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"Esquerda só tem chance com apoio de Lula", diz historiador

Lincoln Secco, professor da USP, diz que candidato do campo que chegar ao 2º turno vai precisar da ajuda do ex-presidente

Lula: "A gente tem de lembrar que o Lula é um mito popular", diz professor (Leonardo Benassatto/Reuters)

Lula: "A gente tem de lembrar que o Lula é um mito popular", diz professor (Leonardo Benassatto/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de janeiro de 2018 às 15h18.

São Paulo - Historiador Lincoln Secco, professor de História Contemporânea da USP, diz que candidato do campo que chegar ao segundo turno neste ano vai precisar da ajuda do ex-presidente.

Julgamento. A condenação tem significados diferentes, porque o PT precisa resolver um problema mais de curto prazo, que é qual vai ser o candidato substituto. Agora, para Lula, para militância, para parte da sociedade que o apoia, a condenação reforça a biografia dele, com toda a certeza. O julgamento, para os seus apoiadores, passou imagem de que ele é um perseguido político, uma vítima do sistema. A gente tem de lembrar que o Lula é um mito popular. Isso explica o apoio que eles dão.

Forças. À primeira vista, todos os concorrentes do Lula de centro esquerda saíram fortalecidos: Ciro Gomes, eventualmente outros nomes, como Marina Silva. Os candidatos que disputam a centro esquerda. Agora, a Marina apoiou a decisão do tribunal e não sei se isso é inteiramente bom. Esses candidatos que querem lucrar com a retirada do Lula da cena eleitoral vão ter que cortejar o eleitorado do Lula. Se o PT não conseguir transferir os votos do Lula para outro candidato ou grande parte dos votos, a extrema direita sai favorecida, porque o sistema político como um todo está caótico. Há hoje muita coincidência de voto entre Lula e Jair Bolsonaro.

Eleição. A candidatura de Lula é a defesa política do ex-presidente, ao mesmo tempo da manutenção do PT como um partido relevante no cenário político. Se você tem um candidato com 35% de intenção de voto, ele garante que o partido continue em evidência para a disputa de 2018. A campanha dele surtiu efeito: ele está à frente nas pesquisas. Ele não vai poder concorrer, mas essa campanha vai permitir que o PT possa construir aos poucos uma campanha alternativa para transferir os votos do Lula.

Consenso. Acho difícil que a esquerda chegue a um consenso em torno de um nome, a convergência só deve acontecer mesmo em um segundo turno. Até porque os outros partidos também precisam sobreviver e lançar seus próprios candidatos. Agora, é interessante perceber como essa relação do Lula, da esquerda com os setores populares, é personalista. Sem o apoio do Lula, o candidato da esquerda pode até chegar a um segundo turno, mas só tem chance de se eleger se tiver o apoio dele. Lula não só tem o maior capital político da esquerda, como agora, para o setor que o apoia, ele virou um mito mais forte ainda, mártir, vítima. Especialmente se ele for preso. Isso favorece bastante o papel dele na eleição.

Prisão. Para a biografia de Lula, a prisão só prejudica quem já não gostava dele. Para quem o apoiava, pode reforçar a tese de "mito". O PT, por outro lado, soltou uma nota muito tímida (sobre a condenação). Eu esperava que fosse com maior radicalismo verbal. Esse tipo de reação extralegal, de resistência, só aconteceria com um gesto do próprio Lula. Para que isso seja efetivo, o líder tem de aderir. E esse radicalismo não é do histórico dele, ele é conciliador. Tem de separar isso da verborragia de campanha, que é natural.

História. (Se fosse escrever uma sequência do livro 'História do PT') Na verdade é mais um marco histórico na trajetória do PT. Como o governo Temer ajudou o PT a se recuperar eleitoralmente e como preferência partidária, a história dele continua. Continua sendo a principal agremiação da esquerda. A queda da Dilma retardou a renovação da esquerda. Em 2013, começaram a surgir novos movimentos e organizações de esquerda. Mas o processo de impeachment fez de novo a esquerda se aglutinar em torno do PT.

Lideranças. (Se o ex-presidente for preso abre espaço) Para novas lideranças, sem dúvida, abre espaço. Mas não é necessariamente uma renovação. Renovação vai demorar mais, porque vai se dar dentro do PT. Ele continua o principal partido da esquerda. ]

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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