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"Essa ocupação pareceu só teatro", diz moradora da Rocinha

Após a retirada das Forças Armadas, moradores se dizem inseguros quanto à possibilidade de reinício de tiroteios entre traficantes

Rocinha: as Forças Armadas deixaram a comunidade nesta sexta (29) (Ricardo Moraes/Reuters)

Rocinha: as Forças Armadas deixaram a comunidade nesta sexta (29) (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de setembro de 2017 às 18h12.

Rio - Moradores da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, acompanharam com apreensão a retirada das Forças Armadas da favela nesta sexta-feira, 29.

Eles se disseram inseguros quanto à possibilidade de reinício de tiroteios entre traficantes, mesmo com a presença da polícia.

Temem precisar voltar a se trancar em casa, como foi no domingo e no começo da semana, quando as crianças não puderam ir à escola, os adultos deixaram de trabalhar e até postos médicos fecharam.

"Essa ocupação foi muito rápida, pareceu só teatro. Mas deu uma sensação de segurança grande para nós. Bandido sempre vai ter, mas sem tiroteio é melhor", disse uma mulher que mora e trabalha na favela.

"Não posso dar entrevista, tem muito olheiro espalhado e posso ser punida (pelos traficantes). Para saber o que nós achamos, basta olhar o medo na cara de cada um. Está todo mundo esperando, sem a menor ideia do que vai acontecer a partir de agora", contou um comerciante. Eles não quiseram se identificar, com medo de represálias.

Segundo explicou nesta sexta-feira o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), a permanência dos militares foi de apenas uma semana porque o Ministério da Defesa assim o definiu em julho, quando o presidente Michel Temer (PMDB) autorizou o emprego das Forças Armadas na segurança do Rio até o fim deste ano.

"Quando a gente pediu a Garantia da Lei e da Ordem, Marinha, Exército e Aeronáutica pediram que não permanecessem muito tempo, como foi nos Complexos da Maré e do Alemão. Eles não queriam permanecer mais do que uma semana. Foi um pedido deles, é natural que a gente atenda", declarou, referindo-se a ocupações em favelas que duraram 15 e 20 meses, respectivamente.

Pezão disse que a presença das Forças Armadas trouxe "avanços significativos" para se chegar à paz na Rocinha, apesar de o traficante Rogério Avelino, o Rogério 157, que comanda o tráfico do morro, continuar em liberdade.

"Não entramos na Rocinha só para prendê-lo, e, sim, para levar tranquilidade, para os militares conhecerem o terreno. Se precisarmos de ajuda de novo, eles podem voltar", argumentou, ressaltando os resultados obtidos: "mais de 26 fuzis", oito granadas, mais de 2 mil munições.

O governo vai pedir à Justiça que presos federais não voltem ao Rio; entre eles, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que está na Penitenciária Federal de Porto Velho e de lá mandou aliados invadirem a Rocinha no dia 17, dando início ao violento conflito armado no morro.

Pezão disse que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai tratar do assunto com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Facadas

Horas depois de as Forças Armadas deixarem a Rocinha, o guardião de piscina Fabrício Manhães foi preso por tentativa de homicídio em uma das vias mais movimentadas favela depois de esfaquear Carlos Alexandre da Silva, de 19 anos, na porta da casa dele.

O agressor disse ter vingado o filho, adolescente que foi torturado e salvo da morte por homens da Marinha. Segundo Manhães, o rapaz foi espancado, amarrado e quase queimado vivo por comparsas de Nem porque estava com um boné que dizia "Jesus Cristo é o dono do lugar", lema de Rogério 157.

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