"Ipiranga" de Bolsonaro, Paulo Guedes cancela compromissos em cima da hora
Estratégia da campanha é de evitar tensões com as declarações do economista
Mariana Martucci
Publicado em 21 de setembro de 2018 às 10h33.
Última atualização em 21 de setembro de 2018 às 13h50.
O economista de Jair Bolsonaro , Paulo Guedes , era esperado às 9h30 desta sexta-feira para falar, na Amcham-SP, sobre seu plano econômico. Menos de uma hora antes do início do evento, ele cancelou a presença.
Segundo a coordenação do evento, que também foi cancelado, a Amcham recebeu a notícia de que Guedes não viria mais às 8h40. O coordenador econômico do programa de Bolsonaro também cancelou sua participação no evento Expert XP que será realizado nesta sexta.
Na quinta-feira (21), com um pouco mais de antecedência, Guedes cancelou uma reunião restrita com clientes do banco Credit Suisse. O encontro estava previsto para as 18h, e o banco foi informado que o economista não mais compareceria por volta das 10h.
O cancelamento da agenda do “Posto Ipiranga” de Bolsonaro acontece após a polêmica em torno de suas declarações sobre a criação de um imposto, nos moldes da CPMF, em um eventual governo de Bolsonaro.
Na terça-feira, durante um evento fechado, Guedes afirmou que estava estudando a criação de um novo imposto que incidiria sobre todas as transações. A declaração pegou a campanha do capitão reformado de surpresa, que correu para tentar explicar o plano do economista.
Horas depois, o próprio Bolsonaro foi ao Twitter dizer que sua “equipe econômica trabalha para redução da carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema!”. Do hospital, o presidenciável ligou para Guedes para cobrar explicações, conforme noticiou o Globo.
O economista se comprometeu a dar mais detalhes sobre o plano e, horas depois, concedeu uma entrevista ao mesmo jornal dizendo que não seria um imposto a mais, mas sim uma simplificação tributária. Foi seu único pronunciamento público sobre o tema. A ideia seria substituir ao menos quatro tributos por um único imposto, proposta desenhada pelo economista Marcos Cintra, professor da FGV e presidente da Finep.
Depois dos desencontros, Bolsonaro determinou que Guedes reduzisse suas agendas de campanha. Trata-se de uma mudança perceptível para um candidato que diz não entender de economia e que qualquer pergunta sobre o tema deveria ser feita ao seu “posto Ipiranga”.
“Paulo Guedes fala coisas complexas enquanto Bolsonaro pauta sua campanha em uma mensagem simples. Não encaixa”, diz o analista político Lucas Aragão, da consultoria Arko Advice.
A estratégia da campanha de Bolsonaro, diz Aragão, seria evitar tensões. “Não é hora dele [Guedes] falar”.
Não é a primeira vez que Guedes desaparece do debate público. Na segunda-feira, ele também cancelou a presença no programa Roda Viva, da TV Cultura, que recebeu assessores econômicos dos presidenciáveis para um debate. Um dia antes, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o economista e coordenador do plano econômico de Geraldo Alckmin, Persio Arida, disse que Guedes é “um mitômano” que “nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo, tornou-se um pregador liberal.”
Com propostas nunca realizadas em outros países, como a criação de um imposto de renda negativo, e de difícil realização, como a redução de 20% da dívida pública por meio de “privatizações, concessões, venda de propriedades imobiliárias”, a ausência de Guedes deixa inúmeras questões não respondidas no momento de frágil recuperação econômica do país.