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Lava Jato aponta para HSBC, Deutsche Bank e outros

A investigação da Lava Jato está expondo a suposta relação de filiais na Suíça de bancos estrangeiros com cidadão suíço-brasileiro


	Agentes da Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, em São Paulo
 (Nacho Doce/Reuters)

Agentes da Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2015 às 21h15.

A investigação sobre a Odebrecht SA na Lava Jato está expondo a suposta relação de filiais na Suíça de bancos estrangeiros com um cidadão suíço-brasileiro acusado de montar um esquema transnacional de lavagem de dinheiro, disseram procuradores brasileiros.

Entre os bancos estão o HSBC Holdings Plc, o Royal Bank of Canada e o Deutsche Bank AG, segundo documentos.

Bernardo Freiburghaus, 47, é acusado pelo juiz Sergio Moro de criar uma operação offshore de lavagem de dinheiro para a Odebrecht, movendo dinheiro ilícito de países como Brasil e Estados Unidos para a Suíça.

Segundo o procurador Carlos Lima, do Ministério Público Federal, Freiburghaus teve um papel semelhante ao do doleiro Alberto Youssef.

Mais de US$ 100 milhões mantidos por clientes de Freiburghaus foram confiscados de contas suíças e devolvidos às autoridades brasileiras.

A advogada de Freiburghaus negou qualquer irregularidade de seu cliente.

O MPF diz que os investigadores descobriram correspondências entre bancos internacionais e Freiburghaus a respeito de clientes brasileiros, incluindo ex-executivos da Petrobras, alguns deles já condenados à prisão por lavagem de dinheiro que agora colaborando com as autoridades.

O MPF diz que as transações de Freiburghaus na Suíça foram chave para a prisão do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht -- o mais importante executivo implicado no escândalo que assola a economia brasileira e o governo da presidente Dilma Rousseff.

“Bernardo Freiburghaus agia como uma espécie de agente credenciado dos bancos suíços (filiais) para efetuar o relacionamento com os clientes”, disse o procurador Deltan Dallagnol, por e-mail, mencionando documentos enviados pelas autoridades suíças ao Brasil.

“Há e-mails citados na acusação que mostram que ele teria discutido assuntos de compliance com os bancos”.Dinheiro recuperado

Mais de R$ 3 bilhões já foram bloqueados ou repatriados pelo Brasil por meio da investigação de corrupção, um esquema por meio do qual as empreiteiras teriam subornado funcionários públicos, como executivos da Petrobras, para conseguir contratos e dividir parte dos recursos com políticos da base aliada do governo.

As instituições financeiras que não notificam as autoridades em caso de atividades suspeitas podem estar sujeitas a penalidades administrativas, multas e até acusações criminais e sanções penais.

A evidência tornada pública no Brasil sinaliza o possível alcance global de uma operação de lavagem de dinheiro em um momento em que os governos estão se coordenando cada vez mais para combater crimes financeiros.

O gabinete da Procuradoria-Geral da Suíça (OAG) investiga “mais de 30 instituições financeiras do país que aparentemente foram usadas para processar os pagamentos de propinas que estão sob investigação no Brasil”, disse o OAG em resposta por e-mail à Bloomberg, repetindo informações de um comunicado de imprensa publicado em março.

O OAG não revela os bancos investigados.O HSBC disse que está cooperando com as investigações e o Royal Bank of Canada afirmou que não foi feita nenhuma acusação contra a instituição.

O Deutsche Bank preferiu não comentar. A Petrobras continuará colaborando com as investigações da Lava Jato e está trabalhando para recuperar os prejuízos gerados pela corrupção, disse a empresa em um e-mail.

Contas no Citigroup

Parte do dinheiro que os procuradores brasileiros descrevem como pagamentos de propinas da Odebrecht a funcionários públicos veio de contas no Citibank Inc. nos EUA.

A passagem de dinheiro pelos EUA torna o caso potencialmente sujeito às autoridades americanas. Documentos judiciais mostram pelo menos 15 transferências de contas do Citibank de Nova York para a Suíça entre 2006 e 2009, totalizando mais de US$ 120 milhões ligados à investigação. O Citibank preferiu não comentar.

Freiburghaus, que entregou o passaporte brasileiro às autoridades em 2014, meses após o escândalo estourar, atualmente está refugiado na Suíça, disseram as autoridades brasileiras nos autos.

Em junho, ele foi visto em Genebra, esperando na fila para assistir “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” em um fim de semana, pouco depois do lançamento do filme, informou o jornal O Estado de S. Paulo na ocasião.Freiburghaus “não é operador de nada, nem de ninguém e jamais atuou como intermediador de propinas, tampouco tem poderes para abrir contas no exterior ou aceitar depósitos ou fazer transferências”, disse sua advogada, Fernanda Telles, em resposta por e-mail. Ele é cidadão suíço e forneceu seu endereço em Genebra às autoridades brasileiras, disse Telles.

A Odebrecht, a maior construtora da América Latina, negou diversas vezes ter cometido irregularidades e disse em uma resposta por e-mail que defenderá atuais e ex-funcionários ao longo do processo judicial. Marcelo Odebrecht disse neste mês que não tem intenção de colaborar com as autoridades porque não tem informações a compartilhar.

Reuniões no Rio

Antes de a polícia anunciar o esquema de corrupção, no ano passado, Freiburghaus se encontrava com clientes em sua empresa, a Diagonal Investimentos, no Rio de Janeiro, cidade onde morava e onde fica a sede da Petrobras, segundo documentos judiciais.

A Diagonal é uma pequena firma de investimentos registrada na Comissão de Valores Mobiliários do Brasil, com diversos clientes.

O HSBC e Freiburghaus teriam discutido os riscos de compliance por manter uma conta para Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras que foi um dos primeiros executivos a aceitar um acordo de delação premiada na Lava Jato, segundo documentos fornecidos pelas autoridades suíças aos seus pares brasileiros e tornados públicos.

Freiburghaus teria aberto contas, sugerido como transferir o dinheiro periodicamente entre diferentes bancos de forma a não deixar rastros e destruído registros bancários após cada reunião, segundo relatos de testemunhas que fazem parte dos registros tornados públicos pelo tribunal que comanda o caso, em Curitiba, no Brasil.

Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, outro ex-diretor da Petrobras, ambos ouvidos como testemunhas em delação premiada em Curitiba, disseram ser clientes de Freiburghaus.

Eles contaram que se encontravam com o agente a cada dois meses na empresa dele no Rio.

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