Lula e Haddad em reunião no Planalto -photo by Sergio Lima / AFP (AFP)
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Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 06h00.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve deixar o governo federal em fevereiro do próximo ano sem uma definição sobre qual será seu destino nas eleições de 2026. Segundo pessoas próximas ao ministro ouvidas sob reserva pela EXAME, o chefe da equipe econômica prefere coordenar a campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não se oporia a uma decisão do líder petista para que dispute o governo de São Paulo ou uma vaga no Senado.
O balanço de aliados dos três anos à frente da Fazenda é positivo. A leitura é que conseguiu, ao menos em parte, superar a imagem negativa que criou-se inicialmente sobre ele em dois polos antagônicos: questionado pelo mercado financeiro sobre o compromisso com o controle dos gastos públicos ao mesmo tempo que era considerado austero demais por caciques do PT.
"O paradoxo se impôs cedo: para um lado, faltava rigor fiscal; para o outro, sobrava", resume um interlocutor de Haddad.
A avaliação é que a resistência do mercado ainda existe, mas está menor e o ministro conseguiu construir uma imagem de que se preocupa em garantir previsibilidade nas contas públicas e controle de gastos.
A criação de despesas fora do que estava previsto no arcabouço fiscal e a falta de corte de gastos mantêm em relação ao governo do PT um sentimento refratário no mercado, que vê o destino econômico do país incerto.
"Não há unanimidade, mas há a percepção de que sua permanência sustenta o desenho fiscal", diz outro aliado.
Entre petistas, apesar das críticas, o movimento interno do partido para que seja candidato a governador de SP é visto como um sinal de que se manteve como o nome mais forte da legenda no maior colégio eleitoral do país.
O fato de ter vencido o embate interno e conseguido implementar a justiça tributária como discurso prioritário do governo também é apontado como uma prova de que segue como um nome influente no PT.
No entanto, não menos importante nas análises do entorno de Haddad são as brigas que acumulou à frente da Fazenda. Pessoas próximas afirmam que ele deixará o comando da equipe econômica após colecionar uma série de rusgas dentro do governo e isolado no Palácio do Planto.
A relação que era ruim com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, piorou; a distância com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, aumentou; o respaldo do ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, não se concretizou; e os embates com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não diminuíram.
A fritura no governo e no PT ganharam força em momentos em que assumiu o ônus de decisões impopulares, como a taxa das blusinas e o recuo da fiscalização do pix. Acusado de tratar de forma burocrática assuntos sensíveis e com potencial negativo para o governo, porém, costuma afirmar nos bastidores o sucesso político de sua gestão fica evidenciado por ter se mantido no cargo apesar de todas as críticas.
"O desgaste político ficou concentrado na Fazenda, mesmo quando as decisões finais não partiram exclusivamente dela. No Congresso, a dinâmica foi semelhante. Haddad defendeu pessoalmente projetos, emendas e entregas da área econômica, operando com pouca blindagem política. Ainda assim, permaneceu", diz um interlocutor do ministro.
A influência com Lula também se manteve, embora o presidente não tenha referendado todas suas decisões. Prova de que a relação segue boa é que Haddad deve conseguir emplacar seu sucessor e deixar o atual secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, como chefe da pasta.