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Dar agenda, saber focar e fulanizar ideias: conselhos de FHC para governar

"Haverá resistências grandes das corporações e a principal corporação hoje é a militar", disse o ex-presidente sobre a reforma da Previdência

Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento na Fecomercio em São Paulo em 12/12/2018 (Anderson Rodrigues/Divulgação)

Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento na Fecomercio em São Paulo em 12/12/2018 (Anderson Rodrigues/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 17h24.

Última atualização em 13 de dezembro de 2018 às 16h35.

São Paulo - Fernando Henrique Cardoso disse nesta quarta-feira (12), em evento na Fecomercio em São Paulo, que "o desafio fiscal está arraigado em interesses" e que isso será um obstáculo para a reforma da Previdência.

"Haverá resistências grandes das corporações e a principal corporação hoje é a militar", disse o ex-presidente da República.

Ele enfatizou que governar é bem mais difícil do que ganhar uma eleição e recomendou a escolha de três ou quatro coisas para focar, pois "não dá para fazer tudo. Você tem que saber o que é mais desafiador e necessário e tentar fazer”.

Um dos aspectos mais importantes para ter sucesso no governo, segundo ele, é "fulanizar as ideias" e fazer com que os deputados acreditem que o que você quer é bom para eles:

"O Congresso só funciona na medida que a agenda é dada pelo Executivo", apontou, também destacando a importância de ganhar a confiança dos corpos burocráticos do Estado e entender que cultura e hábitos não desaparecem apenas pela força da lei.

Prioridades

Entre as questões prioritárias que ele enxerga no país estão a desigualdade de renda e o domínio de territórios pelo crime organizado.

Ele avalia que a eleição expressou uma demanda dos brasileiros por ordem e segurança enquanto “tentamos não ver o vulcão em que estávamos assentados”.

Questionado por uma pessoa da plateia sobre se uma pressão popular poderia contrabalançar "forças raivosas" na oposição, FHC respondeu que "é difícil porque Bolsonaro faz parte das forças raivosas" mas ressaltou que tem visto um tom mais ameno da parte do presidente que espera que seja mantido.

A avaliação do ex-presidente é que há uma crise global da democracia, citando o exemplo dos protestos na França, causada por um atraso das instituições políticas em relação às mobilizações interpessoais via tecnologia.

"A ultima eleição que nos vimos aqui foi um fruto disso de quem entendeu essa conexão. Não estou defendendo nem atacando, estou constatando”.

Ele disse que os partidos brasileiros viraram corporações que se associam para disputar o fundo partidário, tempo de televisão e monetizar as vantagens na campanha eleitoral e que "todos os antigos partidos ruíram, incluindo o meu" na última eleição.

FHC disse que sugeriu para o PSDB a ideia de "diretórios virtuais" mas foi derrotado. Antes, ele havia brincado sobre ter pouco poder efetivo no partido, dizendo que "ninguém me obedece" e que nem sabe onde fica a sede.

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