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Jogos do Rio correm risco, aponta relatório do COI

Faltando três anos para a Olimpíada, o raio X da entidade revela sem meias palavras uma sede despreparada para o evento e com problemas financeiros

Rio de Janeiro:  preparação e o financiamento para os Jogos Olímpicos de 2016 sofrem profundos atrasos que já colocam em sério risco o evento (Flickr upload bot / Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2013 às 15h14.

Lausanne - A preparação e o financiamento do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016 sofrem profundos atrasos que já colocam em sério risco o evento. Obras e estádios incompletos, esportes sem um plano claro dos locais de disputa, falta de dinheiro, de patrocinadores e um déficit crônico de quartos de hotel são apenas alguns dos desafios que a cidade enfrenta.

As informações fazem parte de um relatório "estritamente confidencial" do Comitê Olímpico Internacional (COI), obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo. Faltando três anos para a Olimpíada, o raio X da entidade revela sem meias palavras uma sede despreparada para o evento e com problemas financeiros.

A avaliação, que se contrasta aos discursos de políticos e de Carlos Arthur Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Organizador dos Jogos), será usada como base dos debates que começam neste sábado no Rio, na reunião promovida no Brasil entre o COI, governo e organizadores locais.

O informe técnico classifica os 44 capítulos da preparação em três cores diferentes: verde, para as áreas que estão em dia; amarelo, para aquelas sob ameaça; e vermelho, nos casos de atrasos que já comprometem a Olimpíada. Apenas metade da preparação está em dia.


Se o COI tem adotado um tom mais diplomático para cobrar o Rio e não vem apelando à críticas escancaradas, como a Fifa fez no caso da Copa do Mundo de 2014, a realidade é que os documentos secretos mostram um cenário dramático.

Um dos pontos que preocupam o COI é a infraestrutura, capítulo que está integralmente classificado de vermelho. No segmento de transporte, o COI pede um "monitoramento muito cuidadoso" da Linha 4 do Metrô, das obras entre a Barra e Zona Sul, a Transolimpica e a Transbrasil, todas atrasadas.

A entidade também aponta para o risco de que não haja uma frota suficiente de ônibus e pede que seja desenvolvido um plano alternativo caso a Linha 4 falhe. Vários projetos foram adiados de maio para o fim do ano, inclusive um estudo que determinaria a demanda por transporte na cidade.

O COI ainda pede que projetos de infraestrutura de abastecimento de água e eletricidade sejam "cuidadosamente monitorados", classificando esses itens de amarelo. Outra obra que aparece com um alerta amarelo é a do porto. Um atraso poderia acabar afetando os planos dos organizadores de usarem navios como hotéis durante o evento.


HOTEL - De fato, a rede hoteleira é outra que corre o risco de gerar sérios problemas e está classificada de vermelho pela avaliação. Até agora, o número de quartos contratados no Rio é de apenas 19,2 mil - o COI estima que o evento precisará de 45 mil.

O informe também revela o adiamento dos contratos com navios que seriam usados como hotéis, no porto do Rio. O prazo era que esses contratos estivessem concluídos em março de 2013. Agora, ficarão para o final do ano. Segundo o COI, houve um "interesse mais baixo de que se esperava por parte de empresas de navio".

A situação do aeroporto do Rio também merece uma luz amarela, com o plano operacional adiado de novembro de 2013 para março de 2014.

Mas são as instalações esportivas em total atraso que mais preocupam a entidade. Segundo o COI, locais de competições ainda não estão 100% confirmados. "O plano mestre de instalações esportivas precisa ser congelado agora", alerta o relatório, em uma referência às frequentes mudanças de planos pelos organizadores.


"Ainda existem muitas e frequentes mudanças de locais ou incertezas sobre a localização e especificações das instalações", critica o documento. Entre as incertezas estão as instalações para os esportes aquáticos, corrida de rua, o Maracanã, canoagem e outros. "Essas mudanças e incertezas têm ou poderão ter impactos negativos nas operações", indica o informe. Segundo o COI, o Rio teria já de saber em abril a capacidade total de todas as instalações. Mas isso foi adiado para novembro.

No caso do Maracanã, o COI alerta que processos legais podem ter um impacto ainda nos planos de adequação do complexo e, na prática, paralisar a preparação do estádio para 2016.

Uma crítica dura ainda é dirigida ao plano para Deodoro, com "atrasos adicionais no processo de licitação". "Isso coloca em risco a capacidade de ter esses locais prontos no prazo para os eventos-teste e, de uma forma mais global, impacta na conclusão efetiva do desenvolvimento inteiro da zona."

O COI pede "urgência máxima" em Deodoro, no planejamento, licitações e construção. Segundo o cronograma indicado no documento, o projeto do local deveria estar pronto em maio de 2012. Mas o novo prazo é novembro de 2013.


A entidade não deixa de criticar ainda a situação do Estádio João Havelange (Engenhão), atualmente interditado. "Um calendário integrado de construção precisa ser urgentemente exigido", aponta o COI. "Isso teria de garantir não apenas os trabalhos de correção do teto, mas outras exigências para as instalações já existentes."

O COI cobra o Rio que "demonstre com precisão" esse calendário para o Estádio João Havelange e "de garantias de que prazos e cronogramas serão respeitados sem adiamentos".

A constatação é de que o Rio está atrasado e a definição final do número de eventos, dimensão e agenda será "desafiadora diante dos atrasos nos prazos de construção". Até a garantia de energia nas instalações esportivas estaria em aberto.

DOPING - Um dos capítulos em que existe maior atraso é o do controle de doping. No informe, o COI alertava para o risco de que o Laboratório do Rio fosse descredenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), que ocorreu dois dias depois da elaboração do documento. Leis que deveriam ter sido aprovadas em junho de 2012 foram adiadas para setembro de 2013.

O COI ainda exige que governo adote leis que reduzam o risco de que recursos sejam acionados na Justiça por partes de empresas que saiam perdedoras em licitações, o que evitaria novos atrasos. Outra exigência: garantir que não haja falta de material, cimento e areia para obras.

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Lausanne - A preparação e o financiamento do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016 sofrem profundos atrasos que já colocam em sério risco o evento. Obras e estádios incompletos, esportes sem um plano claro dos locais de disputa, falta de dinheiro, de patrocinadores e um déficit crônico de quartos de hotel são apenas alguns dos desafios que a cidade enfrenta.

As informações fazem parte de um relatório "estritamente confidencial" do Comitê Olímpico Internacional (COI), obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo. Faltando três anos para a Olimpíada, o raio X da entidade revela sem meias palavras uma sede despreparada para o evento e com problemas financeiros.

A avaliação, que se contrasta aos discursos de políticos e de Carlos Arthur Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Organizador dos Jogos), será usada como base dos debates que começam neste sábado no Rio, na reunião promovida no Brasil entre o COI, governo e organizadores locais.

O informe técnico classifica os 44 capítulos da preparação em três cores diferentes: verde, para as áreas que estão em dia; amarelo, para aquelas sob ameaça; e vermelho, nos casos de atrasos que já comprometem a Olimpíada. Apenas metade da preparação está em dia.


Se o COI tem adotado um tom mais diplomático para cobrar o Rio e não vem apelando à críticas escancaradas, como a Fifa fez no caso da Copa do Mundo de 2014, a realidade é que os documentos secretos mostram um cenário dramático.

Um dos pontos que preocupam o COI é a infraestrutura, capítulo que está integralmente classificado de vermelho. No segmento de transporte, o COI pede um "monitoramento muito cuidadoso" da Linha 4 do Metrô, das obras entre a Barra e Zona Sul, a Transolimpica e a Transbrasil, todas atrasadas.

A entidade também aponta para o risco de que não haja uma frota suficiente de ônibus e pede que seja desenvolvido um plano alternativo caso a Linha 4 falhe. Vários projetos foram adiados de maio para o fim do ano, inclusive um estudo que determinaria a demanda por transporte na cidade.

O COI ainda pede que projetos de infraestrutura de abastecimento de água e eletricidade sejam "cuidadosamente monitorados", classificando esses itens de amarelo. Outra obra que aparece com um alerta amarelo é a do porto. Um atraso poderia acabar afetando os planos dos organizadores de usarem navios como hotéis durante o evento.


HOTEL - De fato, a rede hoteleira é outra que corre o risco de gerar sérios problemas e está classificada de vermelho pela avaliação. Até agora, o número de quartos contratados no Rio é de apenas 19,2 mil - o COI estima que o evento precisará de 45 mil.

O informe também revela o adiamento dos contratos com navios que seriam usados como hotéis, no porto do Rio. O prazo era que esses contratos estivessem concluídos em março de 2013. Agora, ficarão para o final do ano. Segundo o COI, houve um "interesse mais baixo de que se esperava por parte de empresas de navio".

A situação do aeroporto do Rio também merece uma luz amarela, com o plano operacional adiado de novembro de 2013 para março de 2014.

Mas são as instalações esportivas em total atraso que mais preocupam a entidade. Segundo o COI, locais de competições ainda não estão 100% confirmados. "O plano mestre de instalações esportivas precisa ser congelado agora", alerta o relatório, em uma referência às frequentes mudanças de planos pelos organizadores.


"Ainda existem muitas e frequentes mudanças de locais ou incertezas sobre a localização e especificações das instalações", critica o documento. Entre as incertezas estão as instalações para os esportes aquáticos, corrida de rua, o Maracanã, canoagem e outros. "Essas mudanças e incertezas têm ou poderão ter impactos negativos nas operações", indica o informe. Segundo o COI, o Rio teria já de saber em abril a capacidade total de todas as instalações. Mas isso foi adiado para novembro.

No caso do Maracanã, o COI alerta que processos legais podem ter um impacto ainda nos planos de adequação do complexo e, na prática, paralisar a preparação do estádio para 2016.

Uma crítica dura ainda é dirigida ao plano para Deodoro, com "atrasos adicionais no processo de licitação". "Isso coloca em risco a capacidade de ter esses locais prontos no prazo para os eventos-teste e, de uma forma mais global, impacta na conclusão efetiva do desenvolvimento inteiro da zona."

O COI pede "urgência máxima" em Deodoro, no planejamento, licitações e construção. Segundo o cronograma indicado no documento, o projeto do local deveria estar pronto em maio de 2012. Mas o novo prazo é novembro de 2013.


A entidade não deixa de criticar ainda a situação do Estádio João Havelange (Engenhão), atualmente interditado. "Um calendário integrado de construção precisa ser urgentemente exigido", aponta o COI. "Isso teria de garantir não apenas os trabalhos de correção do teto, mas outras exigências para as instalações já existentes."

O COI cobra o Rio que "demonstre com precisão" esse calendário para o Estádio João Havelange e "de garantias de que prazos e cronogramas serão respeitados sem adiamentos".

A constatação é de que o Rio está atrasado e a definição final do número de eventos, dimensão e agenda será "desafiadora diante dos atrasos nos prazos de construção". Até a garantia de energia nas instalações esportivas estaria em aberto.

DOPING - Um dos capítulos em que existe maior atraso é o do controle de doping. No informe, o COI alertava para o risco de que o Laboratório do Rio fosse descredenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), que ocorreu dois dias depois da elaboração do documento. Leis que deveriam ter sido aprovadas em junho de 2012 foram adiadas para setembro de 2013.

O COI ainda exige que governo adote leis que reduzam o risco de que recursos sejam acionados na Justiça por partes de empresas que saiam perdedoras em licitações, o que evitaria novos atrasos. Outra exigência: garantir que não haja falta de material, cimento e areia para obras.

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