Grupo de mediação da PM tenta evitar protesto do Passe Livre em SP
Movimento Passe Livre no centro da capital paulista luta contra o aumento da tarifa dos transportes públicos de R$4 para R$4,30
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de janeiro de 2019 às 20h44.
Última atualização em 10 de janeiro de 2019 às 20h44.
A Polícia Militar de São Paulo estreou nesta quinta-feira, 10, um grupo de mediação para evitar danos ao patrimônio e pessoas feridas no protesto marcado pelo Movimento Passe Livre (MPL) no centro da capital paulista contra o aumento da tarifa dos transportes públicos de R$ 4 para R$ 4,30. De coletes azuis, com a inscrição "mediador", três agentes da PM buscavam informações e faziam pedidos a representantes dos manifestantes.
O ato do MPL tinha concentração marcada para as 17 horas, na Praça Ramos de Azevedo, na frente do Theatro Municipal. Por volta das 18 horas, o público ainda não enchia a praça - a PM não fez estimativa do número de manifestantes. O tenente Crúvel Clemente, do 7° Batalhão da PM, um dos negociadores, solicitou que os manifestantes retirassem as hastes das bandeiras e que informassem qual seria o itinerário do protesto.
O primeiro pedido não foi bem recebido pelas duas negociadoras do MPL, Andressa e Larissa, que se comprometeram a discutir o tema durante uma assembleia antes de o ato sair. Por fim, a PM cedeu nesse ponto. A segunda proposta obteve resposta positiva: ambas se comprometeram a comunicar todo o itinerário.
Mais tarde, porém, o negociador da PM disse a representantes do MPL que o trajeto informado pelo grupo, até a Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, não poderia ser feito porque o trânsito da cidade não tinha como ser organizado a tempo. As manifestantes argumentaram que o trajeto já estava decidido e que estava sendo informado à PM.
O tenente Clemente sugeriu, então, às representantes que elas fizessem outro trajeto, até a Praça Roosevelt, no centro, mas as jovens argumentaram que não havia mais tempo (a marcha já havia começado). O objetivo da PM era evitar que o ato chegasse à Avenida Paulista e se encerrasse lá.
Em protestos anteriores do MPL, após o encerramento oficial, com a convocação do próximo ato, black blocs começavam a depredar bens públicos e privados. Embora as manifestantes digam que o ato se encerrará pacificamente. Às 19h45, o grupo marchava pela Avenida São João, na altura da Ipiranga, na região central da cidade. Ainda havia impasse sobre o destino final dos manifestantes.
Na Avenida Ipiranga, já era possível ver manifestantes mascarados em meio ao grupo. Antes de o protesto começar, o mediador da PM havia pedido que não houvesse manifestantes com rosto coberto.
As reivindicações
O protesto tem bandeiras do PSTU, do PCB e da Conlutas. Manifestantes convocavam a população a apoiar a greve do funcionalismo público municipal, marcada para o dia 4 contra a reforma da previdência dos servidores de São Paulo, já sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB).
Embora o prefeito e o governador João Doria (PSDB) sejam os principais alvos nos cartazes, outros grupos também são provocados no ato. "Não vai ter paz, mexeu com a tarifa, mexeu com Satanás" é um dos gritos, uma resposta a discursos religiosos do primeiro escalão do governo Bolsonaro, que tem feito ataques verbais aos grupos de esquerda.
Membro do MPL destacada para falar com a imprensa, a manifestante Gabriela Dantas diz que o objetivo do ato é protestar contra o aumento da tarifa em índices maiores do que o salário mínimo. "Tivemos um aumento salarial abaixo da inflação e um aumento da tarifa acima da inflação".
A estudante de linguística Juliana Vignado, de 27 anos, dizia esperar um protesto pacífico, quando falou com o jornal ainda na concentração do ato. "Acompanho os meninos do MPL há muitos anos e sei da seriedade deles. Minha preocupação é com a repressão policial".
O casal Rafael Selassie, de 17 anos, e CJ Backer (a jovem não quis dar o nome), de 18, disseram acreditar que o protesto não revogará os aumentos, como ocorreu em 2013. "Os governos hoje são muito mais repressores, de corte de direitos", disse ela. "Mas nosso papel é ir para a rua", completou ele. "Democracia não é o governo de todos. É o da maioria. Então temos de construir a nossa", finalizou CJ.