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Haddad não admite que PT abra mão de candidatura Lula

Ex-prefeito de São Paulo também defende que partidos de esquerda decidam desde já apoio eleitoral

Haddad: ex-prefeito de São Paulo mantém conversas informalmente com partidos como possível substituto de Lula (Wilson Dias/ABr/Agência Brasil)

Haddad: ex-prefeito de São Paulo mantém conversas informalmente com partidos como possível substituto de Lula (Wilson Dias/ABr/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 18 de abril de 2018 às 19h18.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, hoje um dos homens mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e coordenador de seu programa para a Presidência da República, não admite em nenhum momento que o PT pode abrir mão de Lula em uma chapa presidencial, mas defende que a esquerda precisa decidir já se estará unida mais à frente nas eleições deste ano.

Nos últimos meses, com o aval do próprio Lula, o ex-prefeito tem conversado diretamente com nomes como o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, e o presidente do PSB, Carlos Siqueira, para “deixar os canais abertos”, mesmo que, no momento, o PT não admita outro candidato que não seja o ex-presidente.

“Não há garantia de ter um candidato único de esquerda? Não. Mas no segundo turno, se houver um candidato de esquerda vamos estar todos juntos? Temos que ter certeza disso já. E eu penso que estaremos juntos”, disse à Reuters, em sua primeira entrevista desde a prisão de Lula, e uma das poucas concedidas nos últimos meses.

Haddad defende a necessidade de uma união do que chama de “centro-esquerda” desde seu período na prefeitura, especialmente depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em um quadro de absoluta fragmentação em todos os espectros políticos.

“Está se confirmando um quadro que eu mesmo julgava improvável, e que talvez ainda se reverta, que é de fragmentação tanto da direita quanto da esquerda. Você tem aí mais de dez nomes colocados (para a disputa presidencial) e isso se expressa nas pesquisas. Com exceção do presidente Lula, ninguém tem mais de 20 por cento de intenções de voto”, avaliou.

Apesar da dificuldade de arregimentar apoios para um governo extremamente mal avaliado como o atual, de Michel Temer, Haddad considera que é preciso ter cuidado com a ideia de que a direita --que, segundo ele, hoje se intitula centro-- irá continuar dividida.

“Porque a direita tem um projeto que é a base de sustentação do governo Temer --e não estamos falando apenas do MDB, mas sobretudo DEM e PSDB, que são sócios desse condomínio que governou o país por três anos e vão tentar manter esse projeto em curso pós 2018”, disse.

O ex-prefeito ressalta que a esquerda também está dividida, especialmente pelo risco de Lula não poder ser candidato. Isso pode ser revertido, disse, com a confirmação do ex-presidente como candidato ou pelo apoio do PT a algum outro candidato de centro-esquerda. Uma terceira hipótese, afirmou, é uma outra candidatura própria do PT.

“A terceira hipótese é o PT lançar candidato em função da preferência eleitoral que tem, que chega a 20 por cento, somado ao prestígio do presidente Lula e sobretudo ao candidato que ele indicar. O quadro não está definido, o momento atual é de fragmentação e isso deve prosperar por semanas, até meses, dois, até três, mas ainda há condições de reversão”, afirmou.

Dois projetos

Haddad defende que as próximas eleições vão levar para o eleitor a polarização que tem marcado o país, em uma decisão entre projetos de centro-esquerda e de centro-direita.

“Na verdade só há dois projetos no páreo. Há detalhes a respeito dos dois que podem ser motivo de divergência, mas existe um projeto antissocial e antinacional, representado pela centro-direita, e um projeto social pela centro-esquerda. E está muito claro na cabeça das pessoas”, disse.

“O desafio da direita é apresentar um candidato que siga com essas reformas que eles estão patrocinando desde 2016 sem dizer que são herdeiros do governo Temer. Nosso desafio é menor. Somos todos oposição a essa agenda do governo Temer que é altamente concentradora de renda.”

Emissário de Lula para conversas com outros partidos de centro-esquerda, Haddad ressalta que não há tratos concretos de aliança porque o PT está fechado, ainda, na candidatura do ex-presidente, mesmo com a admissão que o quadro está mais difícil.

Ainda assim, o ex-prefeito teve a benção de Lula para conversas que têm a intenção de não fechar portas para uma futura aliança.

“A conversa com Ciro Gomes, com Siqueira (Carlos, presidente do PSB)... minha relação com Guilherme Boulos é muito próxima desde a prefeitura. Essa tarefa de manter canais de diálogo desobstruídos é uma orientação, é uma prática do presidente Lula desde o sindicato dos metalúrgicos, e essa diretriz está mantida, de estreitarmos laços”, explicou Haddad.

“Porque há o primeiro turno, o segundo e há o governo. Então é importante desde já estarmos muito próximos. Meu desenho é que a centro-esquerda ganha a eleição. É preciso conversar. São três etapas. Pode ser que as pessoas se reúnam na primeira, na segunda, mas certamente têm que estar preparadas para se reunir na terceira.”

"Unidade absoluta"

Nas semanas que antecederam a prisão de Lula, Haddad foi um dos interlocutores mais constantes do ex-presidente. É visto como um “plano B” no PT, o nome para substituir o ex-presidente na urna com a cada vez mais certa impugnação da candidatura pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou para compor uma chapa com um dos partidos aliados, se o PT aceitar, pela primeira vez, ceder a cabeça de chapa.

Segundo fontes ouvidas pela Reuters, o próprio Lula já admitiu, a um pequeno grupo de petistas mais próximos, pouco antes de sua prisão, que Haddad talvez tivesse que começar a se preparar para assumir a candidatura. O ex-prefeito, no entanto, nega que essa discussão tenha realmente começado.

“O PT está unido em torno dessa causa que representa o presidente Lula. A unidade em torno da figura dele é absoluta, não há dissidência em torno disso. Repito que eu não participei de nenhuma reunião, de nenhuma instância onde foi aberta essa discussão”, disse.

É fato que Lula foi levado para Curitiba sem deixar claro os rumos que o partido deveria tomar. Enquanto esteve em São Paulo, Lula deu aval para conversas com possíveis aliados. Conseguiu unir em torno de si nomes como Manuela D’Ávila, pré-candidata à Presidência pelo PCdoB, e Guilherme Boulos, pré-candidato pelo PSOL e, na interpretação de alguns, chegou a apontá-los como possíveis herdeiros políticos.

No entanto, isolado em Curitiba, pelas restrições impostas pela execução penal, Lula não tem conseguido transmitir ao partido os rumos que pretende dar a sua candidatura, de Haddad ou de quem quer que seja.

O próprio Haddad, coordenador da sua campanha, ainda não conseguiu ver o ex-presidente. Apesar de ser advogado, inscrito na OAB, o ex-prefeito ainda não conseguiu ser incluído na lista da defesa para ter acesso ao ex-presidente --o que pode acontecer nesta semana.

Perguntado se Lula e o partido têm consciência de que o cenário mais provável é que o presidente não dispute a eleição, Haddad diz que nem Lula, nem o PT são “ingênuos”.

“O partido não é ingênuo, tem quase 40 anos de vida. Sabe dos riscos e tomou essa decisão. É uma decisão de toda a Executiva. Eu reconheço que é um partido diferente, talvez outro partido já tivesse tomado outra decisão. Mas não foi a decisão que o PT tomou”, disse.

“O presidente também não é ingênuo. Ele sabe o que está em curso. Há várias declarações públicas dele, dizendo que não deram o golpe para depois permitir que ele volte à Presidência. Ele disse isso publicamente. Mas a posição dele é de insistir enquanto houver recursos à mão.”

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