Esse é um retrocesso ruim na agenda de transição energética, mas vai abrir oportunidades e temos que capturá-las em termos da posição geopolítica que o Brasil tem e única", afirma Luchessi
Repórter
Publicado em 19 de novembro de 2024 às 15h07.
Última atualização em 21 de novembro de 2024 às 10h19.
O presidente do conselho do BNDES e diretor de inovação industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, avalia que a eleição de Donald Trump a presidente dos Estados Unidos abrirá novas oportunidades para a indústria brasileira.
"Esse é um retrocesso ruim na agenda de transição energética, mas vai abrir oportunidades e temos que capturá-las em termos da posição geopolítica que o Brasil, que é única", afirmou Lucchesi durante o evento Exame Política Industrial que, entre os temas destacados nesta terça-feira, 19, pautou a conjuntura da indústria global.
Luchessi avalia que a oportunidade da indústria nacional passa pela sua independência em relação à China e aos EUA. Ele acredita que haverá um desacoplamento crescente do país asiático, enquanto a agenda de Trump prevê desregulamentar e desburocratizar a atividade econômica, além de um corte de impostos e tarifas de importação mais altas para que as atividades de produção industrial voltem aos EUA.
"Temos que capturar essa oportunidade como país emergente não alinhado, exatamente pelas brechas que se abrem nessa independência. [Podemos] colar na China com a rota da seda, acordos comerciais, integração, não como um nanico, fornecedor de matéria-prima, de commodities agrícola e minerais, porque isso é uma forma muito limitada", disse.
"E temos a possibilidade de colar nos Estados Unidos, ocupando cadeias globais que serão desmontadas com a presença chinesa. Mas a nossa agenda vai ser muito mais powershoring", afirmou o diretor da CNI, chamando atenção a estratégia industrial de descentralização da produção para países próximos a centros de consumo e que oferecem energia limpa, segura e barata.
A análise de Luchessi foi compartilhada por José Pimenta, diretor de Comércio Internacional da BMJ Consultoria. Pimenta ponderou que a vitória de Trump é negativa do ponto de vista de expansão das cadeias globais. Mas, por causa do protecionismo sugerido pelo republicano, esse é também "o momento do empresário brasileiro sair para o mundo, internacionalizar-se".
"Porque Trump vai colocar uma tarifa de 100% [hipoteticamente] e o mundo precisará comer, se transportar, [precisará de] logística, automação. O que foi feito em relação à inteligência artificial, em relação a cadeias agroalimentares, não vai se perder", afirmou o diretor da BMJ.
Pimenta completou que o Brasil é um player nessas cadeias indústrias, e que pode crescer principalmente com uma política de Estado para internacionalização de pequenas e médias empresas.
"Temos pequenos e poucos excelentes casos de internacionalização de empresas no nível macro, como WEG, Embraer, JBS, entre outras. Mas quando você olha para os Estados Unidos e União Europeia eles têm políticas específicas de internacionalização para pequenas e médias empresas", disse.
Um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) de janeiro deste ano mostrou que há um aumento crescente nas políticas industriais, foram mais de 2.500 apenas no último ano, com destaque para a ocorrência delas nos EUA, China e União Europeia.