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Encontro discute políticas para povos tradicionais

O Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros tem uma agenda política reivindicada pelos povos tradicionais

A presença indígena tem sido marcante no Encontro de Culturas desde a sua criação: no ano passado, um documento contendo as principais questões levantadas foi encaminhado aos patrocinadores do evento e às entidades relacionadas. (Marcello Casal Jr/ABr)

A presença indígena tem sido marcante no Encontro de Culturas desde a sua criação: no ano passado, um documento contendo as principais questões levantadas foi encaminhado aos patrocinadores do evento e às entidades relacionadas. (Marcello Casal Jr/ABr)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2013 às 13h27.

São Jorge (GO) - O Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que começou no último fim de semana termina no sábado (27), tem uma agenda política reivindicada pelos povos tradicionais. Está previsto na programação, o 2º Encontro de Lideranças Quilombolas de Goiás (GO).

Representantes das 22 comunidades de descendentes de escravos já reconhecidas pelo estado de Goiás puderam debater, juntas, suas demandas e desafios. O encontro conta com a parceria, também, da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge e da Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção de Igualdade Racial de Goiás (Semira).

Entre as comunidades, está o povo Kalunga, considerado o maior grupo quilombola do país. Domingos da Cunha Fernandes é o representante da comunidade Kalunga de Fazenda da Ema, no município de Terezinha de Goiás. Segundo ele, as demandas por lá são muitas. Falta um posto médico, faltam estradas. Domingos ressalta que o problema mais urgente é a demora na demarcação do território tradicionalmente ocupado, que está nas mãos de fazendeiros.

"Todo dia vai um lá e diz que as terras estão para sair. Nosso povo vai morrendo de velho e nunca [a regularização] sai. Eu vou até acabando a fé. O que está faltando é o seguinte: diz que é o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] ir lá, medir e liberar ela. Mas nunca foi ninguém lá, não. Vai um bocado de gente lá, faz umas propostas bonitas lá, diz que agora, daqui uns dois dias, uns dois meses está liberado", relatou o representante da comunidade.


O espaço "arrochado", como ele diz, impede o desenvolvimento da agricultura de subsistência e empurra as novas gerações para a cidade. "Aí, no caso, estão ficando só os velhos dentro das casas. É ruim pra comunidade, porque a comunidade vai ficando fraca. Se os filhos nasceram alí, daquele pessoal que é dos kalungas, ficando tudo por alí, a tendência da comunidade é reforçar mais. Mas não tem, não tem como ficar."

A representante dos kalungas da comunidade de Vão das Almas, no município de Cavalcante (GO), Natalina dos Santos Rosa, a Dona Dainda, considera positiva a oportunidade de se reunir com outras lideranças. Ela também destaca a presença de representantes dos governos, o que acaba facilitando o acesso a programas e políticas públicas.

No ano passado, um documento contendo as principais questões levantadas foi encaminhado aos patrocinadores do evento e às entidades relacionadas. Dona Dainda conta que a comunidade dela não tinha escola. As crianças estudavam numa construção de palha, com apenas um professor. Muitos alunos ficavam sob a sombra de árvores para estudar. “Hoje [há] um colégio com seis salas e vão construir mais um”.

Agora, acrescentou a representante quilombola, a luta é para melhorar o acesso à comunidade. “Quando vem o tempo da chuva, tem três rios que tem que atravessar de canoinha de madeira. Não tem como atravessar nada para o outro lado. Então a coisa que mais queremos são as pontes nos rios.”


Outro problema apresentado na reunião é a falta de uma estrutura institucional nos municípios que se dedique à promoção dos direitos das comunidades negras. Das 246 cidades de Goiás, cerca de 30 possuem um órgão voltado para a promoção da igualdade racial. Para reverter tal situação, a superintendente de Promoção da Igualdade Racial de Goiás, Raimunda Montelo, explica que vem incentivando, junto aos municípios, a criação de estruturas de apoio, como conselhos comunitários e secretarias.

Raimunda destaca as vantagens de reunir as lideranças. “Em primeiro lugar, o empoderamento, eles falarem por si e mapear as suas demandas, as suas necessidades, sem necessidade de representantes. Sem pessoas que não são da comunidade falarem em nome deles. Isso é um problema que a gente encontra, principalmente da comunidade kalunga, que é uma comunidade grandiosa, que todo mundo quer tirar foto do lado deles, sempre tem alguém que quer captar um recurso em nome deles.”

Durante o encontro, estão sendo eleitos os delegados estaduais que vão participar da 3ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), que vai ocorrer no período de 5 a 7 de novembro, em Brasília (DF), com o tema Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo.

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