Brasil

Lockdown em São Luís pode ser ainda mais rígido, diz governador

Governo registra ocupação de 95% dos leitos das UTIs e 85% dos leitos clínicos da rede estadual reservados a pacientes infectados pelo coronavírus

Coronavírus: Maranhão é o sexto estado mais atingido pela doença, com 4.227 casos confirmados e 249 mortes (Valter Campanato/Agência Brasil)

Coronavírus: Maranhão é o sexto estado mais atingido pela doença, com 4.227 casos confirmados e 249 mortes (Valter Campanato/Agência Brasil)

R

Reuters

Publicado em 5 de maio de 2020 às 17h02.

A capital do Maranhão, São Luís, começou nesta terça-feira um lockdown, a forma mais restritiva de isolamento em meio à epidemia de coronavírus, em uma decisão judicial comemorada pelo governador do Estado, Flávio Dino (PCdoB), que classificou a medida como profilática para evitar que a rede de saúde do Estado entre em colapso.

"Estamos fazendo um lockdown profilático. Não temos uma situação de caos, mas o que estávamos observando é que a demanda estava crescendo muito rápido e acima da nossa capacidade de expansão da oferta de leitos e profissionais de saúde", disse Dino por telefone à Reuters na manhã desta terça-feira (5), primeiro dia da aplicação da medida inédita no país.

"Coincidiu uma convergência entre nossos estudos técnicos, o Ministério Público entrar com uma ação e o juiz decidir a favor. Uma feliz convergência, eu diria. E decidimos não recorrer", acrescentou.

De acordo com o governador, na noite de segunda-feira a ocupação de leitos da rede estadual de São Luís estava em 95% das UTIs e 85% dos leitos clínicos reservados para a Covid-19. Na rede municipal, no hospital universitário federal e nas redes particulares, afirmou, os números são semelhantes, apesar do investimento que o Estado fez na ampliação da rede de atendimento desde o início da epidemia.

São Luís é a primeira cidade do país a adotar o lockdown, em um momento em que a epidemia não dá sinais de diminuir, mas o país se divide entre aquelas que estudam aumentar as restrições, como o Rio de Janeiro, e outros que já decidiram abrir, como Santa Catarina.

Pressionados pela questão econômica e pelo presidente Jair Bolsonaro, que insiste em criticar prefeitos e governadores pelas medidas de isolamento social, vários municípios viram cair o isolamento social nas últimas semanas.

Oposição a Bolsonaro, Dino não se impressiona com as declarações virulentas do presidente. Apesar de o Maranhão ser um dos Estados mais pobres do país, com o pior Produto Interno Bruto (PIB), o governador diz que pode endurecer as medidas se o lockdown não funcionar.

"Nossa meta é chegar a 80% de isolamento. Temos uma ferramenta que mede isso e vamos ter o comparativo de três dias na próxima quinta-feira. Se houver um bom nível de cumprimento até dia 14 podemos suspender. Se não, posso restringir ainda mais a circulação", garantiu o governador, que já analisava um endurecimento das medidas de restrição antes da decisão judicial que decretou o lockdown até o dia 14, já que os casos cresceram mais de 220% nos últimos 15 dias.

Isolamento em queda

Com 4.227 casos confirmados de Covid-19 e 249 mortes, o Maranhão é o sexto Estado mais atingido pela epidemia. As medidas de isolamento foram iniciadas em 20 de março, mas, conforme o tempo passou, a circulação de pessoas foi aumentando.

De um início de 70% de isolamento nas primeiras semanas, de acordo com levantamento feito pelo governo do Estado, chegou a pouco mais de 50%.

A partir desta terça, os moradores da ilha de São Luís --que incluiu a capital e ainda os municípios de São José do Ribamar, Raposa e Passo do Lumiar-- só poderão sair de casa para comprar alimentos, medicamentos e material de limpeza. Só podem sair para trabalhar aqueles que estão empregados em serviços essenciais.

Para circular pelas ruas, esses trabalhadores terão que portar uma declaração de serviço essencial, emitida pelas empresas, e foram montados postos de checagem que farão as verificações por amostragem. Quem circular sem autorização será primeiro orientado pela polícia e, se não cumprir, poderá ser levado a uma delegacia.

Todos os acessos à ilha foram fechados, a não ser para pessoal médico, ambulâncias, viaturas policiais e caminhões e ônibus transportando pessoal e material essencial.

"O objetivo não é constranger as pessoas, mas evitar a circulação. Hoje parece que temos um êxito bastante bom, do que eu posso ver daqui", contou o governador, que estava em sua sala no Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão.

Dino afirmou que o cenário com o lockdown é de uma redução da curva da epidemia, que vinha crescendo rapidamente. Com o bloqueio da ilha, que concentra quase um quarto da população do Estado com 1,5 milhão de habitantes, a tendência é diminuir o espalhamento do vírus enquanto o governo amplia a capacidade de atendimento.

"Começamos a crise com 232 leitos dedicados ao covid, entre UTIs e leitos clínicos. Hoje temos 761, vamos chegar a 1.200 até final de maio. É uma multiplicação considerável, mas é muita dificuldade. Arrumar prédio e cama é fácil, difícil é equipamento e profissionais de saúde. Os preços dos equipamentos estão muito inflacionados no mercado internacional e a logística para trazer é muito difícil", disse.

O governo do Maranhão foi autor de uma operação de guerra para trazer respiradores da China sem passar pelos Estados Unidos ou São Paulo e sem parar na Receita Federal para evitar que fosse apreendidos por governos estrangeiros ou pelo próprio governo federal.

A Receita Federal chegou a ameaçar processar o governador que, à época, disse pelo Twitter que "A Receita pode abrir o procedimento que quiser e atenderemos às suas exigências. Só não aceitamos ameaças nem perseguições sem sentido."

Acompanhe tudo sobre:BrasilCoronavírusMaranhão

Mais de Brasil

Barroso afrouxa regra para câmeras da PM em SP, mas exige uso obrigatório em comunidades

Trens e metrô terão tarifa mais alta a partir de janeiro; saiba quando e valores

PM afasta policial que atirou à queima-roupa em rapaz em São Paulo

Tarifa de ônibus em SP será de R$ 5,00; veja quando passa a valer