(Ricardo Stuckert/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 2 de maio de 2023 às 10h04.
Pouco mais de três meses após se reunirem em Buenos Aires, quando se comprometeram a relançar uma aliança estratégica interrompida no governo anterior, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o argentino Alberto Fernández terão um novo encontro nesta terça-feira, no fim da tarde, no Palácio da Alvorada.
Em meio a uma grave crise política e econômica, sem dólares para importar produtos essenciais para a indústria, com a imagem comprometida perante bancos privados internacionais e diante da maior seca enfrentada pelos agricultores desde 1929, Fernández pedirá ajuda a Lula para fortalecer o comércio bilateral.
Outro plano de interesse do presidente argentino é a parceria na construção de um gasoduto, que sairia de Vaca Muerta, na Argentina, até o Brasil. O trecho, que poderá ser financiado em parte pelo BNDES, serviria de alternativa, para os brasileiros, ao gás boliviano. Mas não há consenso na área econômica do governo Lula sobre a participação do banco de fomento no projeto.
Segundo um interlocutor com conhecimento do assunto, se dependesse de Fernández, o Brasil financiaria pelo menos US$ 1,5 bilhão por mês, durante um período determinado — fala-se em seis meses — a exportação de insumos industriais para o país vizinho. O dinheiro seria liberado pelo BNDES, que precisaria do aval do Fundo Garantidor de Exportações (FGE), administrado pelo Ministério da Fazenda. Isto porque, em caso de não pagamento pelo governo argentino, o banco brasileiro não teria prejuízo, pois o fundo cobriria.
Tudo indica que o presidente argentino — que estará acompanhado de ministros da área econômica de seu governo — não deixará Brasília de mãos vazias. Em entrevista à GloboNews, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, revelou que o Brasil vai propor uma linha de crédito para financiar exportações para a Argentina.
Existe a expectativa de o BNDES ser o escolhido. A questão é que esse tipo de operação, usada para financiar exportações de serviços realizados por empreiteiras brasileiras em Cuba e na Venezuela, durante os primeiros mandatos de Lula, até hoje é largamente criticado pela oposição.
Procurado pelo GLOBO, para que comentasse que resultados o governo argentino espera da reunião entre os dois presidentes, o embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli, não entrou em detalhes. Disse que Lula e Fernández devem revisitar os acordos assinados em 23 de janeiro último, durante o encontro dos dois mandatários em Buenos Aires, e buscar formas de melhorar o intercâmbio bilateral.
— Estamos olhando diferentes alternativas para promover o comércio bilateral — afirmou Scioli.
A balança comercial entre os dois países é favorável ao Brasil. No primeiro trimestre deste ano, o Brasil teve um superávit de quase US$ 1 bilhão com a Argentina. Os principais produtos exportados para os vizinhos foram autopeças, automóveis, soja e siderúrgicos. Já os itens argentinos que lideraram a lista de importações foram veículos utilitários, automóveis, trigo e petróleo.
Os indicadores econômicos na Argentina estão cada vez piores. A inflação está acima de 100% ao ano e o peso não para de desvalorizar em relação ao dólar. Sob pressão e sem saída para a crise que aflige há anos a Argentina, Fernández anunciou, há cerca de dez dias, que não será mais candidato à eleição presidencial que acontecerá em outubro deste ano em seu país