Enquanto Ibama perde verba, Brasil lidera países que mais desmatam
Em 2018, o país perdeu 13.471 quilômetros quadrados de floresta tropical em 2018; Ibama deixará de receber R$ 89,9 milhões no orçamento
Reuters
Publicado em 26 de abril de 2019 às 21h08.
Brasília — O Brasil é o país que mais destruiu florestas tropicais no ano passado, embora o desflorestamento tenha caído 70% em comparação com 2017, mostram dados de uma rede independente de monitoramento da floresta.
Em 2018, o país perdeu 13.471 quilômetros quadrados de floresta tropical em 2018, de acordo com dados anualizados da Global Forest Watch, que é mantida pelo World Resources Institute (WRI). Isso representa uma queda significativa em relação ao ano anterior, quando incêndios florestais de grandes proporções causaram perdas maiores no Brasil.
"Embora alguma perda de 2018 possa ser atribuída ao fogo, a maior parte parece ser devido à limpeza de terreno na Amazônia, colocando em risco as reduções no desflorestamento que o país alcançou no início dos anos 2000", escreveram os pesquisadores no site do grupo.
O Brasil abriga cerca de 60% da Floresta Amazônica , a maior floresta tropical do mundo, responsável por retirar imensas quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, sendo considerada vital na luta contra o aquecimento global.
A República Democrática do Congo ficou em segundo lugar na lista de países que mais derrubaram florestas, tendo perdido 4.812 quilômetros quadrados.
No ano passado, dados do governo brasileiro mostraram que o desflorestamento subiu a seu maior patamar em uma década, se contados os doze meses anteriores a julho. A derrubada de floresta subiu 13,7 por cento, para 7.900 quilômetros quadrados.
Ativistas e organizações não-governamentais temem que o desflorestamento venha a aumentar no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro, iniciado em janeiro.
Bolsonaro disse que o país deve fechar uma "indústria da multa" relacionada às infrações ambientais, contendo uma das principais ferramentas para garantir as proteções ambientais.
Ele também defende a mineração em reservas indígenas e em uma das principais reservas da Amazônia, como um modo de impulsionar o desenvolvimento econômico.
Ricardo Salles diminui verba do Ibama
O ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, mandou cortar em 24% o orçamento anual previsto para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão que está vinculado à sua pasta. Com o corte, que retira recursos que cobririam praticamente três meses dos gastos previstos para 2019, o Ibama terá seu orçamento reduzido de R$ 368,3 milhões, conforme constava na Lei Orçamentária (LOA), para R$ 279,4 milhões.
Com R$ 89,9 milhões a menos no orçamento, o Ibama terá impacto em suas operações de fiscalização e manutenção do meio ambiente. Só as despesas fixas do órgão são estimadas em R$ 285 milhões para este ano.
As informações são de que o mesmo corte deve afetar o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), responsável por fiscalizar as unidades de conservação florestal do País. Questionado sobre as motivações que levaram à medida, Ricardo Salles não comentou o assunto até a publicação desta reportagem. O Ibama também não se posicionou.
Os cortes de orçamento ocorrem em um momento de crise na pasta. Servidores do ICMBio divulgaram carta de repúdio contra Salles, que determinou abertura de processo administrativo disciplinar contra funcionários do órgão no Rio Grande Sul, após cobrar a presença deles em um encontro com ruralistas. Ocorre que eles não foram convidados para o encontro, por isso não estavam no local.
O constrangimento causado pelo episódio levou ao pedido de demissão do presidente do ICMBio, seguido por outros três pedidos de exoneração conjunta de diretores do órgão. De seu lado, Salles exonerou o diretor do parque Lagoa do Peixe, quando a crise começou, e nomeou quatro policiais militares para ocuparem os cargos na diretoria do Instituto Chico Mendes.
Oficiais da PM e das Forças Armadas também estão sendo nomeados para o MMA e o próprio Ibama. Já são cerca de 20 posições ocupadas por militares na cúpula do meio ambiente.