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Gases tóxicos motivaram operação de guerra no porto de Santos em 2017

Na época, uma operação foi montada em alto mar para exterminar com 115 cilindros de gases tóxicos, inflamáveis e cancerígenos armazenados por duas décadas

Porto de Santos: materiais explosivos mantidos em armazéns por anos são possível causa das explosões da última terça em Beirute, no Líbano (Germano Lüders/Exame)

Porto de Santos: materiais explosivos mantidos em armazéns por anos são possível causa das explosões da última terça em Beirute, no Líbano (Germano Lüders/Exame)

Janaína Ribeiro

Janaína Ribeiro

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 07h40.

No final de setembro de 2017, uma operação de guerra foi montada em alto mar para exterminar com 115 cilindros de gases tóxicos, inflamáveis e cancerígenos encontrados no Porto de Santos. Drones, submarinos, reatores, rebocadores além de 12 técnicos da empresa de emergências Suatrans foram necessários para o sucesso da operação que aconteceu a 100 km da costa.

Conhecida através de um episódio de Breaking Bad, a fosfina, substância utilizada pelo Estado Islâmico em ataques terroristas, foi encontrada em dezembro de 2014 armazenada em cilindros datados de 1995. Silano, fosfina e diazometano também faziam parte dos gases letais abandonados no armazém 11. À época, a empresa estatal que administra o Porto de Santos, a Codesp, alegou não ter achado os responsáveis,  já que a empresa dona da carga, a SID Microeletrônica, do grupo Sharp, tinha declarado falência. A empresa era uma das principais fabricantes de componentes eletrônicos para TVs, computadores e caixas automáticos do país.

A situação precária dos cilindros, cujas válvulas tinham extrapolado o prazo de validade, era uma das preocupações, além do transporte dos tubos, já que o atrito das partículas cristalizadas dos gases com as paredes internas seria suficiente para gerar uma explosão. Devido a gravidade, a Codesp, que cuida da segurança portuária, decidiu resolver o assunto em sigilo, o que lhe rendeu ao menos três multas entre R$ 50.000 e R$ 500 mil aplicadas pela Cetesb, por armazenamento irregular e transporte inadequado.

Após um caminho longo passando pelo Conselho Municipal do Meio-Ambiente do Guarujá e Ministério Público Estadual, foi escolhida a empresa de emergências Suatrans, para realizar a operação de destruição dos cilindros. Agora, o próximo passo seria a escolha dos possíveis destinos para o descarte: a  Base Aérea de Santos, Pedreira Engebritas, Ilha de Bagres e região oceânica. Em todos eles, o procedimento seria o mesmo: a queima dos gases, com o retorno dos cilindros vazios à aterros controlados.  A opção escolhida foi a queima em alto-mar. A distância da população e a dispersão pelo vento reduziriam os riscos da operação, que foi concluída em setembro de 2017.

À época, a promotora do caso, Almachi Acerbi, disse em entrevista à Folha de S. Paulo que, o Ministério Público investigava o armazenamento de produtos perigosos nos armazéns do Porto de Santos e que já tinha exigido da Codesp planos de evacuação. Em casos como este, a responsabilidade tanto é da empresa detentora das substâncias tóxicas, como dos órgãos fiscalizadores, já que os cilindros ficaram abandonados no porto por duas décadas.

Na terça-feira, 5, materiais explosivos mantidos em armazéns por anos foram apontados como a  possível causa das explosões na zona portuária de Beirute, no Líbano. De acordo com o diretor geral da Segurança Geral Abbas Ibrahim, as violentas explosões podem estar ligadas a “materiais explosivos” confiscados e mantidos em um armazém “por anos”.

Segundo a última contagem oficial do governo do Líbano, 5.000 pessoas ficaram feridas e 135 morreram. Cerca de 250 mil pessoas perderam suas casas na explosão, o que causou danos de US$ 3 bilhões (R$ 15,9 bilhões) a US$ 5 bilhões (R$ 26,5 bilhões) em danos, disse o governador Marwan Abboud à mídia local depois de fazer um tour pela cidade.

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