Espanha nega extradição de operador da Odebrecht
Por se tratar de um cidadão que também tem nacionalidade espanhola, a corte considerou sua entrega como "não procedente"
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de julho de 2017 às 12h33.
Última atualização em 28 de julho de 2017 às 18h59.
Genebra - A Justiça da Espanha negou o pedido do Brasil para extraditar o ex-advogado da Odebrecht , Rodrigo Tacla Duran.
Ele havia sido detido em Madri em novembro do ano passado. Mas, por contar com dupla nacionalidade, recorreu para evitar ter de responder aos crimes no Brasil.
A Audiência Nacional na Espanha, porém, garantiu que o ex-representante legal da empresa brasileira seria julgado em Madri.
Tacla é apontado como um dos operadores das offshores criadas pelo "departamento de propinas" da Odebrecht. Ele teria recebido R$ 54 milhões de empreiteiras investigadas na Lava Jato.
A Procuradoria-Geral da República confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo a derrota no pedido de extradição.
Mas a recusa não tinha como base os crimes supostamente cometidos pelo ex-advogado.
O que impediu a entrega do suspeito ao Brasil foi a recusa do estado brasileiro em garantir, por escrito, que entregaria para a Espanha outros suspeitos no País também com dupla nacionalidade.
Sem a garantia de uma reciprocidade, a Justiça espanhola optou por não entregar Tacla Duran. A decisão foi tomada por unanimidade pelos 17 membros do tribunal espanhol.
Do lado de Madri, porém, existe um compromisso de que, baseado nos documentos enviados pelo Brasil, Tacla Duran será julgado.
Numa entrevista publicada nesta semana pelo jornal El País, na Espanha, o suspeito conta como a Odebrecht lhe ofereceu 15 anos de salários se ele aceitasse delatar.
Ao diário espanhol, porém, ele revelou que a construtora brasileira distribuiu propinas para mais de mil pessoas em diversos países do mundo e descreveu os bastidores de prostituição para convencer políticos a dar contratos para a empresa brasileira.
Tacla, que passou menos de três meses preso, hoje aguarda seu julgamento em liberdade provisória. O MP brasileiro argumentava que Tacla Duran havia sido responsável por lavar mais de US$ 50 milhões. Hoje, ele também colabora com a Justiça americana.
Mas rejeitou a oferta da Odebrecht para fechar um acordo de delação premiada. "Os promotores do Brasil querem que eu reconheça crimes que não cometi", afirmou.
Segundo ele, porém, a empresa pagava propinas do funcionário mais baixo da administração até presidentes e chefes de governo.
No caso do Brasil, ele garantiu que era a Odebrecht quem "sugeria as obras que seriam incluídas nos planos do governo".
O acordo, segundo ele, passava por João Santana, marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014).
Sobre propinas no exterior, ele garante que a Odebrecht "também organizava festas".
"Mandava mulheres do Brasil para festas com políticos. Mas isso também se tornou uma chantegm", contou, revelando que sempre "havia alguém para fotografar cenas comprometedoras".