Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Benim, Patrice Talon, durante a declaração à imprensa, no Palácio do Itamaraty (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 23 de maio de 2024 às 16h35.
Última atualização em 23 de maio de 2024 às 16h47.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quinta-feira, a troca das dívidas dos países africanos por investimentos em áreas como saúde e educação. Lula deu as declarações no Palácio do Itamaraty, ao lado do presidente da República do Benin, Patrice Talon. A visita oficial faz parte do esforço do governo de reaproximar o Brasil com países da África e ocorre poucos meses depois da reabertura da Embaixada do Benin em Brasília.
"O que vemos hoje é uma absurda exportação líquida de recursos dos países mais pobres para os países mais ricos. Não há como investir em educação, saúde ou adaptação à mudança do clima se parte expressiva do orçamento é consumido pelo serviço da dívida", afirmou Lula.
O presidente brasileiro afirmou ainda que o grupo de trabalho sobre arquitetura financeira do G20 fará em junho um encontro com especialistas africanos para debater a questão da dívida africana.
"O grupo de trabalho sobre arquitetura financeira do G20 promoverá, em junho, um debate com especialistas africanos, cujos resultados levaremos para a reunião de ministros das Finanças do G20."
O Brasil é defensor de uma ampla revisão do endividamento global para permitir que as nações devedoras, sobretudo as africanas, tenham dinheiro para investir em projetos sociais e de desenvolvimento sustentável. Segundo um levantamento do Ministério da Fazenda revelado pelo O Globo, o Brasil tem um crédito de US$ 3,1 bilhões, ou o equivalente a cerca de R$ 15,4 bilhões, com 13 países.
O governo brasileiro já começou a negociar a possibilidade de descontos com outros países credores, mas por enquanto apenas os africanos seriam negociados em conjunto. Cuba e Venezuela, por exemplo, que estão praticamente fora do sistema financeiro internacional, negociam saídas em separado com o Brasil.
Durante seu discurso, Lula também afirmou que era preciso prestar atenção em tragédias humanitárias como no Haiti e no Sudão.
"No momento em que as atenções se concentram na Ucrânia e em Gaza, não podemos deixar que o mundo se esqueça do Haiti, nem de outras tragédias humanitárias como a do Sudão."
Lula já fez viagens para Angola, África do Sul, Cabo Verde e Egito desde que voltou ao Palácio do Planalto. Neste ano, também participou da discursar como convidado da 37ª Cúpula da União Africana (UA), formada por 55 países, e que passou a a integrar o G20 com amplo apoio brasileiro. O Brasil é o presidente rotativo do bloco, mandato que terminará com uma reunião dos líderes das maiores economias do mundo no Rio de Janeiro, no fim deste ano.
O líder brasileiro tem defendido intensamente ao longo do seu mandato a agenda de países em desenvolvimento, que passa por questões sociais e ambientais. Além disso, o presidente defende publicamente a reforma da governança global para trazer mais representatividade para esses países em espaço de poder, assim como a melhoria das suas condições de investimento.
Participar de fóruns como a União Africana é representativo, já que têm peso entre os países membros. A ideia é que a presença de Lula nessas agendas, enquanto presidente do G20, seja vista como um reforço da pauta da reforma da governança global ao aproximar na prática esses países do fórum e fazer um convite direto para a participação nas discussões em andamento.
Em seus discursos internacionais e em reuniões de alto nível, Lula tem chamado os países a participarem da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, que será uma das principais medidas da presidência brasileira no G20. A ideia é que as nações, além de aderirem ao projeto, também façam contribuições para a sua construção.
Por exemplo, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, ouviu de Lula durante uma reunião privada o convite para integrar a aliança. O tema também esteve presente em seu discurso durante a Cúpula da UA, na Comunidade dos Estados do Caribe (Caricom) e na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).