Ernesto Araújo evita criticar envio de brasileiros dos EUA ao México
"O principal para nós é não contestar a lei americana", afirmou
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 12h04.
Em visita aos EUA , o chanceler Ernesto Araújo disse ontem que não falou com autoridades americanas sobre a deportação de brasileiros ilegais para o México. "O principal para nós é não contestar a lei americana", afirmou. "Nossa preocupação sempre, através do setor consular, é que não haja discriminação contra brasileiros dentro do processo legal de cada país. Mas, para nós, o principal é receber esses brasileiros de volta."
Há uma semana, pelo menos dez brasileiros foram enviados pelos EUA para Ciudad Juárez, no México, para que esperassem no país vizinho os pedidos de asilo. O grupo, que inclui quatro menores, chegou ao local no mesmo dia que o governo americano anunciou a inclusão do Brasil nos Protocolos de Proteção do Migrante (MPP).
Advogados e ativistas dos direitos humanos da cidade americana de El Paso, no Texas, criticam o envio de brasileiros para Ciudad Juárez, uma das cidades mais violentas do mundo. Segundo eles, diferentemente dos imigrantes centro-americanos, os brasileiros não entendem espanhol e estão mais vulneráveis à ação dos cartéis.
Ontem, o chanceler classificou o envio dos brasileiros ao México como uma "questão de logística do sistema de imigração americano". Araújo repetiu pelo menos seis vezes durante entrevista em Washington que o governo brasileiro está recebendo de volta "sem problemas" os cidadãos deportados.
"O Brasil está permanentemente aberto a receber os voos que trazem os brasileiros. Imagino que, para os brasileiros, já que têm de ser deportados, o melhor é voltar para o País. Estamos aceitando plenamente esse transporte justamente para receber de volta o mais rapidamente possível esses brasileiros."
No último dia 24, um grupo de cerca de 50 brasileiros foi deportado dos EUA em um voo que partiu de El Paso para Belo Horizonte. Passageiros relataram maus-tratos em prisões americanas. Muitos disseram ter passado fome e frio.
Na volta, eles viajaram com os pés e as mãos algemados. O Serviço de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE, na sigla em inglês) informou que "indivíduos presos e sob custódia das forças federais de segurança estão sujeitos a serem algemados".
O voo foi o segundo com deportados brasileiros a chegar ao Brasil em cerca de três meses. As deportações fazem parte de novo entendimento entre os governos de Jair Bolsonaro e Donald Trump, que facilita o procedimento de saída de imigrantes ilegais.
Em reunião ontem com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, Araújo disse que não tocou no assunto. "Não conversamos sobre isso, porque é uma coisa que já está acontecendo e não está causando nenhum problema", disse. "Se realmente estivesse havendo discriminação, a gente veria isso."
Até então, os EUA enviavam para o México imigrantes de Guatemala, El Salvador e Honduras - cerca de 60% do total -, além de Cuba, Venezuela, Equador e Nicarágua. O Brasil agora faz parte da lista. Os imigrantes, no entanto, correm grande risco em cidades da fronteira mexicana, que são pontos de passagem de droga e têm forte presença de cartéis violentos. (com agências internacionais).