Covid-19: o índice de transmissão do vírus na cidade do Rio passou de 1,14 para 1,18 (REUTERS/Ricardo Moraes/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 25 de agosto de 2020 às 07h07.
Última atualização em 25 de agosto de 2020 às 07h08.
Um estudo do Grupo de Trabalho Multidisciplinar da UFRJ sobre a covid-19, calculou que na última semana o índice de transmissão do vírus na cidade do Rio. O valor "R", como é chamado pelo especialistas, passou de 1,14 para 1,18.
O acompanhamento é realizado junto a antenas de celulares que captam a movimentação dos aparelhos. Com isso, o cruzamento de dados da rede com os números reportados geram o chamado número "R", que é o valor da taxa contaminação. Ou seja, 100 pessoas contaminadas que saem na rua podem contaminar outras 118.
Atualmente a cidade do Rio está na faixa "amarela" — risco moderado de contaminhação — porém, se aproximou ainda mais da zona laranja quando o risco de contágio se torna "alto". O grupo da UFRJ considera que uma região está com o risco alto quando a taxa "R" atinge 1,2.
O estudo aponta que seis taxas apresentaram aumento em relação à semana anterior: a cidade do Rio, a Região Metropolitana quando se considera a capital do estado ou não, Niterói, Região Centro Sul e Região Noroeste.
Se mantiveram sem alteração a Região Metropolitana II, a Baía de Ilha Grande e as regiões Norte e Serrana. Houve queda na taxa de contaminação no número geral do Estado do Rio, na Baixada Litorânea e no Médio Paraíba.
Um levantamento do grupo Covid-19 Analytics, formado por professores da PUC-Rio e da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que se o Rio fosse um país, ao compará-lo com nações que estão no mesmo período de enfrentamento da pandemia, o estado ficaria em segundo lugar no número de mortes por milhão de habitantes, ficando atrás apenas de San Marino, na Europa. São Paulo é outro estado que aparece no triste ranking, na sétima posição.
Pelo quarto dia consecutivo o estado do Rio voltou a apresentar um crescimento da média móvel de mortes maior que 15%
em comparação com duas semanas atrás, considerado por especialistas como uma têndencia de aumento nos óbitos. Nesta segunda-feira, a média móvel é de 118 óbtios diários.
A equipe de estudos também publicou um relatório sobre as possíveis causas da recente alta de óbitos no Rio. Segundo o relatório, uma das principais possibilidades é que grande parte deste aumento se deve ao atraso no registro de mortes, que estaria refletindo agora.
— Não percebemos uma segunda onda no Rio. O que vemos nesse aumento recente é que há muitas notificações antigas. Tem um atraso enorme, principalmente nos óbitos. Estamos em um platô alto, mas decaindo de forma lenta. Mas é importante continuarmos com todos os cuidados possíveis — afirma Marcelo Medeiro, professor de economia da PUC e coordenador do Covid-19 Analytics.
Outro fator que pode estar contribuindo para o recente aumento de casos é a flexibilização do isolamento social. Integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor-médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, Alberto Chebabo diz que todos os 36 leitos exclusivos para pacientes com Covid-19 do Hospital do Fundão estão ocupados. Segundo ele, o aumento das internações na unidade também pode estar relacionado ao fechamento recente de vagas na capital, mas alerta que é preciso atenção com a implantação da próxima etapa de flexibilização.
— Nas últimas duas semanas, percebemos esse aumento e tivemos que abrir mais leitos. A cidade está com as atividades quase que normais, e isso impacta diretamente na contaminação. Não acredito que teremos novamente aquele cenário de maio, mas o momento é de não avançar novas etapa e aguardar a evolução da pandemia — recomenda.
A prefeitura nega que o Rio esteja passando por um “repique de casos da Covid”. O governo diz que o aumento verificado nas estatísticas é, na verdade, devido a uma mudança nos critérios de registro dos casos, determinada pelo Ministério da Saúde no início do mês. Agora, o município tem 90 dias após o óbito para concluir se a morte foi causada pela Covid-19. A Secretaria estadual de Saúde também nega que a curva da doença esteja subindo.