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Haitianos no Brasil divididos sobre medidas imigratórias

Imigrantes comemoraram o anúncio do governo de conceder visto de trabalho a todos, mas lamentaram a decisão de proibir a entrada de novos haitianos

Porto-Príncipe, no Haiti: entrada no Brasil agora só para quem já tem visto (Getty Images)

Porto-Príncipe, no Haiti: entrada no Brasil agora só para quem já tem visto (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2012 às 14h39.

Brasília - Dois anos depois do terremoto que arrasou seu país, muitos haitianos que chegaram ilegalmente ao Brasil comemoraram a notícia de que suas estadas serão regularizadas, mas temem que as medidas imigratórias adotadas pelo governo impeçam seus familiares de reencontrá-los.

"É a melhor notícia depois do que tivemos que passar. Podemos trabalhar, enviar dinheiro para nossas famílias sem tanto risco", contou por telefone à AFP Marcelo Mourige, um haitiano de 35 anos.

Como ele, mais de mil haitianos chegaram à cidade de Brasileia (estado amazônico do Acre, fronteira com Peru) nas últimas semanas, procurando trabalho e muitas pessoas disseram que foram vítimas de 'coiotes' (traficantes de pessoas) que os assaltaram ou violentaram as mulheres na rota até o Brasil pelas fronteiras do Peru e da Bolívia.

"Perdi quase toda minha família no terremoto, só ficou minha filha que está no Haiti. Tive sorte porque não passei pelo mesmo que os outros companheiros, que foram agredidos e assaltados, só espero que minha filha possa vir com segurança", declarou Mourige.

A migração de haitianos começou pouco depois do terremoto arrasador do dia 12 de janeiro de 2010, mas se acelerou nas últimas semanas. Muitos chegaram cansados, enfermos ou com vestígios de maus tratos a Brasileia, onde receberam comida e atenção médica.

Por causa de sua chegada em massa, o Brasil - que encabeça as tropas de paz da ONU no Haiti desde 2004- anunciou na terça-feira que regularizará 4.000 haitianos, mas impôs visto aos que quiserem entrar de agora em diante - uma quota de até 100 vistos de trabalho por mês - e impuseram um maior controle nas fronteiras.

Ao chegar, os haitianos disseram que buscavam asilo político, mas como não reuniam os requisitos necessários, recebiam um visto humanitário temporário para trabalhar, segundo Nilson Mourão, secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre. Mas o problema foi se agravando com a chegada massiva das últimas semanas.


Brice Iné, outro haitiano recém-chegado a Brasileia e que receberá documentos do governo, opinou: "há muitos haitianos que querem vir, que sabem trabalhar e no Brasil há trabalho. Só espero que mais famílias não se separem", declarou por telefone este encanador de 36 anos.

A regularização foi recebida pelos imigrantes ilegais como uma solução para seus problemas mais imediatos, mas entre alguns persiste a desconfiança de que as novas medidas lhes impeçam de reencontrar seus familiares.

"Vim sozinho, mas com a ideia de encontrar muito em breve minha namorada que está no Haiti. Me alegra que possa vir sem riscos, mas não sei se darão o visto", disse Iné.

Em Brasileia, uma cidade de cerca de 20.000 habitantes, a regularização do governo federal gerou satisfação em relação às autoridades de direitos humanos, que começam a ver com preocupação a chegada desordenada de ilegais e os possíveis surtos de intolerância dos brasileiros.

"Recebemos com muita alegria estas medidas porque significam que os haitianos poderão migrar com dignidade. Ninguém poderia estar de acordo que chegassem por meio de traficantes ou coiotes", disse Mourão à AFP.

"Os que estão aqui poderão viver com dignidade, e depois ir buscar suas famílias sem nenhum problema", garantiu Mourão.

Por dia, cerca de 40 haitianos, já regularizados, estão saindo de Brasileia para o estado vizinho de Rondônia, para trabalhar nas hidrelétricas, segundo o funcionário.

Mourão explicou que também receberam numerosos telefonemas de empresários, principalmente do sul do país, interessados em contratar outros haitianos.

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