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Manifestações de ‘Frente ampla’ esbarram no veto ao PT

Grupos discordam sobre a estratégia de marchar junto com o partido e unificar oposição em clima de Diretas-Já

Manifestações: pessoas se reuniram em diferentes pontos do país para protestar contra Jair Bolsonaro (ANDRé RIBEIRO/FUTURA PRESS/Agência Estado)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de setembro de 2021 às 09h24.

Última atualização em 19 de setembro de 2021 às 10h35.

Os empresários Amanda Vettorazzo, de 33 anos, e Yacoff Sarkovas, de 65, participaram das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) na Avenida Paulista em 2015. Há uma semana, os dois estiveram na mesma via para fazer o mesmo pedido agora em relação a Jair Bolsonaro, no ato organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua, os mesmos grupos que estavam na linha de frente há seis anos.

Mas, se antes havia convergência na tática e nas palavras de ordem, hoje eles discordam sobre a estratégia a ser seguida nas ruas: marchar junto com o PT e unificar a oposição em clima de Diretas-Já ou seguir em raia própria e manter distância do adversário de 2015?

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Integrante do grupo de renovação política RenovaBR e filiada ao Patriota, Amanda, que votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018, disse que “com certeza” não iria a uma manifestação convocada pelo PT e afirmou que o partido “boicotou” o ato dia 12. “Sou totalmente avessa ao PT e justamente por isso defendo uma frente ampla, para poder continuar discordando de petistas democraticamente. O PT precisa reconhecer os riscos que Bolsonaro oferece às nossas instituições e deixar as eleições para 2022.”

A empresária questiona se o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse, de fato, no impeachment de Bolsonaro ou se os atos com a sigla servirão de palanque para projetar a candidatura presidencial do petista. “Se fosse igual a essa última, sem bandeira e com representantes da direita, centro e esquerda, eu iria, mas, se for para ver o Lula fazendo campanha, eu definitivamente não vou”, afirmou.

A posição de Amanda é corroborada pelo Vem Pra Rua, que na quinta-feira decidiu não aderir a atos anti-Bolsonaro convocados por nove partidos, entre eles o PT. “Não faz sentido participar. Nosso registro histórico é anti-PT”, disse a porta-voz do grupo, Luciana Alberto.

Já Sarkovas, que não é filiado a partido e integra a “iniciativa cívica” Derrubando Muros, grupo que busca uma terceira via para a disputa presidencial de 2022, considera um “equívoco” não haver, neste momento, uma integração entre todas as forças. “Não importa quem convoca, todos têm que ir. O momento é de grandeza e desprendimento. Eu vou em todas.”

Esses dois personagens representam uma divisão que foi medida na Paulista no dia 12 por uma pesquisa feita pelo Monitor Político, da USP. O levantamento ouviu 841 dos 6 mil participantes da manifestação (segundo a Polícia Militar). Uma ampla maioria, 85% se disse favorável à formação de uma frente ampla contra Bolsonaro, e 12% se declararam contrários.

‘Paradoxo’. Mas 38% dos manifestantes disseram que não iriam às ruas com o PT. “Esse é o paradoxo. Se entre os políticos existem dificuldades eleitorais para unir forças, na base existe muita mágoa e ressentimento. Os lavajatistas não perdoam o PT pela corrupção, e os petistas os chamam de golpistas”, disse o professor de Gestão Pública da USP Pablo Ortellado, coordenador da pesquisa.

O levantamento também mediu a popularidade dos presidenciáveis na Avenida Paulista: Ciro Gomes (PDT) foi o mais citado, com 16%; Lula veio em seguida com 14%; Sérgio Moro, 11%; João Amoêdo (Novo), 8%; e João Doria (PSDB), 7%.

No carro de som do MBL, os políticos e líderes do ato também se dividiram em relação a uma eventual aliança com o PT. Enquanto Doria, Ciro e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) defenderam a unidade, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) foi contra, assim como os dirigentes do MBL. O grupo inclusive distribuiu camisetas com o mote “Nem Lula, Nem Bolsonaro”, o mesmo que foi adotado pelo Vem Pra Rua antes de um acordo para não usá-lo no dia 12.

Um dado curioso é que, de todo o público ouvido, 37% disseram ser de esquerda ou centro-esquerda e 34% afirmaram ser de direita ou centro-direita. “Acho difícil acontecer essa tal junção entre esquerda e direita. Não vi ninguém da esquerda convidando a direita para a manifestação do próximo dia 2”, disse o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP). Ex-bolsonarista, ele rompeu com o presidente e foi à Paulista.

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