Brasil

Juros altos no mundo podem atrasar transição energética, diz diretor de estratégia do Itaú BBA

Debate no Congresso Brasil Competitivo reuniu representantes de empresas e do governo para falar sobre financiamento da agenda climática

Guilherme Pessini, diretor de Estratégia e Planejamento do Itaú BBA (1º da esq.), João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda, Pedro Vilela, CEO da Rise Ventures e Fabio Kono, assessor especial no BNDES (Tiago Mendes/Divulgação)

Guilherme Pessini, diretor de Estratégia e Planejamento do Itaú BBA (1º da esq.), João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda, Pedro Vilela, CEO da Rise Ventures e Fabio Kono, assessor especial no BNDES (Tiago Mendes/Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 17h27.

A elevação das taxas de juros pelo mundo, em especial nos Estados Unidos, pode deixar mais lento o processo de transição energética e de despoluição global, já que esse processo demanda investimentos robustos, e o custo de obter dinheiro no mercado aumentou, avalia Guilherme Pessini, diretor de Estratégia e Planejamento do Itaú BBA.

"Não acho que isso [a alta de juros] mude a direção desta agenda, mas pode mudar a velocidade. Quando o consenso das sociedades construiu o horizonte de chegar a 2050 com carbono neutro, isso foi feito em um cenario de juro mais baixo. O componente de custo financeiro pode eventualmente postergar isso", disse Pessini, durante o Congresso Brasil Competitivo. A íntegra do debate pode ser assistida aqui.

Com os juros mais altos em vários países, especialmente nos EUA, investidores acabam preferindo colocar dinheiro em opções mais seguras, como os títulos americanos, em vez de investir em projetos de mais risco, o que faz com que haja menos disponibilidade de recursos no mercado.

Pessini citou dados que apontam que seriam necessários 150 trilhões de dólares para pagar a transição energética no mundo, e 2 trilhões de dólares no Brasil.

Ele ponderou também que a agenda ambiental pode virar uma agenda de barreiras comerciais, e a diplomacia brasileira precisa ser muito hábil para evitar isso. E que o país também precisa fazer avanços na segurança pública, para evitar riscos como o de que uma área reflorestada na Amazônia com apoio dos bancos acabe sendo invadida depois, por exemplo.

Também presente no debate, Pedro Vilela, CEO da Rise Ventures, disse que o Brasil precisa mudar a visão que tem no exterior para atrair mais recursos.

"A gente é visto com um patinho feio, alto risco político, instablidade e risco cambial. O pessoal coloca dinheiro no Sudeste Asiático, na África. A gente tá no meio do caminho, um emergente que ficou parado, com uma percepção de risco muito alto. Essa percepção é a que tenho a partir de conversas limitadas, no meu rol de networking", disse Vilela.

Na conversa, Fabio Kono, assessor especial no BNDES, comentou os planos do banco para o financiamento climático. Um deles é atuar com mais força na estruturação de projetos, incluindo os de concessões de saneamento, rodovias e florestais, para atrair investimentos privados. "Só preservar a Amazônia não vai ser suficiente. Será preciso reflorestar", disse.

O assessor também comentou do financiamento dado pelo banco para a compra de ônibus elétricos pelas cidades. Neste mês, o BNDES liberou uma linha de crédito de R$ 2,5 bilhões para a prefeitura de São Paulo comprar uma frota de 1.600 coletivos. "É o carro-chefe para puxar a indústria, que precisa de demanda. Como o ônibus roda quase o dia inteiro, a conta já fecha. É um pouco diferente do carro elétrico, que fica 80% do tempo parado", comparou.

O Congresso Brasil Competitivo é realizado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) e pela Brasil AYA Earth Partners, ecossistema dedicado a acelerar a economia regenerativa e carbono zero do Brasil, além de ter a EXAME como parceiro de mídia.

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