O presidente, Michel Temer, e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes: declaração do ministro no final de semana não agrada Planalto e aumenta desconfiança sobre isenção da Lava Jato (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Marcelo Ribeiro
Publicado em 26 de setembro de 2016 às 12h03.
Brasília — A 35ª fase da Operação Lava Jato, que tem como principal destaque a prisão do ex-ministro Antonio Palocci (PT), tem um elemento prejudicial ao governo do presidente Michel Temer (PMDB): o ministro da Justiça Alexandre de Moraes (PSDB) antecipou neste domingo (25) que haveria uma nova fase da Lava Jato nesta semana.
"Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", afirmou o ministro em um evento de campanha do deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), candidato a prefeito de Ribeirão Preto.
Mas por que a declaração de Moraes preocupa o governo? Além de atribuir desconfiança sobre a isenção das investigações, a atitude do ministro aumenta os rumores de que o governo peemedebista interfere no andamento da Lava Jato.
Ainda ontem, o Ministério da Justiça e Cidadania informou que a declaração do ministro não passava de uma “força de expressão”.
De acordo com a nota, a frase "não foi dita porque o ministro tem algum tipo de informação privilegiada ou saiba de alguma operação com antecedência, e sim no sentido de que todas as semanas estão ocorrendo operações".
A atitude de Moraes de antecipar uma nova fase da Lava Jato também coloca em dúvida a autonomia da atuação da Polícia Federal em relação ao governo.
Moraes, que está em São Paulo participando de congresso de combate e prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, deve embarcar para Brasília (DF) ainda nesta segunda-feira (26) e se reunirá com Temer.
Membros do primeiro escalão do governo não escondem a insatisfação sobre postura do titular da pasta de Justiça. A EXAME.com, um interlocutor de Temer afirmou que a reunião de hoje representará um aceno do presidente para o ministro. “Ele saberá que está por um fio. Não é a primeira declaração infeliz que ele faz”. A demissão de Moraes não está descartada.
Nos corredores do Palácio do Planalto, a leitura é que Moraes falou demais e foi irresponsável ao fazer a declaração por ser ministro da Justiça e chefe administrativo da Polícia Federal.
Em nota, a Polícia federal afirmou que “somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo”.
O governo Temer tem sido marcado por declarações infelizes de ministros, o que tem prejudicado a imagem do presidente.
Nesse cenário, o Planalto buscou novas estratégias de comunicação para minimizar efeitos de falas equivocadas de membros do governo.
O ministro da Justiça resistiu e disse a interlocutores que não precisava de treinamento para falar com a imprensa. A reunião com Temer deve servir para mostrar a ele que falar demais não é um bom negócio para o governo peemedebista. Segundo aliados de Temer, a fala de Moraes representa um desserviço às investigações e um despreparo para ocupar o cargo.
Durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira, a Polícia Federal negou que tenha repassado informações privilegiadas ao ministro.