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Guedes disse que só sairá do governo junto comigo, diz Bolsonaro

Em entrevista concedida ao filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro, o presidente afirmou que Guedes não demonstrou interesse em deixar o governo

Em entrevista, Bolsoanro falou sobre Guedes, partido para 2022, voto impresso e armas (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

Em entrevista, Bolsoanro falou sobre Guedes, partido para 2022, voto impresso e armas (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 20h38.

Última atualização em 19 de dezembro de 2020 às 20h45.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em vídeo publicado neste sábado, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a ele que só deixará o governo no fim do mandato, mas reconheceu que o ministro fica irritado e chateado diante da dificuldade de implementação da agenda econômica.

Em entrevista concedida ao filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente foi questionado se Guedes já demonstrou interesse em deixar o governo. "Não demonstrou para mim", afirmou o presidente.

"Lógico que a gente vê que, de vez em quando, ele fica irritado, porque certas medidas dependem de votações. Eu sei como funciona o Parlamento, ele está aprendendo ainda", disse Bolsonaro.

"Ele quer resolver e fica chateado. No tocando a sair, ele falou que vai sair comigo quando acabar o meu mandato", acrescentou.

Guedes tem enfrentando dificuldades dentro do Congresso, e até mesmo no governo, para implementar diversas medidas da sua agenda econômica, como as privatizações. O ministro já reclamou em público que "acordos políticos" dificultam o seu trabalho.

Na entrevista ao filho, que foi divulgada nas redes sociais do deputado, Bolsonaro também acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de ter deixado caducar a medida provisória da regularização fundiária, que, segundo Bolsonaro, ajudaria a combater o desmatamento e as queimadas na Amazônia.

Ambientalistas, no entanto, afirmam que a MP representaria a legalização da grilagem. Por ser considerado polêmico, o texto não foi votado no Congresso durante a pandemia de Covid-19.

Na quinta-feira, Bolsonaro também acusou Maia de ter deixado caducar a MP que autorizaria o pagamento da 13ª parcela a beneficiários do Bolsa Família este ano, o que foi posteriormente negado pelo próprio governo. Segundo Guedes, a equipe econômica pediu que a MP não fosse votada devido ao impacto fiscal.

Bolsonaro também aproveitou a entrevista para afirmar que espera que o próximo presidente da Câmara coloque em votação medidas do interesse de sua base eleitoral, como a ampliação do acesso a armas. O governo apoia a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), que irá enfrentar um candidato ainda não definido do grupo de Maia.

Questionado na entrevista sobre a declaração que deu, como deputado federal, ao votar pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, quando citou o ex-chefe do principal órgão de repressão da ditadura militar, o DOI-Codi, Carlos Alberto Brilhante Ustra, Bolsonaro disse que aproveitou a ocasião para "resgatar a honra e a memória de um grande brasileiro".

Ustra é apontado como autor de torturas e violações de direitos humanos durante o período do regime militar.

Partido para 2022

Bolsonaro reconheceu riscos de não conseguir o registro para o partido Aliança Pelo Brasil a tempo das eleições de 2022, mas afirmou que, caso esse projeto não se concretize, deverá se filiar a um novo partido em março de 2021.

"Pessoal da direita aí, vai ter partido de direita para 2022", disse Jair Bolsonaro, em entrevista publicada no canal de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no YouTube.

"Está difícil, burocratizou-se muito a questão da formação de partido; Se eu tivesse feito lá atrás um partido, alguns anos atrás, sem problema nenhum. Agora decisão minha: março, se o Aliança não estiver formado em março, é possível formar sim, mas se não estiver formado, já estou namorando aí alguns partidos, vou fechar com um, para esse pessoal poder se preparar para 2022", explicou o presidente.

Como mostrou o Estado em reportagem publicada em novembro, lançado para ser o partido de Jair Bolsonaro há pouco mais de um ano, o Aliança pelo Brasil ainda é uma incógnita e ninguém arrisca dizer se, de fato, o projeto sairá do papel para abrigar a candidatura à reeleição do presidente, em 2022. O próprio Bolsonaro já admite a possibilidade de se filiar a outra sigla em março de 2021.

Até novembro, o Aliança conseguiu apenas 10% das assinaturas necessárias para impulsionar o projeto de Bolsonaro. O presidente deixou o PSL, legenda pela qual se elegeu, há um ano, após muitas disputas pelo controle da máquina partidária e de seus recursos.

Nesta semana, o presidente já havia dito que definirá "mais ou menos" em março seu novo partido e candidatura à reeleição. Ele disse que tem conversado com algumas legendas, entre elas o Progressistas e o PTB.

Projetando 2022, seja com o Aliança pelo Brasil, seja com um novo partido, Bolsonaro disse esperar fazer 10 das 27 vagas para o Senado que estarão na disputa, e entre 70 a 80 deputados federais, dos 513 da Câmara dos Deputados. "Aí é um partido que vai começar a orgulhar o povo brasileiro com suas ações", disse ele, falando que os interessados deverão passar por uma seleção.

Os comentários vieram instantes após Bolsonaro dizer que não era momento de 2022. "Se eu estivesse pensando em eleição em 2022, teria sido ativo nas eleições municipais e não fui", disse. Segundo o presidente, ele não fez mais do que "quatro lives de um total de três horas", citando "alguns nomes de prefeito e vereador pelo Brasil". "Uns foram eleitos, reeleitos, outros não. A imprensa falou que eu perdi: eu pergunto à imprensa quantos prefeitos eu tinha? Zero. Agora quem perdeu foi a esquerda que perdeu barbaramente o número de prefeituras do país", disse.

Voto impresso

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a implantação do sistema do voto impresso para o pleito de 2022 e afirmou que após as eleições das mesas no Congresso vai haver uma tentativa de aprovar a proposta de emenda à Constituição que prevê esse formato de votação. Envolvido com a escolha dos próximos presidentes da Câmara e do Senado, que serão eleitos em 2021, o presidente lembrou que a colocação do assunto em pauta estará "de acordo" com a composição das mesas. O planalto apoia o nome do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Acabando as eleições da mesa - de acordo com sua composição, pessoas sempre apontam para o presidente, tem que votar em deputado que realmente de conta -, nós temos como aprovar essa PEC", disse Bolsonaro em entrevista gravada ao canal de vídeos do filho 03 e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Bolsonaro afirmou que não "dá pra aceitar mais a desconfiança no voto eletrônico no Brasil". "Agora, esse sistema eletrônico, eu não confio nele. E eu acredito que 70% ou mais da população também não acredita", disse." E acrescentou: "A gente vai naquela máxima velha. Quem ganha a eleição não é quem vota, é quem conta o voto", disse o presidente eleito no pleito de 2018.

A prática de Bolsonaro de questionar a confiabilidade do sistema eleitoral é recorrente. Sem provas, o presidente já afirmou em diversas ocasiões que houve fraude na eleição de 2018, quando disputou o segundo turno com o petista Fernando Haddad e saiu vitorioso. Em viagem aos Estados Unidos, ele chegou a dizer que tinha provas de que tinha vencido no primeiro turno. Ele, no entanto, jamais apresentou a comprovação.

O Supremo Tribunal Federal (STF), por sua vez, já decidiu que é inconstitucional a adoção do voto impresso, ao concluir que a medida viola o sigilo e a liberdade do voto. O sistema foi barrado em 2018, atendendo a um pedido feito pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. A decisão da Corte foi confirmada neste ano pelo plenário, em julgamento virtual concluído em setembro.

Como mostrou reportagem, a impressão dos votos nas eleições brasileiras teriam um custo de R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos ao longo de dez anos, segundo estimativas feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mencionando tamnbém a decisão do STF, Bolsonaro minimizou o que seria gasto para implantar o sistema.

"Como diz que a democracia não tem preço, se vamos gastar mais R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões para botar a impressora do lado, vamos fazer isso aí. E aprovando via PEC, vamos botar em prática", disse.

Armas

Em mais uma defesa pela liberação geral de armas, o presidente Jair Bolsonaro disse que o acesso ao armamento ainda é limitado no Brasil e que fará de tudo para ampliar as autorizações para que a população se arme.

"O comércio de armas no Brasil ainda está restrito. Essas armas de maior potência que o pessoal tem vêm de fora, vem de há muito. Agora... os caras querem sempre relacionar o armamento com o número de violência", disse o presidente, durante entrevista que concedeu ao próprio filho.

Todos os estudos já realizados mostram que o aumento da violência e das mortes por armas de fogo estão diretamente atrelados ao acesso às armas.

Bolsonaro lembrou que boa parte das mudanças possíveis sobre o assunto precisam passar pelo Congresso Nacional, mas declarou que não medirá esforços para que haja maior liberação. "No que depender de mim... depende do parlamento, muita coisa... a arma vai ser bastante democratizada no Brasil."

Eduardo Bolsonaro perguntou ao pai sobre o que policiais, atiradores, caçadores e colecionadores podem esperar sobre o assunto para o próximo ano. "No que depender de mim, o máximo de liberação", respondeu o pai.

O presidente repetiu a frase que ficou conhecida após o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril vir a público. Na ocasião Bolsonaro afirmou que queria a população armada para "impedir uma ditadura no País", e exigiu que o ministro da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, e o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, tomassem providências. "Eu quero todo mundo armado! Que o povo armado jamais será escravizado."

Nesta semana, Bolsonaro reclamou da recente decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a alíquota zero para importação de revólveres e pistolas. Em evento em Porto Seguro (BA), o presidente afirmou que o STF não poderia revogar a isenção por não "gostar de arma".

A flexibilização de regras que facilitem a posse e o porte de armas no País é uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Em junho, o Estadão mostrou que lobistas e empresários de armas e munições têm presença assídua nos gabinetes do governo de Bolsonaro - de janeiro a abril deste ano foram ao menos 73 audiências e reuniões com representantes do setor.

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