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Estratégia final de Dilma resume erros em tempos de governo

Estratégia de Dilma para reverter impeachment chega tarde e se torna um exemplo de seu descompasso com o Congresso


	Para especialistas, presidente poderia reverter impeachment se tivesse se manifestado por carta antes da admissibilidade do processo na Câmara
 (Ueslei Marcelino / Reuters)

Para especialistas, presidente poderia reverter impeachment se tivesse se manifestado por carta antes da admissibilidade do processo na Câmara (Ueslei Marcelino / Reuters)

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 23 de agosto de 2016 às 06h00.

Brasília – Há mais de cem dias apartada do poder, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) chega à reta final do impeachment com perspectivas remotas de retornar ao seu posto no Palácio do Planalto.

Na semana passada, a petista lançou sua última arma para retomar o cargo. Em carta endereçada aos senadores e ao povo brasileiro, Dilma defendeu a realização de um plebiscito sobre novas eleições e uma reforma política — assuntos que têm elevada adesão da população brasileira.

O problema: a estratégia de Dilma para reverter o impeachment chega tarde e se torna um exemplo de seu descompasso com o Congresso. 

Antes da votação do impeachment na Câmara, em 17 de abril, interlocutores aconselharam Dilma a propor a antecipação das eleições. Há um consenso de que a petista poderia angariar apoio para barrar o processo de impedimento quando ainda estava à frente do Palácio do Planalto. Ela resistiu. Afastada, porém, suas chances se tornaram cada vez menores.

“A carta terá efeito nulo e não deve alterar os votos dos senadores. Por mais que existam pesquisas que mostrem que a maioria das pessoas gostaria que as eleições fossem antecipadas, não há uma pressão social para que isso ocorra”, diz o cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV-SP.

O argumento de parlamentares da oposição comprova isso. "Depois de ter virado as costas para o Congresso, ela quer agora dialogar? É uma medida completamente fora do timing", diz o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) para EXAME.com. 

Mesmo se estivesse à frente do Palácio do Planalto, a ideia da petista seria praticamente inócua já que ela dependeria de maioria simples no Congresso para emplacar a proposta do plebiscito. Diante da falta de apoio da presidente afastada entre os parlamentares, as propostas não são viáveis.

“Dilma não tem como negociar, não tem condições para concretizar suas propostas. O que ela podia ter feito de reforma política, tinha que ser feito no governo dela. Quando tentou, não conseguiu”, explicou o cientista político Ricardo Caldas, professor da UnB (Universidade de Brasília).

Aliados da petista discordam. Segundo a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), a presidente ainda não jogou a toalha. “A decisão de vir ao julgamento nada tem a ver com a falta de repercussão do documento. Acreditamos que a presença dela será suficiente para convencer os indecisos a votarem contra o impeachment”, diz.

Para o analista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, a investida final da presidente revela, no entanto, outra intenção. “Enquanto o PT tenta se levantar antes das eleições municipais, a Dilma resta salvar a própria biografia. Reforçar a tese de golpe pode não refletir em mudanças agora, mas pode mudar o jeito que a história será contada no futuro”, diz.

Na próxima quinta-feira, começa o julgamento final do impeachment. Será a última chance de Dilma salvar seu mandato. O teor dos argumentos da presidente afastada durante o interrogatório feito pelos senadores dará uma pista clara de suas intenções. 

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