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Hasna Aitboulahcen, de adolescente problemática a jihadista

A menina, nascida no dia 12 de agosto de 1989 em Clichy-la-Garenne, nos arredores de Paris, se transformou na primeira mulher terrorista suicida da França


	Ataque: a menina se transformou na primeira mulher terrorista suicida da França
 (Reuters)

Ataque: a menina se transformou na primeira mulher terrorista suicida da França (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2015 às 14h58.

Paris - Nascida nos subúrbios de Paris e criada em uma família adotiva, Hasna Aitboulahcen passou em poucos anos de uma adolescente sem rumo, envolvida com pequenos crimes e más companhias, para uma jihadista que morreu na operação policial contra o apartamento usado pelos terroristas em Saint-Denis.

"Onde está seu namorado?", gritava um dos agentes na madrugada da última quarta-feira, durante a ação contra o esconderijo dos radicais na cidade de Saint-Denis, que fica ao norte de Paris, onde buscavam o suposto cérebro dos ataques da sexta-feira na capital francesa, o belga Abdelhamid Abaaoud.

"Não é meu namorado" respondeu a mulher de dentro do apartamento do número 8 da rua Cormillon, local contra o qual as forças de segurança dispararam 5 mil balas em sete horas de operação.

Aitboulahcen morreu na ação ao explodir o colete explosivo que usava. A menina, nascida no dia 12 de agosto de 1989 em Clichy-la-Garenne, nos arredores de Paris, se transformou na primeira mulher terrorista suicida da França.

Sua biografia guarda muitas semelhanças com as de vários jihadistas com passaporte francês: nascidos em famílias desestruturadas dos subúrbios e com adolescências difíceis, eles flertam com o crime até serem "iluminados" pelo fanatismo religioso, se unindo às organizações terroristas como Estado Islâmico ou Al Qaeda.

Ainda muito pequena, a família de Aitboulahcen se mudou para Aulnay-sous-Bois, outro município ao nordeste de Paris, onde se instalaram em uma "cité", como se conhecem na França os bairros mais problemáticos, onde o desemprego e o tráfico de drogas fazem parte do cotidiano.

Após o divórcio seus pais, sua mãe ficou em Aulnay enquanto seu pai, um muçulmano praticante (agora de 74 anos e estabelecido no Marrocos) se mudou para o nordeste da França para trabalhar em uma fábrica da PSA Pegeout Citröen em Creutzwald, sendo visitado pela filha de vez em quando.

Depois de uma infância de maus-tratos, Aitboulahcen foi separada de sua família biológica aos 8 anos. Desde então, viveu com os pais adotivos até os 15, quando fugiu.

No começo da adolescência, com 12 anos, ela já se mostrava como uma menina difícil, que batia palmas quando via imagens dos aviões se chocando contra o World Trade Center, no atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.

Pessoas próximas a Aitboulahcen na época lembram-se dela como uma menina desobediente e desorientada, sem ter em quem se espelhar. Ela passava grande parte do tempo na rua, fumando baseados com outros adolescentes, sem um rumo claro para a vida.

Desde que fugiu de casa em definitivo aos 15 anos, vivia embriagada de vodca, inclusive durante o Ramadã, em uma época na qual ainda não tinha mostrado um mínimo interesse pela religião. Nas fotos da época, ela aparecia com calças justas, muita maquiagem, bijuterias e um chapéu de caubói.

Em 2013, ainda longe do islamismo radical, Aitboulahcen foi por sete meses gerente de uma empresa imobiliária, Beko Construction, que hoje enfrenta um processo de falência.

A metamorfose em direção ao fanatismo religioso foi paulatina, até que, há cerca de um ano, começou a usar a hijab, roupa típica das muçulmanas em países ocidentais, e depois o niqab, o véu islâmico integral.

Em 2014, em seu perfil do Facebook, começaram a aparecer fotos com armas e mensagens nas quais glorificava a esposa de Amedy Coulibaly, o terrorista que matou quatro pessoas em um supermercado judeu do leste de Paris, dois dias depois do atentado contra o jornal humorístico "Charlie Hebdo".

"Em breve irei à Síria, se Alá quiser", escrevia Aitboulahcen nas redes sociais e dizia o mesmo aos seus amigos, que não a levavam mais a sério.

Ela já se apresentava como "a prima de Abaaoud" - o suposto mentor intelectual dos atentados de Paris - apesar de isso poder ser uma forma afetuosa de se referir ao seu amigo.

A radicalização de Aitboulahcen, sua relação com Abaaoud e, em paralelo, seu envolvimento com tráfico de drogas, fizeram com que os serviços de inteligência francesa grampeassem seu telefone, segundo vários jornais locais.

Assim, eles encontraram a pista do apartamento de Saint-Denis, onde mais de cem agentes das forças especiais lançaram uma operação tão intensa que foi preciso dois dias para recuperar e analisar os restos mortais de três terroristas, que se somam aos outros oito presos no edifício ou nos arredores. 

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