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Governo desperdiça testes para covid-19; Bolsonaro tenta culpar estados

Estoque supera o que o país aplicou no sistema público de saúde até hoje, que foi de 5 milhões de testes

Covid-19: testes não foram distribuídos e estão no depósito em Guarulhos, afirma o Ministério da Saúde (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
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Reuters

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 18h11.

Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 18h49.

O presidente Jair Bolsonaro tentou culpar nesta quarta-feira os governos estaduais pelo encalhe de quase 7 milhões de testes para diagnóstico de covid-19 que estão guardados em um depósito no aeroporto de Guarulhos e vencem até janeiro de 2021.

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, os testes do tipo RT-PCR comprados pelo Ministério da Saúde que vencem entre dezembro e janeiro somam 6,86 milhões de unidades. Outros 212.900 vencem em fevereiro e 70.800, em março. O estoque supera o que o país aplicou no sistema público de saúde até hoje, que foi de 5 milhões de testes.

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Em uma postagem em redes sociais, Bolsonaro foi cobrado por uma apoiadora sobre a notícia do desperdício de ter testes estocados que podem perder a validade.

"Todo o material foi enviado para estados e municípios. Se algum estado/município não utilizou deve apresentar seus motivos", escreveu Bolsonaro.

O próprio Ministério da Saúde desmentiu o presidente. Em nota, admitiu que os testes não foram distribuídos e estão no depósito em Guarulhos. Apesar de não admitir diretamente que os testes estão para vencer, o ministério informa que devem chegar nesta semana "estudos de viabilidade estendida" para os testes em estoque, que serão entregues para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os estudos poderão permitir que os testes possam ser usados por mais algum tempo, para além do prazo de validade inicial, que é de oito meses.

"Cabe ressaltar que os testes RT-qPCR são distribuídos de acordo com as demandas dos estados e que o ministério se mantém à disposição dos entes para dar suporte às ações de monitoramento, diagnóstico, tratamento e acompanhamentos dos casos, além de incentivar as ações de prevenção e assistência precoce nos serviços de saúde do SUS", informou o ministério.

A pasta diz ainda que já distribuiu 9,3 milhões de testes RT-PCR aos estados e que 5,04 milhões já foram usados.

Também em nota, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) afirma que alertou diversas vezes o Ministério da Saúde sobre a falta de insumos para coletar o material a ser testado, como tubos e swabs, e de insumos para extração do material genético para os exames RT-PCR.

De acordo com os secretários, os insumos para a segunda etapa do teste, a chamada amplificação, estavam de fato disponíveis — são os que estariam armazenados em Guarulhos — mas sem o restante do material eles não poderiam ser usados.

"Ao longo dos últimos meses, o Conass alertou para o problema. Passamos boa parte da pandemia com dificuldade para aquisição de insumos de coleta. O repasse desse material para estados só ocorreu a partir de agosto. Os insumos para extração do material genético viral e equipamentos desta etapa, por sua vez, somente foram repassados a partir de setembro", diz o texto.

Além disso, dizem os secretários, o contrato para fornecimento desse material foi cancelado pelo Ministério da Saúde e ainda não foi feito outro, o que pode impedir o uso dos testes mesmo que o ministério consiga a extensão do prazo de validade.

Carlos Lula, presidente do Conass, disse à Reuters que os secretários não tinham conhecimento de que o ministério tinha todo esse material em estoque.

"No ritmo que estão sendo feitos os testes é muito improvável que se consiga usá-los antes do prazo de vencimento. É um absurdo", afirmou à Reuters.

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