Moro: os atos devem acontecer em cerca de 200 cidades e também encamparão pautas favoráveis à reforma da Previdência (Cris Faga/Getty Images)
Clara Cerioni
Publicado em 30 de junho de 2019 às 08h10.
Última atualização em 30 de junho de 2019 às 08h10.
São Paulo — O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, está no centro dos holofotes desde que o site The Intercept começou a publicar, há três semanas, mensagens trocadas entre o ex-juiz e procuradores da força tarefa da Lava Jato enquanto ele ainda julgava casos da operação.
Poucos dias após as revelações virem à tona, movimentos como o Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL), convocaram manifestações de apoio ao ministro para este domingo (30).
Segundo os organizadores, os atos devem acontecer em cerca de 200 cidades e também encamparão pautas favoráveis à reforma da Previdência, ao pacote Anticrime de Moro e à manutenção da Lava Jato.
Os dois grupos, que lideraram os movimentos de rua pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2015, optaram por adotar uma agenda que não inclui a defesa do governo Bolsonaro.
“Os primeiros atos (em favor do governo) surgiram de uma rede coordenada que prega pautas com as quais não concordamos. O MBL não é pró-Bolsonaro e mantém uma linha independente. A decisão de participar agora foi uma reação à invasão do celular do Sérgio Moro”, disse Renato Battista, um dos coordenadores do MBL.
O grupo também foi citado nos vazamentos. Em 2016, Moro teria procurado Dallagnol para pedir ajuda para conter uma manifestação do MBL em frente à casa do ministro Teori Zavascki, então relator da Lava Jato no STF. Moro chama os militantes de “tontos” por julgar que isso não ajudava a operação.
Após o vazamento, o ministro mandou um áudio a membros do MBL em que diz não saber se os termos são seus, mas pede desculpas de qualquer forma por chamá-los de “tontos”.
Em recente entrevista, a porta-voz do Vem Pra Rua, Adelaide Oliveira, defendeu que o apoio à Lava Jato no movimento existe desde o início e que os vazamentos são "incipientes".
"Nós temos que trabalhar com o que temos, que é o que a operação já fez pelo país e por isso que continuamos no apoio da Lava Jato", afirmou.
Clique no seu estado para mais informações sobre os atos deste domingo (30):
Desde o último dia 09, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e Deltan Dallagnol combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
No último dia 23, uma colaboração com o jornal Folha de São Paulo mostrou uma troca de mensagens entre Moro e Dallagnol onde são discutidas formas de o juiz não se indispor com o Supremo Tribunal Federal.
Após a publicação, Moro foi ao Twitter e publicou uma frase em latim, do poeta romano Horácio: parturiunt montes, nascetur ridiculus mus (a montanha pariu um ridículo rato). Para o ministro, o conteúdo não correspondia as altas expectativas de impacto criadas pelo jornalista.
Moro e Deltan não garantem a autenticidade das mensagens, ao mesmo tempo em que destacam que elas, até agora, não mostraram nenhuma ilegalidade.
Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.