Joaquim Barbosa: ex-ministro do STF ainda é uma das poucas referências brasileiras de negros que chegaram a um alto cargo na carreira (Nelson Jr./SCO/STF)
Raphael Martins
Publicado em 21 de outubro de 2015 às 13h25.
Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 12h59.
São Paulo – A disparidade salarial entre raças ainda é um realidade no Brasil. Para cada 100 reais ganhos por trabalhadores brancos com ensino superior, um negro graduado ganha 67,58 reais. A média de salário entre negros formados é de R$ 3.777,39 contra R$ 5589,25 de brancos, quantia 47% maior.
A informação é da pesquisa Características Do Emprego Formal da Relação Anual De Informações Sociais (Rais) 2014, divulgada pelo Ministério do Trabalho.
Para a população identificada como parda, a diferença é um pouco menor: R$ 72,35 para cada R$ 100 entre brancos.
Os dados mostram também que, quanto mais capacitado, mais desvantagem o negro ou pardo tem em relação ao branco quando o assunto é o dividendo ao fim do mês.
A menor diferença de brancos para negros, portanto, está entre analfabetos: a média salarial de brancos que não sabem ler ou escrever é de R$ 1.249,35 , enquanto para negros é de R$ 1.144,48 (R$ 91,61 para cada 100).
Negros ou pardos ganham cerca de 90% do salário de brancos em todas as classificações de estudo mais baixas, até o ensino fundamental completo. Dali em diante que a diferença cresce. Quando entram na universidade, a relação chega a ficar abaixo dos 80%.
Ao completar o ensino superior, o salário de todos dão um salto, mas ele é mais expressivo entre brancos. A média salarial pula de R$ 2.719,98 para os R$ 5.589,25 — aumento de 105%. Entre negros, a diferença parte de R$ 2.252,55 para os R$ 3.777,39 — ou 67% a mais.
Na média total, contando todos os graus de instrução, os rendimentos médios dos trabalhadores negros representam 69,58% em relação aos brancos em 2014, enquanto em 2013 eram 70,13%. Veja os dados da evolução abaixo.
Para Ronaldo Barros, chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) do governo federal, barreiras subjetivas como o racismo ainda fazem com que haja uma presença muito menor de executivos negros, presentes nos altos postos de trabalho, impedindo uma maior remuneração.
“Também há a ausência de negros em cursos superiores que pagam melhor e tem maior nível de formação, caso da medicina, engenharia e direito, por exemplo”, diz. “A Lei de Cotas nas universidades vem corrigindo lentamente essa presença, mas com três anos, ela não teve tempo de formar as primeiras turmas e colocá-las no mercado. Talvez nos próximos anos tenhamos uma redução dessa diferença.”
Uma pesquisa da Seppir mostra que, em 2003, o número de negros com 12 anos ou mais de estudo, o que mostra presença nas universidades, atingiu 27,6 milhões de pessoas. Em 1993, eram apenas 4,1 milhões — quase sete vezes mais em 20 anos.
Houve junto uma queda da participação de jovens negros de 16 a 24 anos no período, de 28,6% do em 1993 para 19,1% em 2013. Como o desemprego no Brasil era baixo há dois anos, esse índice pode apontar um retardamento voluntário na busca por emprego para estudar por mais tempo.
Ainda assim, a participação dos negros na população economicamente ativa subiu. No ínicio dos anos 90 eram mais de 66 milhões de negros em atividade, enquanto em 2013 chegaram a 103 milhões de pessoas.