IBGE: quase 30% dos domicílios da região Norte despejam dejetos de forma irregular (Germano Lüders/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de maio de 2020 às 11h57.
Pouco mais de nove milhões de lares brasileiros ainda não tinham destinação adequada de esgoto sanitário, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre os 72,395 milhões de domicílios no País, 12,6% indicaram que despejam dejetos diretamente em fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar e outras formas de escoadouro. Na Região Norte, essa destinação era adotada por 29,6% dos domicílios, o equivalente a 1,6 milhão de lares, enquanto a rede geral de esgoto só estava presente em 27,4% das casas da região.
No Nordeste, o despejo inadequado de dejetos alcançava 22,1% das moradias, ou 4,1 milhões de domicílios. Mesmo no Sudeste, 5,5% dos lares estavam nessa condição de precariedade, 1,7 milhão destinavam dejetos dessa forma.
"É um esgotamento precário", resumiu Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Em 2019, 27,312 milhões de domicílios não possuíam acesso a esgotamento sanitário canalizado e ligado à rede geral. Destes, 17,794 milhões utilizam fossa séptica.
Apesar dos avanços nos últimos anos, o País ainda tinha 8,6 milhões de domicílios em 2019 sem acesso à rede geral de abastecimento de água. Entre os que recebiam a água encanada da rede geral, mais de seis milhões de lares relataram que o fornecimento tinha interrupções, não era diário.
A coleta de lixo chegou a mais 1,4 milhão de domicílios na passagem de 2018 para 2019, alcançando 66,122 dos lares no ano passado. No entanto, mais de seis milhões de moradias ainda queimam o próprio lixo ou fazem outro tipo de descarte.
Metade dos brasileiros sobrevive com apenas R$ 438 mensais, ou seja, quase 105 milhões de pessoas têm menos de R$ 15 por dia para satisfazer todas as suas necessidades básicas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados são referentes à renda média real domiciliar per capita de 2019.
Os 10% mais pobres, o equivalente a 20,95 milhões de pessoas, sobreviviam com apenas R$ 112 por mês, ou R$ 3,73 por dia. Em relação a 2018, houve uma elevação de 0,9% na renda média dessa parcela da população, mas que em termos reais permanece inexpressiva: apenas R$ 1 real a mais.
Por outro lado, no extrato mais rico, apenas 1% dos brasileiros mais abastados vivia com R$ 17.373 mensais, o que significou um aumento de renda de 2,7% para essa população que somava pouco mais de dois milhões de pessoas.
Apesar da disparidade de renda e concentração de riqueza ainda aguda, houve ligeira redução na desigualdade no País.
O Índice de Gini - indicador que mede a desigualdade numa escala de 0 a 1, sendo maior a concentração de renda quanto mais próximo de 1 for o resultado - saiu de 0,545 para 0,543 pontos na passagem de 2018 para 2019. Embora o extrato mais rico tenha registrado um ganho de renda três vezes maior que o do extrato mais pobre, houve melhora nos extratos medianos da população, justificou o IBGE.
"Acho que está relativamente estável, acompanhando a tendência do mercado de trabalho. Tem um pouco de ganho dos mais pobres, e um pouco de ganho dos rendimentos mais altos", opinou Alessandra Scalioni Brito, analista do IBGE.
O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.406 na média do País, descendo abaixo do salário mínimo no Norte (R$ 872) e Nordeste (R$ 884), mas alcançando o dobro desse valor no Sudeste, R$ 1.720.
A massa de renda domiciliar obtida de todas as fontes totalizou R$ 294,396 bilhões em 2019, também distribuída de forma desigual. A parcela dos 10% dos brasileiros os menores rendimentos detinha 0,8% dessa riqueza, enquanto os 10% mais ricos concentravam 42,9% dela.
Um em cada cinco trabalhadores brasileiros recebia menos da metade do salário mínimo em 2019. A renda média entre os 20% com menores rendimentos do trabalho era de apenas R$ 471 no ano passado. Se considerados os 50% com menores rendimentos, ou seja metade de todos os trabalhadores em atividade, a renda média subia a R$ 850, ainda aquém do salário mínimo de R$ 998 determinado por lei em 2019.
Em ambos os casos, houve ligeira redução na renda média do trabalho em relação a 2018, R$ 1 a menos. Os trabalhadores mais bem remunerados também tiveram redução de renda, mantendo o Índice de Gini da renda do trabalho estagnado em 0,509 no ano passado, mesmo resultado de 2018. O Índice de Gini é um indicador que mede a desigualdade numa escala de 0 a 1, sendo maior a concentração de renda quanto mais próximo de 1 for o resultado.
Na média nacional, a renda do trabalho foi de R$ 2.308 em 2019, R$ 9 a menos que em 2018. No entanto, houve aumento no número de pessoas com renda de trabalho, passando de 43,4% da população em 2018, ou 90,1 milhões de trabalhadores, para 44,1% em 2019, 92,5 milhões de indivíduos.
A população que se autodenomina branca ainda recebia quase o dobro no mercado de trabalho do que os trabalhadores que se dizem negros ou pardos. O rendimento médio mensal real de todos os trabalhos das pessoas brancas foi de R$ 2.999 em 2019, enquanto os autodeclarados pardos receberam R$ 1.719 e os pretos R$ 1.673.
As desigualdades entre homens e mulheres também permaneceram: a renda do trabalho dos homens foi R$ 2.555, 28,7% mais alta que a das mulheres, que receberam R$ 1.985.
Os trabalhadores com ensino superior completo recebiam R$ 5.108 de remuneração média no ano passado, quase três vezes mais que a renda dos trabalhadores que concluíram apenas o ensino médio, de R$ 1.788, e cerca de seis vezes superior ao rendimento daqueles sem instrução, de R$ 918.
O total de pessoas que receberam aposentadoria ou pensão teve ligeiro aumento, de uma fatia de 14,6% da população em 2018 para 14,7% no ano passado.
Já o porcentual de domicílios atendidos pelo Bolsa Família caiu de 13,7% em 2018 para 13,5% em 2019. Em 2012, 15,9% dos domicílios do País recebiam o Bolsa Família.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) era recebido em 3,7% dos domicílios do País em 2019, ante uma fatia de 3,6% em 2018. Em 2012, esse ponto porcentual era de 2,6%.
A concentração de riqueza aumentou na região Nordeste no ano passado. Ao mesmo tempo, a região Norte registrou melhora na desigualdade, mas em consequência de um fenômeno negativo, houve perda generalizada de renda em todas as faixas de população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados são referentes à renda média real domiciliar per capita de 2019, apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Rendimento de todas as fontes 2019.
O rendimento médio mensal real domiciliar per capita obtido de todas as fontes não alcançava o salário mínimo nem no Norte (R$ 872), nem no Nordeste (R$ 884), embora suba ao dobro desse valor no Sudeste, R$ 1.720. Na média nacional, a renda média domiciliar per capita de todas as fontes foi de R$ 1.406 em 2019.
A renda per capita da Região Nordeste teve o maior crescimento entre as regiões brasileiras no ano de 2019, 4,5%, mas puxada pelos ganhos dos mais ricos. Os pobres ficaram ainda mais miseráveis.
Como consequência, o Índice de Gini da renda domiciliar per capita subiu de 0,545 para 0,559 entre 2018 e 2019 no Nordeste. O Índice de Gini é um indicador que mede a desigualdade numa escala de 0 a 1, sendo maior a concentração de renda quanto mais próximo de 1 for o resultado.
Na passagem de 2018 para 2019, a Região Norte teve redução de 5 3% no rendimento médio domiciliar per capita. Houve perda de poder aquisitivo em todas as faixas de rendimentos, especialmente entre os mais ricos. O Índice de Gini local desceu de 0,551 em 2018 para 0,537 em 2019.