Gilmar critica acordo com JBS e Barroso rebate: "eu vi a mala"
Gilmar Mendes disse que acordo de delação da JBS causou "vexame institucional"
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de dezembro de 2017 às 13h11.
Última atualização em 21 de dezembro de 2017 às 09h56.
Brasília - Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes voltaram a se enfrentar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 19, durante sessão de julgamento que discute a extensão da imunidade presidencial e o desmembramento das investigações do "quadrilhão do PMDB da Câmara".
Enquanto o ministro Dias Toffoli fazia a leitura do voto, Gilmar Mendes o interrompeu para criticar a homologação da delação premiada do empresário Joesley Batista.
"Nós aqui referendamos a delação de Joesley naquela época. Já se sabia que era chefe de quadrilha, 'ah mas vamos fazer assim porque o doutor Janot quer'. Referendamos (homologação da delação da JBS). Grande erro. Caso grave de erro", criticou Mendes, em referência ao acordo de colaboração firmado pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot.
"Populismo judicial é responsável por esse tipo de assanhamento. A história não vai nos poupar. Se continuarmos com a covardia com que tratamos os temas, o tribunal vai ser cobrado. Isso é vexaminoso, é ruim. O que é o peso de um trabalho mal feito? Trabalho precipitado, sem análise, causa esse tipo de coisa, de constrangimento", completou o ministro, dizendo que o episódio provocou um "vexame institucional".
Tragédia
Sem se dirigir diretamente a Gilmar Mendes, Barroso aproveitou a sessão para logo em seguida rebater as afirmações do colega.
"Eu ouvi o áudio, 'Tem que manter isso aí, viu'. Eu vi a mala de dinheiro, eu vi a corridinha na televisão. Tudo documentado", afirmou Barroso, em referência às filmagens que mostram o ex-deputado federal e ex-assessor especial da Presidência da República Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) carregando uma mala de dinheiro.
"Nós vivemos uma tragédia brasileira, uma tragédia da corrupção que se espalhou de alto a baixo. É a cultura de desonestidade em que todo mundo quer levar vantagem", criticou Barroso.
Para o ministro, há "diferentes visões da vida e do País", mas não há "uma investigação irresponsável".
"Há um País que se perdeu pelo caminho, naturalizou as coisas erradas e temos o dever de enfrentar isso. E de fazer um novo País, ensinar as novas gerações de que vale a pena ser honesto, sem vingadores mascarados, sem achar que ricos criminosos têm imunidade", ressaltou.
Em outubro deste ano, Barroso e Gilmartrocaram duras acusações durante a sessão plenária da Suprema Corte. Naquela sessão, Barroso disse que Gilmar "vai mudando a jurisprudência de acordo com o réu" e que promove não o Estado de Direito, mas um "Estado de compadrio". Também afirmou que o colega tem "leniência em relação à criminalidade de colarinho branco"
Gilmar Mendes, por sua vez, atribuiu naquela sessão ao colega a pecha de fazer "populismo com prisões". Gilmar disse que Barroso soltou José Dirceu no mensalão e ironizou o fato de o ministro ter defendido "bandido internacional" - em referência indireta ao caso do italiano Cesare Battisti, de quem Barroso foi advogado antes de integrar a Corte.
Conciliador
O debate desta segunda-feira, na última sessão plenária do STF neste ano, concentrou-se no campo das ideias e não nos ataques pessoais. Ao final das ponderações de Barroso, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, tentou adotar um tom conciliador.
"Toda corrupção tem de ser punida porque é crime. O Supremo tem compromisso com a Constituição e a ética constitucional. Ninguém quer um Brasil e uma política corruptos e se quiser, não será de forma alguma aceito", disse a presidente da Corte.