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Imigrantes haitianos enfrentam dura jornada até o Brasil

Os imigrantes enfrentam, neste caminho, grupos criminosos, meses de espera na fronteira e muitas dificuldades para encontrar emprego


	Haitianos sentados em casa, na cidade de Brasileia, no Acre: em janeiro, o governo concedeu visto de trabalho para cerca de 2.400 haitianos 
 (Marcello Casal Jr./ABr)

Haitianos sentados em casa, na cidade de Brasileia, no Acre: em janeiro, o governo concedeu visto de trabalho para cerca de 2.400 haitianos  (Marcello Casal Jr./ABr)

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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2012 às 15h01.

Rio de Janeiro - Os imigrantes haitianos que desde o terremoto que atingiu o país caribenho, em 2010, chegam ao Brasil em busca de uma nova vida, enfrentam neste caminho grupos criminosos, meses de espera na fronteira e muitas dificuldades para encontrar emprego.

Este é o caso de Desulmé Ditzler, um pintor de quadros que há um ano e dois meses deixou sua esposa e quatro filhos em Porto Príncipe. O haitiano explicou à Agência Efe no Rio de Janeiro que precisou gastar US$ 6 mil com intermediários para conseguir chegar ao Brasil.

Ditzler seguiu o sonho de muitos de seus compatriotas: encontrar na potência econômica da região um emprego digno que permita uma vida melhor para ele e sua família.

Seu objetivo era escapar das penúrias diárias de seu país, agravadas pelo terremoto de 12 de janeiro de 2010, que devastou Porto Príncipe e outras cidades, deixando cerca de 300 mil mortos e milhares de feridos e desabrigados.

Beneficiado com um visto de trabalho oferecido pelo país, Ditzler sobrevive vendendo quadros coloridos de trabalhadoras rurais aos turistas no bairro de Santa Teresa.

Ditzler é uma das vítimas dos "coiotes", que se aproveitam do desespero de muitas pessoas que saem do Haiti, e se fazendo passar por agentes de viagens ou guias dos consulados haitianos, cobram fortunas para trazê-los para o Brasil.

O artista se recorda como sua chegada em Manaus, após quatro dias de viagem de barco, foi épica: "percorremos todo o rio, foi a única coisa boa da viagem", afirmou.


Desde que o governo brasileiro anunciou a disposição de acolher os haitianos, milhares de cidadãos do país caribenho se lançaram em uma rota que parte de Porto Príncipe ou Santo Domingo, na República Dominicana, e que passa por Panamá, Equador e Peru até chegar na fronteira da Amazônia brasileira.

Neste trajeto estão sujeitos a ação das quadrilhas de tráfico de pessoas, denunciadas em 17 de setembro pela deputada Perpétua Almeida, presidente da Comissão das Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. "Se for necessário, seria preciso até mesmo se recorrer a Interpol" para combater esses grupos, disse a parlamentar.

Tomás Duleme Sylvestre é tradutor e professor de idiomas, fala francês, inglês, português e espanhol e seu sonho era poder conseguir um bom emprego no Brasil para poder trazer sua família.

Apesar de residir de forma legal no Rio de Janeiro, ele trabalha no setor de construção, com um salário que é suficiente apenas para ele pagar o aluguel e ir recuperando aos poucos os US$ 4 mil que pagou para uma "espécie de agência de viagens" para conseguir seu visto.

Duleme, de 35 anos, disse à Efe que passou três meses em Brasilea, cidade na fronteira do Brasil, Peru e Bolívia antes de conseguir seu visto de trabalho.

Os haitianos que conseguem chegar em Manaus são acolhidos pelo padre Valdeci Molinari, da paróquia de São Geraldo, que desde que eles começaram a chegar ofereceu apoio.


Molinari disse à Efe por telefone que nem todos que entram no Brasil fazem isso por meio de "coiotes" e que viu muitos chegarem sem passar pela polícia.

"Tem gente ganhando muito dinheiro com os haitianos, não pode ser que por um visto que custa US$ 200 seja cobrado US$ 2.500", denunciou.

Segundo o pároco, as quadrilhas estão localizadas em Porto Príncipe e Santo Domingo e fazem os haitianos acreditarem que sua "ajuda" é essencial para conseguir o visto.

"Os "coiotes" existem desde o início e continuam por aqui. Faz alguns dias passou um grupo que ia em uma direção quando de repente chegou um chefe que os colocou no caminho do Suriname", disse Molinari.

Em janeiro, o governo concedeu visto de trabalho para cerca de 2.400 haitianos e destinou R$ 900 mil para ajudar os imigrantes.

A Pastoral dos Imigrantes, vinculada á igreja católica, assegura que a maioria dos haitianos que chegam a Manaus são requeridos para empregos no setor da construção em estados do sul, como Paraná, Santa Catarina ou Rio Grande do Sul.

Segundo dados da Superintendência de Trabalho do Amazonas, entre janeiro e agosto deste ano foram emitidos 1.878 vistos de trabalho para haitianos em Manaus, e calcula-se que existam cerca de sete mil deles vivendo em todo o Brasil. 

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