E-mail do MEC sobre hino é criticado até por movimento Escola sem Partido
Já o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação disse que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 09h48.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2019 às 10h00.
São Paulo - O Ministério da Educação ( MEC ) enviou nesta segunda-feira, 25, para todas as escolas do País um e-mail pedindo que seja lida uma carta aos alunos, professores e funcionários com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro: "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos." O comunicado recomenda ainda que todos estejam "perfilados diante da Bandeira do Brasil" e seja tocado o Hino Nacional. Por último, pede que as escolas filmem as crianças nesse momento e enviem os vídeos ao governo.
A medida provocou reações no meio educacional e entre pais de estudantes. O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) disse, em nota, que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação. O Movimento Escola sem Partido também criticou a medida nas redes sociais.
"O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária", disse o Consed. Para o órgão, o Brasil precisa, "ao contrário de estimular pequenas disputas ideológicas na Educação", priorizar a aprendizagem.
O Escola sem Partido, em publicação nas redes sociais, disse não ver problema no Hino ou na filmagem das crianças, mas na carta do MEC. "É o fim da picada". A entidade defende combater uma suposta doutrinação por parte de professores em sala de aula - uma das bandeiras de Jair Bolsonaro.
Segundo o diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, mesmo que o pedido tenha caráter voluntário, é uma ação "sem precedentes no passado recente brasileiro". O que essa ação reforça, para ele, é que o MEC caminha no sentido contrário do que precisa ser foco. "É desvio do que é essencial. O MEC tem se silenciado até aqui a respeito de temas urgentes."
Para ele, a pasta deveria aproveitar o início do governo para propor políticas capazes de melhorar a aprendizagem, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a área e implementar a Base Nacional Comum Curricular, que define o que deve ser aprendido em cada etapa escolar.
Famílias
A cineasta Mariana Vieira Elek, de 31 anos, diz que ficou chocada ao saber do e-mail enviado para a escola onde estudam seus dois filhos. "É um absurdo a alusão à religião no fim do texto. Respeito a religião dos outros e gostaria de ser respeitada." Também criticou a possibilidade de seus filhos serem filmados sem autorização e a execução do Hino Nacional sem que as crianças entendessem a razão de estarem cantando. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.