Em provocação a Dilma, Caiado canta "Apesar de você"
Até agora, 47 dos 81 senadores estão inscritos para fazer perguntas durante o depoimento da petista na próxima segunda-feira.
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2016 às 14h20.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2018 às 18h15.
Brasília - O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), recorreu à letra de "Apesar de você", de Chico Buarque, um hino da esquerda contra o regime militar, para traduzir a expectativa em relação ao depoimento da presidente afastada, Dilma Rousseff , marcado para às 9 horas desta segunda-feira (29). "Apesar de você, amanhã há de ser um outro dia", cantarolou, ao sair da reunião com senadores da base aliada do governo do presidente em exercício, Michel Temer , na manhã deste domingo.
De camiseta polo manga curta verde bandeira e mocassim Prada, Caiado disse que um dos traumas de sua vida é não saber cantar. No ensaio da primeira comunhão, uma freira teria dito ao senador goiano que ele deveria apenas mexer a boca em vez de cantar. "Mas hoje vou passar o dia treinando 'Apesar de você, amanhã há de ser um novo dia...'", provocou.
"Apesar de você" é uma das principais músicas de protesto composta por Chico Buarque nos anos 1970. O cantor voltou a entoar o hino neste mês, contra Temer, depois de ficar mais de 40 anos sem cantar letras muito associadas à luta contra o regime militar. Chico Buarque é um dos convidados de Dilma para a sessão desta segunda, junto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"De um lado a elite política, que participou de todos os benefícios desses 13 anos em que a sociedade foi duramente penalizada. Do outro lado, a voz dos 200 milhões de brasileiros que foram para as ruas", afirmou Caiado, completando que a lista de convidados da base aliada é de "pessoas comuns".
O tom descontraído marcou a reunião dos líderes governistas na manhã deste domingo. Acostumados a vir ao Senado de terno e gravata, todos dispensaram a formalidade e vieram de trajes esportivos, como calça jeans e camisas.
Perguntas a Dilma
Os senadores aproveitaram o encontro para discutir como vão abordar a presidente Dilma e a ordem de quem vai fazer as perguntas. Eles escalaram nomes de mais representatividade para serem os primeiros.
O relator do processo de impeachment no Senado, Antônio Anastasia (PSDB-MG), vai ser o quinto. O líder do governo na Casa, Aloysio Nunes (PSDB-SP), o sétimo. O presidente do PSDB nacional, Aécio Neves, será o 11º.
Até agora, 47 dos 81 senadores estão inscritos para fazer perguntas durante o depoimento da petista. A primeira será feita pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), uma das mais ferrenhas defensoras de Dilma. Do lado favorável ao impeachment, falará primeiro a senadora Ana Amélia (PP-RS).
Segundo Aécio Neves, as perguntas se delimitarão aos assuntos técnicos dos motivos do impeachment, como a edição de decretos suplementares e as chamadas pedalada fiscais, que são atrasos no repasse a bancos públicos. Ele disse que quem dará o tom será a presidente.
"Vamos tratar a presidente afastada com todo respeito que ela merece como pessoa e como presidente, mas não vamos aceitar provocações. Se existirem, serão respondidas à altura", disse o senador José Agripino (DEM-RN).
Protagonista dos principais estranhamentos nos primeiros dias do julgamento, Caiado foi questionado sobre como será sua reação caso os petistas o provoquem. Respondeu que "para cada ação, tem uma reação". "O risco que corre o pau, corre no machado", disse o senador, citando um ditado, segundo ele, goiano.
O depoimento da presidente afastada está marcado para começar às 9 horas. Ela terá 30 minutos para fazer uma exposição inicial, tempo que pode ser prorrogado. Em seguida, os senadores terão cinco minutos para fazer suas perguntas. A presidente não tem um tempo delimitado para as respostas.
Segundo os senadores, eles usarão o tempo não só para questioná-la sobre os pontos do processo, mas também para fazer análises sobre a atual conjuntura, uma consequência, de acordo com eles, da administração petista.
Os apoiadores do impeachment esperam que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, estabeleça limites para a fala de Dilma. No entanto, o magistrado não deve interromper a presidente afastada, uma vez que isso pode ser considerado, juridicamente, cerceamento de liberdade da defesa da ré.