Reunião entre FHC e Lula, a primeira desde 2017 (Instagram/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de maio de 2021 às 15h18.
Última atualização em 21 de maio de 2021 às 15h47.
O encontro entre os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi bem recebido por tucanos. Além de o PSDB ter divulgado uma nota com críticas ao "sinal trocado" dado por FHC, caciques tucanos avaliam que a associação entre os dois antigos adversários políticos enfraquece a tentativa de lançar uma candidatura de centro em 2022.
"O PSDB deve continuar a busca de uma candidatura ao centro, e há sinais claros de que além dos nomes colocados até aqui, o senador Tasso [Jereissati] começa a considerar realmente uma candidatura. Lula nunca foi, e não acredito que será uma opção para o PSDB", afirmou ao Estadão Aécio Neves, deputado e ex-presidente do partido.
Aécio foi o candidato do PSDB ao Planalto em 2014 e perdeu no segundo turno para Dilma Rousseff (PT) por uma margem apertada de votos. Apesar de criticar a aproximação com Lula, o mineiro afirmou que o ex-presidente FHC pode conversar com quem quiser.
"O presidente Fernando Henrique, aos 90 anos, tem o direito de almoçar, jantar e tomar seu vinhozinho com quem ele escolher. E é uma felicidade para os seus amigos ver que ele faz isso com frequência e invejável disposição", declarou.
Um dos nomes cotados pelo PSDB como pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também descarta uma aliança com o petista. "Num país democrático é natural que dois ex-presidentes possam conversar sobre política. Mas num país democrático também é natural que não se esqueça da história nem se negue o passado. Conversar com todos é premissa de quem deseja o fim do 'nós contra eles' [algo que foi, inclusive, muito incentivado pelo PT], mas eu não aceito que o Brasil ande para trás. Confio que FHC também não", disse Leite ao Estadão.
A reunião foi divulgada nas redes sociais do Lula e festejada nas redes sociais por deputados e senadores do PT. No entanto, a recepção tucana foi inversa. "Depois de o petismo rotular o seu governo de 'herança maldita', parece mais que estão em busca de votos do que um reconhecimento da gestão de FHC", escreveu o presidente do partido, Bruno Araújo, por meio de nota. "Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB. Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos. De toda forma, precisamos evitar sinais trocados aos nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira", ressalta Araújo.
Em entrevistas ao jornal Valor Econômico na semana passada e à Rádio Eldorado nesta semana, o tucano afirmou que, num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula, votaria no petista.
O Estadão apurou que os grupos de WhatsApp do PSDB reagiram de forma fortemente contrária ao encontro. O timing também foi considerado inadequado. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) havia participado na quinta-feira, 20, de um encontro com mulheres do partido e demonstrou empolgação em ser candidato ao Planalto pela legenda.
O PSDB marcou para outubro deste ano um processo de prévias para definir a candidatura presidencial tucana. Além de Tasso e Leite concorrem os governadores João Doria (SP) e o ex-prefeito de Manaus (AM) Arthur Virgílio.
O encontro entre Lula e FHC foi promovido pelo ex-ministro Nelson Jobim, que atuou tanto no governo do petista, como ministro do Supremo Tribunal Federal, quanto no do tucano, como ministro da Justiça. O almoço ocorreu na casa de Jobim e durou cerca de 3 horas.
A aproximação com o tucano faz parte da estratégia do ex-presidente Lula de se apresentar como um pré-candidato moderado e atrair lideranças do centro político.
À coluna Direto da Fonte, FHC afirmou nesta sexta que continua buscando uma terceira via entre Bolsonaro e Lula. Se possível, no PSDB. "Se essa não acontecer, não vou deixar meu voto em branco". Ele também tuitou sobre o assunto: "Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula."
No início do mês, ele esteve em Brasília e se reuniu com nomes como o do também ex-presidente José Sarney (MDB), o ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ).