Brasil

Expulsar ou não expulsar Aécio: o dilema que rachou o PSDB ao meio

Deputado mineiro virou réu e gerou reação dura de figuras do partido como o prefeito Bruno Covas e o governador João Doria

Aécio Neves: A cama de gato do partido começou com a Justiça de São Paulo aceitando a denúncia contra o deputado (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)

Aécio Neves: A cama de gato do partido começou com a Justiça de São Paulo aceitando a denúncia contra o deputado (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)

EF

Eduardo F. Filho

Publicado em 13 de julho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 13 de julho de 2019 às 08h00.

São Paulo - Ex-senador, ex-candidato a presidente e atual deputado federal por Minas Gerais, Aécio Neves está rachando ao meio o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Apesar de "E o Aécio?" ter se tornado uma piada nos últimos anos em meio ao avanço da luta anticorrupção no país, a sua situação jurídica só voltou a esquentar no último dia 05 de julho.

Foi quando a Justiça Federal de São Paulo o tornou réu por corrupção passiva e tentativa de obstrução judicial das investigações da Lava Jato.

O caso, trazido pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, estava no Supremo Tribunal Federal (STF) porque se refere ao período de Aécio como senador, mas foi transferido após a decisão de que o foro por prerrogativa de função vale só para crimes cometidos no cargo e em função dele.

A acusação parte de delações de Joesley Batista, do Grupo J&F, que afirmou ter pago propina de R$ 2 milhões ao deputado.

O PSDB paulista pediu a expulsão imediata do deputado. O governador João Doria, que indica querer disputar a Presidência em 2022, disse em entrevista que o melhor seria se Aécio saísse espontaneamente.

Já o prefeito Bruno Covas, que deve tentar a reeleição no que vem, foi mais enfático: “Ou eu, ou Aécio no partido”.

Conselho de ética

O suspiro de alívio de parte do PSDB vem do dato de que desde maio o partido tem um Conselho de Ética e disciplina interno, e seria dele a responsabilidade por uma eventual expulsão.

O código prevê a expulsão de políticos condenados criminalmente ou que tiverem cometido infidelidade partidária, algo inédito na história do partido. Não há, porém, punição para aqueles que estão sendo investigados, como é o caso de Aécio.

Além disso, um integrante só pode ser expulso depois de encerrado todo o rito no conselho de ética, apesar de estarem sujeitos ao afastamento da sigla por até 12 meses em caso de novas denúncias.

Além disso o conselho não foi instalado até agora por questões burocráticas e não há previsão disso acontecer, apesar do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, já ter procurado o ex-vice-governador do Espírito Santo Cesar Colnago para acertar a posse dele na presidência.

“Eventuais representações contra quaisquer filiados do PSDB seguirão a tramitação prevista no Código de Ética recentemente aprovado por unanimidade em convenção partidária”, disse Araújo por meio de nota enviada a imprensa.

Enroscos

As acusações que envolvem Aécio Neves, a irmã, Andrea Neves e o primo, Frederico Pacheco, vÊm de 2017, com a divulgação dos áudios de Joesley Batista.

Eles sugeriam que o doleiro passou dois milhões de reais ao então senador por meio de quatro parcelas de 500 mil reais.

O caso ficou conhecido pela célebre frase de Aécio sobre o receptor do valor: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”.

A irmã e o primo de Aécio foram presos preventivamente em maio daquele ano na Operação Patmos da Polícia Federal. Em junho, a pena de ambos foi transformada em regime domiciliar, e a prisão foi revogada em dezembro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.

Em março deste ano, o STF bloqueou R$ 1,6 milhão em bens de Aécio. Em maio, um juiz bloqueou 128 milhões referentes a vantagens indevidas que o tucano teria recebido das empresas J&F. 

PSDB dividido

Apesar da reação de membros importantes do partido, a situação não deve ser resolvida de forma rápida e tranquila.

Aécio já indicou que não sai, e integrantes da sigla mineira ameaçaram levar denúncias de Covas e outros tucanos ao conselho de ética em retaliação.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também tomou lado ao escrever nas redes sociais que "jogar filiados às feras", sem aguardar uma decisão judicial, é "oportunismo sem grandeza".

O diretório do partido de São Paulo disse, em nota, que respeita mas não concorda com a posição e que a trajetória de Aécio “não condiz com o que FHC tem de legado".

O PSDB enfrenta seu dilema ético em meio a uma crise também de popularidade, tendo ido dos 50 milhões de votos de Aécio no segundo turno de 2014 para os 5 milhões de Geraldo Alckmin no primeiro turno de 2018.

A reportagem enviou perguntas para Covas por meio de sua assessoria, mas ele não respondeu alegando agenda cheia. Procurado pela reportagem, Aécio Neves disse que não comentará.

Acompanhe tudo sobre:aecio-nevesBruno CovasFernando Henrique CardosoJoão Doria JúniorPSDBSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Dino convoca para fevereiro audiência com nova cúpula do Congresso para discutir emendas

Em decisão sobre emendas, Dino cita malas de dinheiro apreendidas em aviões e jogadas por janelas

Flávio Dino decide suspender pagamentos de emendas e manda PF investigar liberação de verbas

Rodízio de veículos em SP está suspenso a partir desta segunda, 23