema. Outros políticos brancos também levantavam bandeiras contra a corrupção policial, mas Marielle foi assassinada, segundo seus apoiadores, porque a morte violenta de negros e, especialmente, de negras, teria menos repercussão no Brasil.

Só uma fração dos protestos, narra o jornal, tinha um viés claramente racial. As manifestações atraíram menos gente do que outras causas políticas às ruas. A esperança de algumas pessoas do movimento negro é de que o debate sobre a questão de raça ganhe impulso no país.

O Washington Post fez, ainda, uma recapitulação histórica sobre o tema no Brasil, lembrando que o país importou 4 milhões de escravos na época da colonização. Eles explicam que, desde então, o mito da democracia racial tem servido para silenciar o debate sobre racismo no país.

Para os críticos da visão da democracia racial, os números falam por si próprios, mostra o texto: os negros são 54% da população do país, mas 71% das vítimas de homicídios. Entre 2005 e 2015, a proporção de negros e pardos mortos subiu 18%, enquanto a de brancos caiu 21%.

 

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