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Lula diz que Brasil está anestesiado desde o impeachment de Dilma

Em evento no Rio de Janeiro, o petista afirmou ainda que é encarado por seus opositores como um "um tumor" a ser extirpado

Lula: "estamos vivendo um momento irrealista. Eles anestesiaram o País, inventaram uma doença chamada PT e Dilma para fazer uma cirurgia para consertar o Brasil" (Paulo Whitaker/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 06h38.

Rio de Janeiro - Diante de uma plateia de cerca de mil apoiadores da área da cultura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite desta terça-feira, 16, no Rio, que a sociedade brasileira estava anestesiada desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. O petista afirmou ainda que é encarado por seus opositores como um "um tumor" a ser extirpado.

"Estamos vivendo um momento irrealista. Eles anestesiaram o País, inventaram uma doença chamada PT e Dilma para fazer uma cirurgia para consertar o Brasil. Quando viram que não tinham extirpado a doença toda, inventaram outra, o Lula, que é o tumor dessa doença", afirmou, no evento "Em Defesa da Democracia e de Lula", realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio. Antes, na porta do teatro, foi realizado um pequeno mas ruidoso protesto que pedia "Lula na cadeia já".

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Réu da Lava Jato, Lula será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) no dia 24, em Porto Alegre, no caso do tríplex do Guarujá (SP).

Segundo a Justiça, o apartamento teve a reforma paga pela empreiteira OAS, que recebeu em troca vantagens indevidas.

O ex-presidente nega que o imóvel seja dele. "Eu ia roubar R$ 500 mil quando poderia ter um apartamento cheio de mala de dinheiro?", disse, recebendo muitos aplausos da plateia.

Lula já foi sentenciado pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 9 anos e 6 meses de prisão no processo sobre o tríplex.

Caso seja condenado também na segunda instância, a princípio não poderá se candidatar a presidente nas eleições de outubro, por conta da Lei da Ficha Limpa.

Sobre a queda de Dilma e seu processo na Justiça, Lula afirmou: "Nós caímos rápido demais, do que estamos nos levantando. Fomos destruídos em pouco tempo. Criaram uma animosidade na sociedade, ódio, rivalidade. Fizeram tudo isso e apareceu (o deputado Jair) Bolsonaro (PSC-RJ). Agora vão saber o que é bom", ironizou.

Acompanharam Lula no palco do Casa Grande a cantora Beth Carvalho, o humorista Gregorio Duvivier, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, os diretores de teatro Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad e os atores Dira Paes, Chico Diaz, Herson Capri, Cristina Pereira, Bete Mendes, Antonio Pitanga e Osmar Prado, entre outros.

Também estava presente o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aventado como possível opositor de Lula na corrida presidencial, numa chapa do PSOL. O compositor Chico Buarque ajudou na mobilização do evento, mas não compareceu.

Cristina Pereira foi hostilizada pelos manifestantes anti-Lula na chegada ao Casa Grande. Eram dez pessoas, que provocavam os apoiadores do ex-presidente na calçada oposta à do teatro, gritando insultos. O grupo pedia intervenção militar no País e trazia bandeiras nacionais.

Osmar Prado, que chegou pouco antes, os ignorou. "Quem tem medo de Luiz Inácio Lula da Silva? Os candidatos que não têm condições de derrotá-lo na urna. Em todas as pesquisas ele está na frente. Lula teve dois mandatos e diminuiu a distância entre a casa grande e a senzala. Isso fica gravado na memória do povo."

Gregorio Duvivier fez piada do protesto na porta do teatro. "Ficou muito claro que a indignação deles é classista, eles não saem de casa há um ano", disse, sobre organizações como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre.

"Fico muito feliz de ver tanta gente de vermelha no Leblon", continuou, referindo-se ao fato de o ato ser no bairro mais sofisticado do Rio. Também no palco, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que vem acompanhando Lula em atos públicos, foi saudado com gritos de "eô eô, Amorim governador". O ex-chanceler é cotado para disputar o governo do Rio pelo PT.

Em dezembro, um grupo de artistas, intelectuais e representantes de movimentos sociais, integrado por Chico Buarque, pelos escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum e pelo teólogo Leonardo Boff, entre outros, publicou um manifesto contra "a perseguição a Lula", divulgado no Brasil e no exterior (foi traduzido para sete idiomas) e intitulado "Eleição sem Lula é fraude". O texto pede garantias à sua candidatura.

Neste mês, diante da iminência do julgamento de Lula o TRF-4, dois possíveis candidatos à Presidência, Boulos e a deputada estadual gaúcha Manuela D'Ávila (PCdoB) saíram em defesa do direito do petista de concorrer.

No encontro desta terça-feira, Boulos disse que compareceu por "estar do lado da democracia" e que irá a Porto Alegre para apoiar Lula no julgamento no TRF-4.

"Contra (o presidente Michel) Temer tem prova de sobra, contra Lula o que tem é perseguição deslavada. Ninguém no Brasil pode admitir isso de forma natural. Para defender Lula não é precisa estar 100% sintonizado com seu partido, basta defender a Constituição Brasileira".

Para a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, "o TRF-4 tem a oportunidade de mostrar que há justiça isenta no País". "Não dá para aceitar outra sentença que não seja a absolvição", declarou.

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