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'Hilux do ouro': veja detalhes da operação da PRF em Roraima

Em abordagem rotineira, PRF apreendeu 103 kg de ouro em fundo falso e deteve motorista com documentos inconsistentes

Polícia Rodoviária Federal: agentes de Roraima encontraram mais de 100 kg de ouro escondidos em caminhonete. (Agência Brasil)

Polícia Rodoviária Federal: agentes de Roraima encontraram mais de 100 kg de ouro escondidos em caminhonete. (Agência Brasil)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 6 de agosto de 2025 às 09h01.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu 103 kg de ouro escondidos em um fundo falso no painel de uma caminhonete, nesta segunda-feira, durante uma abordagem de rotina na ponte dos Macuxis, em Boa Vista, Roraima. Avaliado em mais de R$ 61 milhões, o carregamento representa a maior apreensão de ouro já realizada na história do país, segundo a corporação. O motorista foi preso em flagrante. Confira abaixo o que as investigações apontam sobre o caso e o que diz a defesa.

Detalhes da abordagem e comportamento suspeito

O suspeito, identificado como Bruno Mendes de Jesus, dirigia uma caminhonete Toyota Hilux quando foi parado por agentes da PRF durante uma operação de rotina na BR-401. As respostas dadas pelo motorista, somadas aos sinais de nervosismo, levantaram a suspeita dos policiais.

“O motorista afirmou ter vindo de Manaus a Boa Vista a trabalho para atuar como fiscal de obra”, disse o agente Wannk Bastos em relato à Justiça, conforme mostra o auto de prisão em flagrante. No entanto, Bruno “não soube informar o local da obra ou a empresa responsável pela obra”. A documentação apresentada pelo motorista também se mostrou inconsistente. A caminhonete não estava registrada em seu nome, e a corporação não informou a quem pertence o veículo.

Fundo falso e a descoberta do ouro

O condutor do veículo abarrotado de ouro negou ainda ter a formação para atuar como fiscal. Bruno também não soube informar o nome da empresa contratante ou o endereço do local que seria vistoriado.

Diante das contradições e do comportamento do homem, os agentes decidiram fazer uma inspeção mais aprofundada no carro, que levava também a esposa de Bruno de Jesus e o filho do casal.

"Fizemos a abordagem e, ao verificar o interior do carro, percebemos sinais de que algumas partes haviam sido mexidas. Isso nos levou a aprofundar a inspeção", explicou Magno, ao portal G1, acrescentando que a corporação utiliza técnicas para identificar comportamentos suspeitos nas rotas mapeadas.

A guarnição logo se atentou ao painel da caminhonete: embora o veículo fosse modelo 2024, a estrutura interna mostrava sinais de manipulação recente. Um dos itens, segundo os policiais, não era original de fábrica. Como não dispunham de ferramentas para desmontar o sistema multimídia no local, os agentes conduziram o trio até a sede operacional da PRF.

Lá, com o auxílio de equipamentos adequados, a equipe desmontou o painel e localizou um fundo falso. Dentro do compartimento oculto, foram encontrados 205 lingotes de ouro — sendo 145 barras grandes e 60 pequenas, de variados pesos e tamanhos. O total do carregamento chegou a 103,35 kg do metal precioso, uma quantidade que pode configurar a maior apreensão de ouro da história da corporação. O flagrante foi registrado com a presença dos advogados de defesa, que acompanharam todo o procedimento.

Prisões e investigação da origem do ouro

Com a descoberta, Bruno recebeu voz de prisão em flagrante. A PRF informou que foi necessário o uso de algemas, já que o homem se mostrava inquieto e havia risco de fuga. Após o procedimento, no entanto, ele passou a colaborar com os agentes e teve as algemas foram retiradas.

Bruno foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal e, posteriormente, à Justiça Federal. No auto de prisão em flagrante, homologado ainda na segunda-feira pelo juiz João Bosco Costa Soares da Silva, ele foi enquadrado nos crimes previstos no artigo 55 da Lei 9.605/98 (relativo a crimes ambientais) e no artigo 2º da Lei 8.176/91 (que trata da extração ou transporte não autorizado de recursos minerais).

Na noite desta terça-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva de Bruno de Jesus e autorizou a quebra de sigilo telefônico do homem. Durante o interrogatório, o motorista disse atuar como terceirizado de uma empresa de construção, mas preferiu não esclarecer os detalhes da contratação ou a origem do ouro transportado.

Procurada pelo GLOBO, a defesa de Bruno Mendes de Jesus afirma que ele é trabalhador, primário, tem bons antecedentes e único responsável pelo sustento da família, que vive em situação de vulnerabilidade social. Destaca também que o cliente atua no setor mineral, atividade que, "embora muitas vezes carente de regularização", é "meio de subsistência para milhares de brasileiros". A defesa critica a criminalização do garimpo e confia que os fatos serão esclarecidos no decorrer do processo.

Investigações da Polícia Federal e destino do ouro

O ouro apreendido foi encaminhado à Polícia Federal, que dará continuidade às investigações para identificar a origem, o destino e a propriedade do material. A suspeita é de que o carro tenha saído de Rondônia com destino à Venezuela ou à Guiana, países que fazem fronteira com Roraima, segundo informou a Casa de Governo, órgão do governo federal que atua no combate ao garimpo ilegal em terras indígenas no estado.

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