Ex-ministro mantém influência na gestão Temer
Geddel Vieira Lima atua nos bastidores e faz contato frequente com os principais integrantes da cúpula do governo
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de janeiro de 2017 às 10h45.
Última atualização em 14 de janeiro de 2017 às 11h15.
Brasília - Alvo da Operação Cui Bono?, o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima mantém sua influência no núcleo duro do Palácio do Planalto, atua nos bastidores e faz contato frequente com os principais integrantes da cúpula do governo.
Toda a estrutura montada por Geddel no governo Michel Temer foi mantida, apesar de sua demissão, em novembro passado.
Desde a ausência de Geddel, o dia a dia da pasta tem sido tocado pela secretária executiva Ivani dos Santos, seu braço direito.
A Secretaria de Governo é responsável por questões estratégicas, como liberação de recursos para emendas parlamentares, divisão de cargos entre os integrantes da base aliada e articulação de votações de projetos de interesse do Planalto no Congresso.
A "parceria" entre Geddel e Ivani remonta ao período em que o peemedebista foi deputado federal e ocupou a Primeira-Secretaria da Câmara, em 2003 e 2004.
Três anos depois, ao ser alçado ministro da Integração Nacional pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele levou Ivani para sua equipe. Antes de assumir o atual posto, ela estava lotada no gabinete da liderança do PMDB na Câmara.
O atual chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Carlos Henrique Menezes Sobral, também é considerado um dos "soldados" de Geddel.
A exemplo de Ivani, ele ocupou uma cadeira de destaque quando o peemedebista comandou a Integração Nacional. Na ocasião, foi nomeado secretário de Desenvolvimento do Centro-Oeste do ministério.
A relação de Sobral estende-se ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - preso na Lava Jato - tendo sido assessor especial do peemedebista na presidência da Câmara.
Cunha. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público indicam que Geddel atuava em conjunto com Cunha "em negociações ilícitas" envolvendo empresas interessadas na liberação de empréstimos da Caixa, entre 2011 e 2013.
Geddel ocupou o cargo de vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa no governo da então presidente Dilma Rousseff e, de acordo com o Ministério Público, agia de "forma orquestrada" para beneficiar empresas.
O peso de Sobral na estrutura do governo está ligado às negociações relativas a emendas parlamentares, usadas como moeda de troca em votações de interesse do Planalto no Congresso.
Servidores disseram que, logo após a saída de Geddel - acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de fazer pressão para a liberação de um empreendimento imobiliário em Salvador, no qual tinha apartamento -, integrantes da cúpula do governo pediram para que todos se mantivessem nos cargos.
O argumento foi o de que não fazia sentido deixar a pasta esvaziada em meio às discussões de projetos de interesse do Executivo no Congresso.
O presidente Michel Temer já acertou com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a nomeação do líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo. A indicação do tucano deverá ocorrer após a eleição que renovará o comando da Câmara e do Senado, no dia 2 de fevereiro. Após as revelações da Operação Cui Bono?, porém, a permanência dos afilhados de Geddel na pasta é vista como improvável.
No Planalto, o discurso oficial é de que ele é um ex-ministro, mas preocupam os desdobramentos das investigações.
Geddel também continua atuando nos bastidores do Planalto, pois tem a pretensão de concorrer ao Senado, em 2018. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo apurou, um dos principais interlocutores tem sido o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Irmão. A presença física de Geddel no Planalto foi substituída pela do irmão Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), candidato à Primeira-Vice-Presidência da Câmara e um dos deputados mais assíduos nos corredores do palácio.
Lúcio foi citado em pedido feito por investigadores à Justiça de autorização para busca e apreensão de documentos no apartamento funcional onde o deputado do PMDB mora em Brasília. A solicitação foi negada pela 10.ª Vara Federal de Brasília, por ele ter foro privilegiado. Lúcio afirmou estar "tranquilo" em relação às investigações.