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Famílias relatam desaparecidos em tragédia com barragem

Ao menos 500 pessoas foram resgatadas no distrito de Bento Rodrigues, devastado pelo rompimento de barragens com rejeitos de uma mineradora

Vista aérea do local da tragédia após o rompimento de uma barragem, em Bento Rodrigues, Minas Gerais (Christophe Simon/AFP)

Vista aérea do local da tragédia após o rompimento de uma barragem, em Bento Rodrigues, Minas Gerais (Christophe Simon/AFP)

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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2015 às 21h08.

Ao menos 500 pessoas foram resgatadas no distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, devastado na quinta-feira pelo rompimento de barragens com rejeitos de uma mineradora, enquanto as famílias relatam desaparecidos nesta tragedia que deixou ao menos 17 mortos, segundo os bombeiros.

Bento Rodrigues, um distrito de Mariana onde viviam 620 pessoas, foi transformado em um imenso lamaçal, após o rompimento de duas barragens que liberaram mais de 60 milhões de metros cúbicos de material.

A torrente arrastou caminhões e carros e cobriu dezenas de casas com lama até o telhado, constatou a AFP no local.

Até o momento, cerca de 500 pessoas foram resgatadas e descontaminadas com banhos de água e sabão para se livrar dos resíduos minerais trazidos com a lama, informaram os bombeiros.

Os socorristas prosseguem trabalhando a procura de vítimas, com o auxílio de um drone e três helicópteros, mas a situação se vê complicada por fortes chuvas.

A presidente Dilma Rousseff informou no Twitter que o governo reconhecerá o estado de emergência na região para permitir a liberação do fundo de garantia das pessoas afetadas.

"É preciso investigar com rigor as causas e as responsabilidades do acidente", disse Dilma, que manifestou sua solidariedade às vítimas e seus familiares.

"Um barulho horrível"

"Estávamos lá, houve um barulho horrível e vimos como o barro se aproximava. É uma milagre estarmos vivos", disse à AFP entre lágrimas Valeria de Souza, 20 anos, ao chegar de ônibus a um ginásio de Mariana, onde está cerca de 150 desabrigados.

"Saímos correndo", disse a jovem, que carregava um bebê nos braços e estava acompanhada por outros sete familiares.

O rio de lama percorreu mais de 60 km e chegou à cidade de Barra Longa, onde a praça principal e muitas casas foram atingidas, disse à AFP um funcionário da prefeitura, Greison Anderson Souza.

O sindicato dos trabalhadores da mineração de Mariana afirma que a lama é tóxica, mas a Samarco, mineradora responsável pelas barragens que romperam, garante que os rejeitos "não apresentam qualquer elemento químico nocivo à saúde".

As ações da Vale e do grupo australiano BHP Billiton, proprietários da Samarco, despencaram nas Bolsas de São Paulo e Londres.

Danos ambientais

A causa da ruptura das barragens ainda é desconhecida, mas o grande dano ambiental para a região parece indiscutível, segundo os especialistas.

Carlos Ferreira Pinto, um dos promotores encarregados do Meio Ambiente que investiga o desastre, disse que "o dano ambiental é muito grande". "A lama alcançou vários rios e cursos de água, os rejeitos continuam avançando e atingiram a bacia do Rio Doce (onde há uma dúzia de pequenas cidades)".

"O dano é enorme, mas ainda não podemos medir exatamente seu impacto. O rompimento destruiu tudo", explicou o promotor.

Márcio de Souza Almeida, professor de Engenharia Geotécnica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse à AFP que "a lama dos resíduos de mineração tipicamente contém metais pesados e estes são elementos cancerígenos, então acarreta num grande dano ambiental para os seres humanos e para os animais".

Um engenheiro ambiental da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (vizinha de Mariana), José Francisco do Prado, apontou que "a região onde a barragem se rompeu é de intensa atividade agrícola, mas conta com áreas importantes de conservação de mata atlântica, de interesse ambiental, que foram devastadas pela lama". "O rompimento tem implicações sobre a diversidade aquática e os animais que vivem no local".

Especialistas do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo confirmaram que antes do acidente ocorreram quatro pequenos tremores de terra, habituais no Brasil e geralmente imperceptíveis para o ser humano.

A Samarco informou que não havia qualquer problema com as barragens em uma vistoria realizada apenas uma hora antes do desastre.

"O plano vigente não incluía alerta sonoro (...) Foi acionado da maneira correta, mas isto que estamos vivendo vai nos trazer muitas lições, no que podemos melhorar", disse o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.

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