Haddad e Galípolo em entrevista em 2024 (Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 06h00.
Integrantes da equipe econômica e do entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmam nos bastidores que o governo federal ampliará a pressão contra o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, caso não haja corte na taxa de juros em janeiro.
Nesta quinta-feira, 18, o chefe da autoridade monetária evitou sinalizar se haverá redução da taxa Selic em janeiro ou em março, que é a principal aposta do mercado atualmente. Segundo ele, o BC não tem dado sinal nem fechado porta sobre o início dos cortes.
A avaliação entre petistas com trânsito no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda é que, caso não se inicie o processo de corte em janeiro, a irritação no Executivo com a condução da política monetária deve aumentar e tensionar a relação com Galípolo.
A leitura de três integrantes do alto escalão da Esplanada ouvidos sob reserva pela EXAME é que deixar para março seria temerário porque fatores externos e inesperados podem mudar o ambiente econômico e levar a novos adiamentos.
As próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) estão marcadas para 26 e 27 de janeiro e 17 e 18 de março. Na penúltima reunião, o colegiado manteve o juros em 15% e emitiu um comunicado duro em relação às perspectivas econômicas – na ocasião, o mercado se dividiu sobre a data de início dos cortes de juros.
Na última, houve pouca mudança no texto e o tom foi o mesmo, o que ampliou as previsões de que a tendência é que a redução comece em março e acendeu o alerta na equipe econômica. As declarações de Galípolo nesta quinta deram força à tese de que o corte pode se iniciar em janeiro, mas a falta de um sinal claro do Banco Central sobre o tema tem acendido o alerta em governistas.
“O Lula tem uma relação ótima com o Galípolo, mas uma hora a paciência acaba”, afirma um petista próximo do presidente.
O argumento do Banco Central é que o mercado de trabalho está muito aquecido, o que pode pressionar a inflação, além de afirmar que as expectativas futuras de inflação estão desancoradas. Um dos fatores que pesa nesse comportamento é o temor do mercado financeiro sobre a adoção de uma política fiscal expansionista no ano eleitoral. O BC avalia que a taxa elevada de juros neste momento — a maior em quase 20 anos — é necessária para fazer a inflação convergir para a meta de 3%.
Haddad, porém, tem feito cobranças reiteradas para que a autoridade monetária corte os juros por entender que a taxa atual sufoca o crescimento econômico. Nesta quinta-feira, o ministro disse que considerava correta a postura do Banco Central no início do ano em manter a Selic em 15%, mas afirmou que o corte já deveria ter começado.
No entanto, ele negou divergência de fundo com Galípolo.“Nunca divergimos sobre a direção da política, houve debate sobre a dose, a intensidade, não sobre direção”, disse.