Brasília (DF) 18/05/2023 Ex-presidente, Jair Bolsonaro, na saída do Senado federal após visitar seu filho e senador, Flávio Bolsonaro. Foto Lula Marques/ Agência Brasil. (Lula Marques/Agência Brasil)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 27 de junho de 2023 às 02h30.
Última atualização em 27 de junho de 2023 às 13h51.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta terça-feira, 27, às 19h, o julgamento de uma ação que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível.
A maior parte da sessão de quinta-feira foi ocupada pela leitura do relatório do corregedor-geral eleitoral, Benedito Gonçalves. Ele será o primeiro a votar nesta terça-feira.
A sessão também teve as sustentações orais das partes e leitura do parecer do vice-procurador geral eleitoral, Paulo Gonet, que reforçou a defesa da inelegibilidade de Bolsonaro e da absolvição de Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022.
O advogado Tarcísio Vieira Carvalho, que defende o ex-presidente Jair Bolsonaro em ação contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que a reunião com embaixadores em que o ex-mandatário desferiu ataques ao sistema eletrônico de votação foi “franciscana” e não tinha objetivo eleitoral ou golpista.
Carvalho buscou dissociar o evento de julho de 2022 com os atos golpistas de 8 de janeiro. “A reunião, nem de longe, ostenta caráter eleitoral, ostenta caráter diplomático”, sustentou.
O advogado admitiu que Bolsonaro usou “tom inadequado” na reunião com embaixadores, mas defendeu a mera aplicação de multa ao invés da imposição de inelegibilidade. “Se o presidente queimou largada em matéria de propaganda, aplique multa”, defendeu.
Carvalho chamou a ação ajuizada pelo PDT de “fantasiosa”, “impostora” e “eivada de falsidade ideológica” e acusou o partido de entrar no TSE para “catapultar candidatura cambaleante”.
A ação é movida pelo PDT contra a chapa Jair Bolsonaro-Braga Neto, derrotada nas eleições do ano passado. O processo questiona a reunião em que o ex-presidente levantou suspeitas infundadas sobre a segurança do processo eleitoral a embaixadores estrangeiros. Também foram incluídas no processo outras críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas.
Para o partido autor da ação, Bolsonaro praticou abuso de poder político e fez uso indevido dos meios de comunicação. O encontro do ex-presidente com embaixadores ocorreu em julho de 2022 no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República, e foi organizado pelo Palácio do Planalto e o Itamaraty. O evento foi transmitido ao vivo pela TV Brasil e pelas redes sociais.
O julgamento começou na quinta-feira com a leitura do relatório de Benedito Gonçalves. Na sequência, a acusação e a defesa da chapa tiveram 15 minutos cada para falar.
O procurador-geral apresentou o parecer do Ministério Público Eleitoral. Hoje, o relator fará o seu voto.
Depois do relator, a ordem de votação será:
Por se tratar um julgamento de grande repercussão política, a votação pode levar mais dias. Três sessões foram reservadas para o caso.
Além disso, um ministro pode pedir vista do processo, o que adiaria a conclusão do julgamento. Pelas regras do TSE, os ministros terão prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias, para devolver o processo ao plenário. A contagem do prazo, porém, ainda fica suspensa durante o recesso do Judiciário, que será no mês de julho. O que pode resultar que a votação seja encetada apenas em setembro.
A defesa do ex-presidente afirma ao TSE que a reunião com embaixadores não teve caráter eleitoral e, por isso, não pode ser enquadrado como abuso de poder político ou uso indevido dos meios de comunicação. Os advogados alegam que existe irregularidades processuais — como a ampliação indevida dos fatos investigados, além de violação do princípio do contraditório — e por isso defendem o arquivamento do processo.
Em manifestação sobre o processo, o vice-procurador-geral Eleitoral, Paulo Gustavo Gonet Branco, defendeu a condenação do ex-presidente por abuso de poder político. "Depois das eleições, percebeu-se uma inédita mobilização de parcelas da população que rejeitavam aberta e publicamente o resultado do pleito, por não serem legítimas", afirmou Gonet. "Estão ainda muito presentes e nítidas as imagens do dia 8 de janeiro último de destruição e de acintosa violência aos poderes constituídos. A gravidade do discurso contra a confiabilidade do sistema de votação eletrônica não poderia ter mais expressiva exposição", completou.
A possibilidade de condenação ganha fundamento pela composição do tribunal e pela resposta que o TSE pretende dar aos ataques ao sistema eleitoral. No final de maio, dois ministros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados de Moraes assumiram vagas no TSE.
Até mesmo Bolsonaro admitiu em evento de filiação de prefeitos ao PL na cidade de Jundiaí, que "os indicativos não são bons", mas ele está "tranquilo" em relação ao desfecho da votação e cobrou calma de seus aliados.
Nos últimos dias, o ex-presidente subiu o tom e disse que uma possível condenação seria uma “afronta”.
A chapa de Bolsonaro e Braga Neto é alvo de um instrumento chamado de ação de investigação judicial eleitoral (Aije). Previstas na Lei de Inelegibilidade, de 1990, essas ações podem ser apresentadas ao TSE por candidatos, partidos ou pelo Ministério Público. O objetivo é investigar “uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade”, além de utilização indevida de meios de comunicação.
Caso a Aije contra o ex-presidente seja considerada procedente, a pena aplicada é a inelegibilidade por oito anos. Ou seja, se for condenado, Bolsonaro só poderá disputar eleições a partir de 2032.
A sessão plenária do Tribunal Superior Eleitoral que irá pautar a ação contra Bolsonaro será transmitida pelo canal do Youtube da Justiça Eleitoral.