Jair Bolsonaro: presidente concedeu entrevista entre uma selfie e outra com turistas (Carolina Antunes/PR/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de outubro de 2019 às 12h28.
Última atualização em 1 de outubro de 2019 às 12h31.
O presidente Jair Bolsonaro disse ao jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira, 30, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o "direito" de não querer sair da prisão, em Curitiba.
"Quer ficar, fica", afirmou ele, ao ser questionado sobre o fato de Lula ter escrito uma carta na qual diz não aceitar barganhar seus direitos por sua liberdade. "Não vou tripudiar em cima dele." Logo em seguida, porém, o presidente comentou que, "graças a Deus", o projeto de poder do PT não deu certo. "O cara meteu a mão e entregou a amigos dele", declarou.
Bolsonaro concedeu entrevista ao jornal entre uma selfie e outra com turistas, ao chegar ao Palácio da Alvorada, sua residência oficial, por volta das 19h. Indagado se manteria no cargo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) — alvo de ações de busca e apreensão pela Polícia Federal, no dia 19 —, o presidente disse, em tom enfático, que precisa de voto na Casa. "Eu vou conversar com ele ainda. Está fazendo um excelente trabalho para mim lá. E eu preciso de voto no Senado", argumentou.
A seguir os principais trechos da entrevista.
O ex-presidente Lula divulgou uma carta dizendo que não aceita barganha pelo direito à liberdade.
É direito dele ficar preso lá. Quer ficar, fica. Não vou interferir. Não vou tripudiar em cima dele. Foi julgado em segunda instância, terceira... O que o governo dele fez está patente. Esta noite assisti a uma entrevista de um dos delatores. Esqueci o nome dele, cabeça branca... Senhor Barusco? (Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras).
Ele fala em detalhes o que aconteceu no governo dele (do ex-presidente Lula). Não tem como várias pessoas inventarem a mesma história. O cara meteu a mão e entregou a amigos dele. Para quê? Projeto de poder. Não deu certo. Graças a Deus, não deu certo. A gente está tentando fazer aqui o melhor para o Brasil.
O senhor teme que o julgamento desta semana do Supremo Tribunal Federal afete sentenças da Operação Lava Jato?
Não me meto em poder nenhum. Quando você viu um presidente vetar algo sobre lei eleitoral? Eu vetei. Assim como, se o Congresso derrubar veto, não tem problema nenhum. Cada um faz sua parte. Eu quero é harmonia, paz e governar o Brasil. Não quero confusão não. Eu sou Executivo, não sou Legislativo.
A última palavra é deles, do veto. A regra do jogo é essa, não vai mudar. A Bachelet (Michelle, presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU) disse que eu estou diminuindo o espaço democrático. Não há nenhum partido que eu tenha fechado na mão grande, nenhuma manifestação que nós não aceitamos, muito pelo contrário. Tem espaço democrático. Eu tenho total respeito às instituições por si só, à liberdade de imprensa, que o Lula e o PT eram contra. Queriam implantar o socialismo.
O senhor fará uma reforma ministerial?
Zero. Fake news total. Cada vez a mídia mira no Paulo Guedes (ministro da Economia), mira no Moro (Sérgio Moro, ministro da Justiça), mira no Salles (Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente)... Quem é a vítima da vez? Canuto (Gustavo Canuto, ministro do Desenvolvimento Regional), Mandeta (Luiz Henrique Mandeta, ministro da Saúde)? Ninguém quer o ministério da Damares (Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos).
O presidente do Incra será demitido?
O atual presidente do Incra (general João Carlos Jesus Corrêa) é uma boa pessoa, mas, por exemplo, é igual a você ter um excelente jogador de basquete que está jogando vôlei. Não existe. Quem decide é a Tereza Cristina (ministra da Agricultura). Isso foi conversado com ela. Não é pedido meu, porque eu não tenho nada contra ele, muito pelo contrário. Excelente pessoa. Mas existe a possibilidade de ser trocado o presidente do Incra, sim.
E já existe outro nome?
Não sei. Eu não conheço ninguém dessa área. Então eu não apito. Talvez o problema dele - eu conversei com ele uma vez só - seja a história do pato e da galinha: ele faz, mas não comparece. E, no campo político, é desgaste, pressão, tiroteio. Então, a Tereza Cristina está decidindo. E ele vai ter de ser avisado, se for sair. Todos os ministros têm carta-branca para demitir e para vetar nomes. É menos problema para mim. Eu não quero dor de cabeça.
E o senhor já decidiu o que fazer com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra?
Eu vou conversar com ele ainda. Está fazendo um excelente trabalho para mim lá. E eu preciso de voto no Senado.
Esse atraso na votação da reforma da Previdência preocupa?
Eu gostaria que (a proposta) fosse aprovada logo, não é? Mas eu não posso apressar quem quer que seja. Está (marcada) para esta semana.
Mas há a possibilidade de o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, deixar para a próxima semana...
Se atrasar é (só) mais uma semana. O que acontece, pela primeira vez na história do Brasil, é que os Poderes estão independentes.